PM vai capacitar porteiros para coibir assaltos em condomínios
Policiais da 13ª CIMP (Pituba) irão para Pernambuco, onde serão capacitados a treinar agentes de portaria indicados na reunião do Conselho Comunitário de Segurança da Pituba
Seu Zé é um porteiro prestativo. Um estranho faz um sinal para cima, cumprimentando um morador, e ele logo abre o portão. Educado, dá informações sobre a vida dos condôminos a desconhecidos. Para agilizar o trabalho, basta alguém chegar com crachá no peito e ele libera a entrada. Seu Zé talvez não saiba, mas o prédio onde ele trabalha tem uma grande probabilidade de ser assaltado. E por culpa dele.
É que comportamentos como o de Zé facilitam muito a ação de quadrilhas, como as que promoveram uma onda de assaltos recente em Salvador. Por isso, a partir de agora, alguns porteiros vão ter que entender o bê-á-bá da polícia para evitar a ação de bandidos. Cerca de 50 deles serão treinados pela Polícia Militar com o objetivo de diminuir os arrastões em apartamentos.
Segundo o major Luís Paraíso, comandante da 13ª CIMP (Pituba), o treinamento vai ser baseado no programa De Olho Vivo, criado pela polícia pernambucana e que reduziu o número de assaltos a edifícios no Recife. Policiais da unidade irão para Pernambuco, onde serão capacitados a treinar agentes de portaria indicados na reunião do Conselho Comunitário de Segurança da Pituba.
“Serão normas de segurança de como eles devem proceder com visitantes, pessoas estranhas e até com os moradores”, diz o major.
Enquanto não ocorre o treinamento, uma cartilha foi confeccionada com algumas dicas e vai ser distribuída aos porteiros. “A cartilha será levada para uma reunião hoje (ontem) à noite para a aprovação do conselho. Aprovada, será repassada para os porteiros”, explicou o major.
O major insiste que a onda de assaltos recente contou com falhas dos porteiros, como o roubo ao Edifício Ilha do Caribe, ocorrido no início deste mês, no Parque Júlio César, em que o porteiro não percebeu quando os bandidos tiveram acesso ao prédio pela garagem. “A intenção é que estes profissionais fiquem mais atentos e acionem a polícia”, afirmou o major.
A ideia é apertar o cerco contra os assaltos aos edifícios. De acordo com o Nilton Tormes, da 16ª DT (Pituba), existe o projeto de se criar uma rede integrada entre os porteiros, onde todos ficariam de olho nos prédios vizinhos e se comunicariam através de rádios ou celulares. Mais um item inspirado no projeto De Olho Vivo. “Os porteiros sabem quem são os moradores e ficariam atentos à movimentação nas ruas. Juntos, eles formarão uma rede que estará em comunicação constante entre si e com a polícia”, disse o delegado.
Ressalvas
Há 15 anos como porteiro do edifício Ilha do Caribe, o porteiro Carlos Alberto de Jesus, 32, disse que o treinamento é necessário, mas fez ressalvas. “Estaremos mais aptos a lidar com determinadas situações, mas acredito que isso será só no início. Depois, muita gente não vai levar nada a sério”, opinou. Ele disse que, no caso do prédio em que trabalha, os assaltantes entraram pela garagem e foram até a portaria, onde renderam o outro porteiro.
Em seguida, eles surpreenderam um casal que entrava no elevador e foram até o apartamento da família. Lá, amarraram o casal no banheiro, enquanto saqueavam o apartamento. Levaram notebooks, celulares e outros objetos de valor, além de terem entrado em outros apartamentos.
“Existe o projeto de colocar câmeras e os moradores foram orientados a só deixar a garagem após o portão ser fechado, formando uma espécie de barreira”, revelou.
Na Rua Amazonas, o porteiro do edifício Mar do Caribe, Antônio Cerqueira, 45, disse que faz regularmente um curso de segurança pago pelo condomínio, mas aprovou a iniciativa. “Toda a forma de conhecimento é válida. Quanto mais capacitado, melhor”. Ele disse que a comunicação entre os porteiros poderia ter evitado o recente assalto no prédio vizinho Vilas dos Coqueiros. “Foi há um mês. Se o treinamento fosse dado antes, um outro porteiro poderia ter visto a movimentação estranha”, conta.
O porteiro do Vilas dos Coqueiros, que se identificou como Nilson, disse que um morador saiu e deixou o portão aberto. Os ladrões invadiram um apartamento e levaram pertences dos moradores. Ele admite a falta de comunicação entre os colegas. “Isso não é uma prática e nós não tínhamos como nos comunicar”, diz Nilson, que trabalha numa guarita que não propicia a visualização dos prédios nas laterais e não faz uso de rádio.
Encomenda
Ainda na Rua Amazonas, em outubro do ano passado, uma quadrilha tentou roubar os moradores do edifício Mar Báltico. Na ocasião, um grupo de criminosos contou com uma mulher para enganar o porteiro, alegando que tinha uma encomenda para um morador. Ao abrir o portão, o funcionário foi rendido por mais dois homens.
Os criminosos foram até o apartamento do suposto morador, que, desconfiado, acionou a polícia. O porteiro Nei Pereira, 45, que trabalha há oito anos no prédio, disse que os moradores vão colocar uma espécie de antissala gradeada entre o portão principal e a escadaria que dá acesso ao saguão. “Quem passar do primeiro portão ficará retido até que seja liberado”, conta o funcionário.
Curso aposta em agilidade na comunicação com a polícia
A capacitação através do Curso Básico de Segurança Condominial e Patrimonial, realizado há nove anos pela Polícia Militar do Recife, tem duração de três dias e abrange assuntos como primeiros socorros e a utilização de rádios. As instruções partem de policiais militares, civis e bombeiros.
O programa De Olho Vivo, executado pela Secretaria de Defesa Social (SDS) junto com o Sindicato de Habilitação de Pernambuco (Secovi), tem principalmente agilizado a comunicação dos agentes de portaria com a polícia, inibindo a ocorrência de assaltos e furtos. Em Pernambuco, começou nos bairros de Candeias e Piedade.
Hoje, atinge bairros da Região Metropolitana, além das cidades de Gravatá, Caruaru, Petrolina e a praia de Porto de Galinhas. O projeto também já foi adotado em Minas Gerias. Depois da implantação da rede de radiocomunicação, os porteiros passaram por um curso de mais de 15 horas/aula.
Assaltante preso revelou como entrava nos prédios
“Eu observava o prédio durante duas semanas para ver a hora que os moradores entravam e saíam. Usava crachá de empresa para enganar os porteiros e entrar mais fácil”. Assim, revelando com detalhes sua maneira de agir, o assaltante Adson Santos de Jesus, 37 anos, foi preso pela polícia acusado de orquestrar assaltos a condomínios em quatro bairros: Graça, Ondina, Rio Vermelho e Costa Azul.
Os crimes foram realizados nas últimas semanas. Adson estava foragido da Colônia Penal de Simões Filho após ser beneficiado com um indulto de Dia dos Pais. O irmão dele, Ednei de Jesus, é acusado de participar dos assaltos e ainda está sendo procurado.
As câmeras de segurança na entrada e porteiros treinados não intimidaram Adson a colocar o Residencial Alto do Iguatemi na sua lista de prédios invadidos. Ele sondou o edifício oferecendo o serviço de jardinagem. Os porteiros não permitiram a entrada e ficaram alerta. Dias depois, Adson foi preso.
No dia 8 deste mês, uma quadrilha acusada de invadir prédios e condomínios de Salvador foi desarticulada. O bando era formado por três homens, três mulheres e dois adolescentes. O grupo teria sido responsável por assaltos nos edifícios Cláudia, na Federação; Brisa do Mar, em Ondina; e Jardim Atlântida, no Costa Azul, todos em dezembro.
Fonte: http://www.ibahia.com
Matérias recomendadas