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Gabriel Karpat

Crise hídrica

Situação da água mostrou falta de planejamento de condomínios e governantes

17/03/15 08:50 - Atualizado há 9 anos
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Por Gabriel Karpat*

A grave crise hídrica vivida nos últimos tempos deve provocar uma reflexão geral sobre como lidamos com o tema. Nesse sentido, se, por um lado, o poder público foi incapaz de solucionar o enorme problema da falta de água em São Paulo, por outro, os condomínios também revelaram um despreparo na condução do processo de minimizar seus efeitos.
 
No município de São Paulo, esse despreparo tem um agravante. Quase a metade da população habita ou trabalha em edifícios. Ou seja, todas essas pessoas têm relação direta com as consequências da escassez e com as falhas de gestão do condomínio. Sofrerão com a possibilidade iminente da implementação do racionamento num futuro bem próximo, caso a crise hídrica se mantenha.
 
O cenário atual nos obriga a tirar alguns ensinamentos essenciais para o futuro.
 
A falta de previsão ou inércia na tomada de solução por parte de muitos responsáveis pela gestão dos edifícios se assemelha com a expectativa dos governantes com a possibilidade de chuvas torrenciais que milagrosamente “solucionariam o problema”. A ausência de planejamento e de investimento em infraestrutura se faz notar com os equipamentos de muitos condomínios, que de tão velhos tornaram-se obsoletos ou incapazes de produzir o serviço para o qual haviam sido idealizados.
 
A falta de investimento adequada em infraestrutura nos condomínios é grave erro, o que compromete e reduz a Vida Útil Programada (VUP) dos bens, definida pelos seus respectivos fabricantes.
 
Além de cuidar e investir nos equipamentos, conhecer as normas também auxilia o trabalho de gestão condominial em tempos de crise hídrica. Levando-se em conta que, em média, as caixas d’água terão capacidade de suportar de três a quatro dias sem abastecimento, o armazenamento individual segue normas da ABNT (16.280/14, que trata das reformas nas edificações), uma vez que o armazenamento de água em tambores ou similares nas unidades, especialmente nas sacadas, deve ser precedido de uma análise na estrutura para avaliar se o peso extra pode ser suportado.
 
O armazenamento de água, aliás, deve ser feito com extremo cuidado, de modo a evitar impurezas e possíveis riscos de doenças vindas com a forma inadequada de sua captação. Também é preciso atenção na vedação e limpeza dessas caixas armazenadoras, evitando que as mesmas se tornem um indesejado criadouro de dengue.
 
Tais medidas são exemplo de ações rápidas e práticas que, junto com programas educativos de redução de consumo, podem ajudar a diminuir as consequências da crise hídrica nos condomínios. Soluções mais amplas e de melhor resultado, por sua vez, não são de curto prazo e envolvem investimentos e, portanto, novamente resvalam em planejamento. As possibilidades de reuso da água, poços artesianos, captação de água de chuva, individualização na leitura, entre outras medidas, dependem de cálculos e estudos a serem devidamente realizados e passados para aprovação em assembleia condominial.
 
Enquanto as represas que abastecem a cidade não alcançam níveis melhores, gestores condominiais e condôminos também precisam agir. Inclusive em caso de racionamento que, conforme veiculado na imprensa, só se viabilizará em termos coletivos, com a elaboração de programas de racionamento na distribuição interna e com horários específicos para abertura e fechamento na distribuição para as unidades, ato a ser igualmente aprovado em assembleia geral. Isso até chegar ao caso extremo de necessidade de contratação periódica de caminhão pipa para abastecimento de água potável nos edifícios.
 
A crise hídrica é, realmente, preocupante. E, nesse caso, aguardar não é o mais indicado. A solução é planejar. Caso a situação hídrica melhore e eventualmente não venha o racionamento, o investimento feito se justificará com a redução nas próximas contas. Terá sido uma excelente opção de economia nas despesas condominiais.
 
* Gabriel Karpat é diretor da GK Administração de Bens e coordenador do curso de síndicos profissionais da Gabor RH

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