Desabamento em São Paulo
Prédio da União era tombado desde 1992
Moradores de ocupação pagavam R$ 400 de aluguel em prédio que desabou em SP
Dinheiro era usado para pagar despesas e até porteiro.
Moradores do prédio que desabou após incêndio no Largo do Paissandu, no Centro de São Paulo, disseram ao SP1 que pagavam um aluguel de até R$ 400 para morar no edifício ocupado. O dinheiro era usado para pagar as despesas do prédio que tinha até porteiro.
O moradores disseram que o prédio era organizado, tinha carteirinha de identificação usada para controlar o pagamento mensal.
“Todo mundo pagava aluguel, ninguém morava de graça. Eu pagava R$ 400 reais”, disse a moradora Fabio Rodrigues da Silva.
O edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou em incêndio de grandes proporções no Centro de São Paulo na madrugada desta terça-feira (dia 1º), havia sido tombado em 1992 por ser considerado "bem de interesse histórico, arquitetônico e paisagístico", o que garantia "a preservação de suas características externas".
Projetado em 1961 pelo arquiteto Roger Zmekhol seguindo a escola modernista, tinha 24 andares e ficava na região do Largo do Paissandu. Desde setembro de 2002, pertencia à União.
Ele chegou a abrigar a sede do INSS e da Polícia Federal. Em 11 de fevereiro de 2015, foi lançado um edital para venda do prédio. O valor calculado era de mais de R$ 20 milhões.
Atualmente, estava ocupado irregularmente no local. Em nota, a prefeitura de São Paulo informou que, até o momento, foram cadastradas 248 pessoas de 92 famílias.
Solidariedade
Muitos moradores conseguiram deixar o prédio com alguns pertences e foram para uma praça próxima ao local do incêndio. “Minha vida estava lá dentro, não deu pra tirar documento, nada. Eu simplesmente vi minha vida desmoronando”, disse Francisca da Silva, moradora.
O gari José Antonio da Silva, disse que perdeu tudo no incêndio.
“Perdi TV, bicicleta, roupa, perdi muitas coisas de objeto. Mas graças a Deus não perdia vida dos meus filhos, que pra mim é o mais importante.
O morador Gerivaldo Bueno Araújo disse que foi um dos últimos a siar do prédio antes dele desabar. “Quando eu sai o fogo tava todo alastrado, fogo começou bem no meio do prédio. Gente correndo pra la, pra ca. Aí eu peguei, procurando meus documentos, aí chamei meus filhos pra tentar levar os móveis, carregar os móveis pra fora, porque a gente que é pobre é muito difícil conseguir alguma coisa. Quando consegue, perde tudo.Eu vinha com aT V num braço e a botija no outro.
Na manhã desta terça-feira, muitas pessoas foram levar água, comida e roupas para os moradores desabrigados.
Em oito segundos, prédio desaba e leva moradores ao desespero
Em nota, a Secretaria de Habitação disse que realizou seis reuniões com as lideranças da ocupação, entre fevereiro e abril, para esclarecer a necessidade de desocupação do prédio, por conta do risco e da ação judicial.
"No dia 10 de março, a secretaria cadastrou cerca de 150 famílias, com 400 pessoas, ocupantes do prédio. Desse total, 25% são famílias estrangeiras. Esse cadastro foi realizado para identificar a quantidade de famílias, o grau de vulnerabilidade social e a necessidade de encaminhamento das famílias à rede socioassistencial", diz a nota.
"A Prefeitura de São Paulo estima em cerca de 70 prédios ocupados na região central com aproximadamente 4 mil famílias. Trata-se de uma estimativa uma vez que em sua maioria são prédios particulares. Nestes casos, cabe ao proprietário ações junto à justiça e às lideranças da ocupação."
A Secretaria Municipal de Habitação criou em 2017 um Núcleo de Mediação de Conflitos que monitora 206 ocupações em toda a cidade com cerca de 46 mil famílias. Desse total, 25% da atuação do grupo ocorre em ocupações na região central, com 3.500 famílias. Para essas ocupações, o grupo atua no sentido de buscar uma solução conciliada com a desocupação voluntária e sem confronto."
Fonte: g1.globo.com