Desabamento no centro de SP
Vizinhos do prédio convivem com o medo há sete meses
Vizinhos relatam medo sete meses após desabamento de prédio em São Paulo
Três prédios foram interditados na capital paulista no último mês e outros 27 aguardam análise da Prefeitura
Em um tapume de dois metros que cerca toda o cruzamento da avenida Rio Branco com a rua Antônia de Godói, no centro, foram colocadas sequências de fotos de Selma Almeida da Silva e de seus filhos gêmeos Wender e Welder. As imagens prestam uma homenagem a família que morava ali, mas foi engolida pelos destroços do edifício Wilton Paes de Almeida, cujo desabamento completa sete meses amanhã (1).
Mais quatro pessoas não conseguiram sair do prédio de 24 andares durante aquela madrugada. Todos viviam na ocupação, que chegou a ser vistoriada pela Prefeitura um mês antes da tragédia, mas não sofreu intervenções. O edifício pertencia à União.
De longe, o movimento do Largo do Paissandu parece ter voltado ao que era antes da tragédia. Pedestres caminham apressados, desviando de pessoas em situação de rua que pedem ajuda para comer, enquanto alguns donos do comércio fumam na calçada e se misturam aos taxistas e frequentadores da Galeria do Rock.
Nas conversas, porém, o desmoronamento é pauta diária entre eles.
"Todo dia vem um cliente aqui e pergunta sobre o prédio. Eu respondo que o problema não é o que aconteceu, mas o que pode acontecer. Aqui está cheio de prédio caindo aos pedaços", diz o vendedor de uma das lojas da rua.
No início do mês, a Prefeitura realizou vistoria em 51 edifícios usados como ocupação e interditou três por risco de desmoronamento. Outros 27 apresentaram situação crítica. Desde agosto, um grupo de trabalho municipal dialoga com os sem-teto em busca de solução para a desocupação.
"Chegaram tarde demais e ficaram tarde de menos. Agora é rezar até a próxima tragédia", diz o dono de banca do largo.
Fé em Deus
A Igreja Luterana Martin Luther foi parcialmente destruída após o desmoronamento do edifício Wilton Paes de Almeida. Sete meses depois, a comunidade ainda não começou a reconstrução do templo.
Toda a lateral e parte da cobertura da igreja foram destruídas e ela é escorada por alicerces de metal instalados pelos Bombeiros.
A obra foi orçada em mais de quatro milhões de reais. Até agora, o grupo conseguiu doação de 300 mil reais, que foram utilizados para refazer toda a rede de água, luz, esgoto e gás, além das rampas de acesso e dos portões de segurança da casa administrativa da Igreja.
O trabalho de restauração propriamente dito deve começar nas próximas semanas, após a aprovação do projeto pelos órgãos reguladores.
Mesmo após a poeira baixar e a periodicidade dos cultos ter sido retomada no dia oito de julho, o pastor Frederico Carlos Ludwig afirma sentir tristeza pelo que afirma ser "uma tragédia que aconteceu por causa do descaso dos governantes".
"É um descaso com a vida, com a sociedade, no fundo não estão nem aí. Dos órgão públicos, não recebemos nenhum telefonema sequer, nem um "sentimos muito". Um completo descaso", lamenta o pastor.
Em nota, a Prefeitura afirma que hoje, 291 famílias vitimas do desabamento do Wilton Paes de Almeida recebem auxílio-moradia e têm o compromisso de atendimento definitivo
"A Prefeitura de São Paulo vai pagar o benefício - primeiro ano com recursos do Governo do Estado e, depois, com verba dos cofres municipais - e atender com habitação aquelas que, comprovadamente, estavam na ocupação, respeitando a fila existente na cidade (28 mil famílias estão recebendo auxílio e aguardando moradia)", diz o comunicado.
Sobre os prédios com risco de desabar, a prefeitura afirma que dos 51 ocupados que visitou, 35 são prédios particulares e, nesse caso, embora o Município não possa intervir diretamente, busca solução para diminuição dos riscos junto aos proprietários e famílias. Para o restante das ocupações (16), consideradas públicas, em 11 delas o município tem proposta de intervenção para transformá-las em moradia popular ou equipamento público.
Fonte: https://www.destakjornal.com.br