Curto-circuito na BA
Médico morre ao cair de prédio para fugir de incêndio
Médico que morreu ao cair de prédio para fugir de incêndio na BA estaria de plantão na noite do acidente: 'Triste coincidência'
Bruno Raphael Bastos Coelho tinha 32 anos e estava prestes a começar o segundo ano de residência em pediatria nas Obras Sociais Irmã Dulce
O médico que morreu ao cair do terceiro andar de um prédio ao fugir de um incêndio na Barra, estaria de plantão na noite em que ocorreu o acidente no edifício onde ele morava. A informação é da coordenadora da residência pediátrica do hospital das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) onde ele atuava.
Célia Silvany revelou que ele foi liberado por causa da morte de um paciente. Segundo ela, Bruno Raphael Bastos Coelho estava abalado com o falecimento de uma criança e não tinha condições para dar expediente.
"Ele estaria de plantão na noite em que morreu. Ele era bastante apegado às crianças e a gente liberou porque ele não tinha condições de ir trabalhar. Foi uma triste coincidência", disse.
Na madrugada desta sexta-feira (11), um apartamento do andar abaixo de onde ele morava pegou fogo e ele caiu ao tentar sair do imóvel para escapar das chamas.
Bruno Raphael tinha 32 anos, era natural do estado de Piauí e estava prestes a iniciar o segundo ano do triênio da residência em pediatria na unidade.
Célia Silvany comentou que na última conversa entre os dois, ocorrida no início de fevereiro, ele disse estar realizado com as conquistas na carreira profissional e também no âmbito pessoal.
“Foi um rapaz que saiu da cidade dele para morar aqui sozinho. Ele passou esse primeiro ano dizendo que venceu todos os obstáculos, todos os medos. Disse que iria entrar no segundo ano muito mais forte e mais feliz”.
O sentimento de perda é partilhado por todos os colegas do piauiense. Em conversa com o g1, companheiros de Bruno Raphael disseram que ele era uma pessoa calma, de voz mansa, e vivia a essência do que Santa Dulce dos Pobres pregava sobre o amor ao próximo.
“A gente está bem abalado para poder falar, mas ele era uma pessoa maravilhosa, de coração muito bom. Sempre disponível para ajudar as pessoas e apaixonado por crianças. Representava muito a OSID e o que Irmã Dulce dizia sobre a caridade. Era um médico apaixonado pelo que fazia”, destacou uma médica, que não quis ser identificada.
Despedidas
As Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) divulgaram uma carta de pesar pela morte do profissional. No texto, a unidade ressaltou as qualidades do médico e salientou que era uma pessoa querida pelos colegas e pacientes e "dono do melhor abraço do mundo".
O Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb) também publicou uma nota e disse que a entidade está consternada com o acidente e morte, além de manifestar solidariedade aos parentes e amigos.
Familiares de Bruno estão a caminho de Salvador para fazer o reconhecimento e o traslado do corpo, para sepultamento que será realizado na cidade natal. Uma missa está prevista para a próxima terça-feira (15), às 8h30, em homenagem ao médico, na capela das Obras Sociais Irmã Dulce.
Acidente
Bruno Raphael morreu depois de cair do terceiro andar de um prédio residencial na Rua Presidente Kennedy, no bairro da Barra, para escapar de um incêndio. As chamas iniciaram por volta das 2h30, no segundo andar, e rapidamente se alastraram para os pavimentos superiores, até terem sido controladas pelo Corpo de Bombeiros.
Segundo testemunhas, Bruno dormia no terceiro andar quando o incêndio atingiu o prédio e não percebeu o surgimento do fogo. Ele foi acordado por vizinhos e, no desespero para escapar, tentou sair do apartamento por uma janela e caiu na área da garagem do edifício.
Um morador, que preferiu não ser identificado, presenciou a ação e disse que ficou em choque com o que viu.
“Os outros moradores começaram a sair e ele, na certa, estava dormindo e não conseguiu. Quando ele saiu, tentou pular de um apartamento para outro, mas não deu. Foi uma coisa muito rápida. Ele pediu socorro, perguntando o que fazer, se desequilibrou e caiu. Foi uma cena muito triste”, comentou o homem.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, outras duas pessoas ficaram feridas. Elas foram levadas para o Hospital Português, que também fica na Barra. Não há informações se elas estavam no imóvel que pegou fogo ou em outros apartamentos, nem detalhes sobre o estado de saúde delas.
O delegado responsável pelas investigações do caso, Pedro Andrade, disse que, por volta das 8h, a família do médico ainda não tinha sido informada do ocorrido.
Segundo ele, o incêndio pode ter começado após um curto-circuito em um aparelho de ar-condicionado, o que será confirmado somente após a perícia. O delegado acrescentou que uma terceira pessoa ficou ferida, a síndica do prédio, que teve um problema no pé durante a correria.
Andrade pontuou que, segundo as apurações iniciais, o médico acordou assustado com o incêndio no andar inferior. Com os gritos dos vizinhos, o barulho e a fumaça que invadiu o imóvel onde ele morava, Bruno tentou sair pela janela, trajando cueca e enrolado em um lençol.
O delegado lamentou a fatalidade e salientou a necessidade de tentar manter o controle emocional em momentos de pânico para não agravar ainda mais situações desse tipo.
“É preciso a todo custo tentar controlar o emocional, procurar o equilíbrio e ver o melhor caminho. Não adianta precipitações. Cada ser humano reage à sua própria maneira. Uns se precipitam, outro são mais cautelosos. Mas é necessário que as pessoas se conscientizem [em situações como essa]”, comentou.
Agentes da Polícia Civil estiveram no local no início desta manhã para fazer a perícia e a remoção do corpo da vítima. A Defesa Civil de Salvador (Codesal) realizou vistoria no apartamento atingido pelo incêndio. Segundo o laudo técnico do órgão, não houve danos na estrutura do prédio. O caso será investigado pela 14ª Delegacia Territorial, no bairro da Barra.
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