De alto padrão
Condomínios de luxo no Rio recebem público AAA para as Olimpíadas
Mansões e coberturas abrigam os endinheirados que vieram curtir os Jogos
Em tempos de ocupação olímpica, um cantinho de privacidade custa caro. À beira-mar ou cercado pela natureza, uma fortuna.
Na casa projetada pelo arquiteto Claudio Bernardes, esconde-se um robusto jardim criado pelo paisagista Roberto Burle Marx, numa área com cerca de 8.000 m².
Em qualquer pedacinho em que se esteja, não dá para ver os vizinhos, muito menos ser visto por eles. Luxuoso e confortável, o imóvel, onde o som mais próximo do estridente é o trinado dos passarinhos cantando, foi alugado por US$ 40 mil (cerca de R$ 130 mil)... a diária.
Toda e qualquer discrição vale a pena: o espaço será morada de um grupo de magnatas árabes, bem no alto do pequenino e nobre bairro do Joá, espécie de divisor de águas entre a zona oeste e a zona sul do Rio, encravado no morro da Joatinga.
A cerca de 10 km dali, uma rua tranquila e arborizada do Jardim Botânico abriga apenas seis casas, mas são "as casas". Sem saída, a área cheira a rosas. Privilegiado por tanta tranquilidade, esse ambiente servirá de abrigo para a versão olímpica da Embaixada do Qatar, país-anfitrião da Copa de 2022.
Entre seus inquilinos está a autoridade máxima do estratégico Estado do Golfo Pérsico: o emir Tamim bin Hamad Al Thani, filho do xeque Hamad bin Khalifa Al Thani, um dos homens mais ricos do mundo, que, em 2013, abdicou do trono de forma inédita no mundo árabe em prol do herdeiro.
Só a mansão principal, pé-direito de 9 metros, sofá de 24 assentos no lobby, sete suítes e um escritório suspenso por cabos de aço, ocupa 7.000 m².
Por questões contratuais, fotos ali dentro estão terminantemente proibidas.
A vista é de um cartão-postal: no alto, o Cristo Redentor de braços abertos, abaixo, o deque de madeira se encontra com a piscina, dando a impressão de que ela vai desaguar bem no verde do Jardim Botânico.
Desde o começo do ano passado, a sondagem por aquele território vem sendo cultivada a sete chaves para garantir que ele se transformasse, por pelo menos um mês, em um pedacinho do Qatar dentro do Rio de Janeiro.
Dois meses atrás, um funcionário da embaixada veio de Brasília para organizar a chegada da comitiva.
Fluente em inglês, português e, é claro, árabe, está hospedado no Copacabana Palace, o clássico hotel do bairro, onde outras 50 pessoas daquele país se juntarão a ele durante os Jogos.
DRINQUES E MIMOS
Leonardo Schneider, 44, vice-presidente do Secovi Rio, afirma que o mercado imobiliário AAA vive um momento de euforia nesta Olimpíada quando comparado ao do Réveillon.
Explica que, depois da Copa do Mundo, há dois anos, quando esse segmento atingiu seu ápice, o número de proprietários colocando casas e coberturas de luxo para alugar aumentou durante a Rio-2016.
A oferta teve impacto direto nos preços, que sofreram uma queda de 20%, se comparado aos praticados durante o Mundial de futebol.
São Conrado/Joá, orla de Leblon/Ipanema e Lagoa compõem o "top 3" dos cenários dos sonhos dos estrangeiros, segundo a Folha apurou, nas duas últimas semanas, com dez imobiliárias de alto padrão.
Nesses ambientes, decorados com peças de design assinado e obras de arte, construções que esbanjam o uso de madeira, favorecendo a harmonia entre concreto e natureza, a locação na temporada olímpica pode chegar a R$ 2 milhões.
Todo o processo de aluguel e ocupação é mantido sob sigilo absoluto. Quem aluga ou alugou não fala sobre o assunto por razões, óbvias, de segurança. Chefes de Estados, delegações, federações e CEOs de patrocinadores engrossam a lista de locatários VIPs durante o evento.
Executivos de marcas como Adidas, Nike e Apple também fazem parte da seleta clientela. A grandiosidade e o luxo dos imóveis servem ainda de cenários para campanhas de marketing da Rio-2016, com atletas posando diante de vistas deslumbrantes da cidade maravilhosa.
A colombiana Juliana Guzman e o francês Arnaud Bughon são donos da Rio Exclusive, uma das maiores empresas do setor.
Seu "staff" não é tão plural quanto o da Vila Olímpica, mas possui uma equipe com 150 pessoas de 16 nacionalidades, profissionais que, nas palavras de Juliana, "possuem experiência internacional e vivenciaram o luxo".
Outro pré-requisito: disponibilidade para trabalhar 24 horas por dia. É comum atender a pedidos como troca de lençóis, no meio da noite, ou ir para cozinha para preparar uma lagosta à thermidor durante a madrugada.
O aluguel envolve um pacote de mimos com direito a seis profissionais, todos bilíngues, entre eles um chef, um assistente de cozinha, uma anfitriã (governanta moderna), um funcionário de limpeza, outro de manutenção e um "poolboy", especialista em drinques.
Seguranças particulares, fisioterapeutas, personal trainers e até mesmo maquiadores, fluentes em inglês, no mínimo, podem ser incluídos, mediante pagamento à parte, é claro.
Só da Rússia, a Rio Exclusive está cuidando de cem pessoas, entre profissionais de federação, delegação e comitê. Do cardápio a pacotes de passeios pelo Rio, tudo é traduzido para aquele idioma. Até uma designer gráfica foi contratada para elaborar projetos na língua de Vladimir Putin -este não deve dar as caras por aqui.
Antes da ocupação estrangeira, um esquema de vistoria entra em ação.
Uma empresa é contratada para fotografar o imóvel e tudo o que há dentro dele.
Outra retira objetos pessoais, que são encaixotados e armazenados num depósito. Pós-faxina geral, arquitetos e engenheiros realizam um "check-up", antes de o novo inquilino ali se instalar.
Somente essa operação, orçada em R$ 100 mil, explica Juliana, pode levar de quatro a seis dias.
Diante de tanto esmero e tamanho investimento, esses hóspedes-ilustres, com toda a certeza que o dinheiro pode comprar, esperam não se deparar com goteiras nem ralos entupidos.
Fonte: http://www.secovirio.com.br/