"Sentimento de descaso"
DF: Construtora é acusada de aplicar golpe com prédio irregular
Polícia investiga construtora que não entregou apartamentos vendidos no DF; vítimas dizem ter perdido até R$ 800 mil
Apartamento, em Vicente Pires, custavam entre R$ 99 mil e R$ 400 mil, segundo vítimas. Engenheiro responsável diz que não trabalha mais na construtora; g1 tenta contato com empresa.
Cerca de 50 pessoas denunciam um golpe envolvendo a construção irregular de um prédio em Vicente Pires, no Distrito Federal. Os apartamentos custavam entre R$ 99 mil e R$ 400 mil, e as vítimas alegam ter gastado até R$ 800 mil com o empreendimento (veja detalhes abaixo).
O Residencial Safira, com seis andares e cobertura, é uma obra da RMVF Construtora e Incorporadora e começou a ser construído em 2016. No entanto, no local — Rua 4 da Colônia Agrícola Samambaia — não há previsão legal para esse tipo de construção. O caso é investigado pela Polícia Civil.
Na placa da obra, o engenheiro responsável é Acis Carlindo Dolci Junior. Ao ser procurado, ele disse que já não presta mais serviços para a construtora RMVF. O g1 tenta contato com a construtora.
De acordo com o DF Legal, a construção foi embargada em 2019 após denúncias feitas por meio da Ouvidoria. No ano passado, uma força-tarefa esteve por duas vezes no prédio — em julho e em setembro — e verificou que não havia movimentação na construção.
A construção de prédios como esse são ilegais em Vicente Pires. No ano passado, a Vara do Meio Ambiente mandou o GDF demolir todos os prédios com mais de três andares, no que chamou de "grilagem vertical". A decisão foi derrubada, mas a proibição das obras continua.
Compradores enganados
Segundo as vítimas, os preços dos apartamentos do Residencial Safira eram bem abaixo do mercado, com unidades vendidas a partir de R$ 99 mil. Em vários contratos, a previsão de conclusão das obras era julho de 2021.
De acordo com os compradores, os imóveis foram negociados com Raimundo Viana, que é vereador em Monte Alegre do Piauí (PI). O g1 tenta contato com Viana.
A professora Ana Júlia Ferreira Paiva, de 28 anos, pagou R$ 130 mil à vista por um apartamento e esperava se mudar em 2022.
"Quando vimos que o proprietário era um político, pensamos que era uma pessoa de mais confiança, que por ser uma pessoa pública seria muito mais difícil dessa pessoa aplicar um golpe", afirma a professora.
Nesta semana, o funcionário público Wilson Pequina e o empresário Erick Feitosa descobriram que compraram o mesmo apartamento, no segundo andar do prédio.
"É um sentimento de descaso, né? A pessoa está falando sempre com a gente, ligando, cobrando as prestações mensais. Eu estou pagando por um apartamento que outra pessoa também está pagando, e que corre o risco de nem ficar pronto", diz Wilson.
Já Erick conta que precisou vender um outro imóvel para fazer a compra. "É um sonho que está em jogo. Eu vendi um lote que eu tinha para dar de entrada aqui. Depois fiquei sabendo que a obra não estava pronta e, agora, que foi vendido para duas pessoas o [mesmo] apartamento", afirma o empresário.
O publicitário Junio Torres também ficou no prejuízo com o esquema. À TV Globo, ele disse que comprou três apartamentos, pelo valor de R$ 800 mil.
Fonte: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2024/03/08/policia-investiga-construtora-que-nao-entregou-apartamentos-vendidos-no-df-vitimas-dizem-ter-perdido-ate-r-800-mil.ghtml