Condomínios devem reciclar, mas falta estrutura
Moradores alegam que já separam, mas cooperativas não têm estrutura para retirar tanto material
Daniela Jacinto
Neste mês de junho, a Prefeitura de Sorocaba inicia a fiscalização de condomínios residenciais, comerciais e industriais, para verificar se estão cumprindo com a lei municipal em vigor desde 2010 e que torna obrigatória nesses locais a coleta seletiva de lixo. Se o material não for separado, o condomínio pagará multa, que começa com R$ 500 e aumenta, se houver reincidência. Atualmente, a fase é de adaptação, mas a iniciativa da Prefeitura tocou num ponto delicado: a falta de estrutura das cooperativas de reciclagem para atender a demanda. Em um condomínio na Vila Santana, por exemplo, já se acumulam dois contêineres cheios de recicláveis. A síndica obteve como resposta dos próprios catadores que não há caminhões o suficiente para recolher o material de todos.
José Augusto Rodrigues de Moraes, presidente da Cooperativa de Reciclagem de Sorocaba (Coreso), uma das quatro cadastradas na Prefeitura para realizar a coleta, afirma que a iniciativa do Poder Público é excelente e que irá ajudar muito os catadores, porém, seria necessário ter mais caminhão e espaço físico para abrigar o material reciclável.
"O que mais falta neste momento é estrutura. Temos uns 38 condomínios nos procurando para fazer a coleta e a gente já disse que não consegue fazer tudo", lamenta.
O presidente da Coreso afirma que a cooperativa ganhou um espaço do Sindicato dos Metalúrgicos, no Parque Vitória Régia, e agora apenas precisa que a Prefeitura envie mão de obra para levantar um galpão ali no terreno. "Ali na região tem muita gente pra trabalhar. Se a Prefeitura ajudar, com certeza a gente vai conseguir dar conta de atender a todos os condomínios." Atualmente, dos 524 condomínios de Sorocaba, 126 já se cadastraram na Prefeitura para a coleta. Desse total, 34 já faziam por conta. As cooperativas recolhem, em média, 400 toneladas por mês de materiais recicláveis. Número que deve aumentar consideravelmente a partir de agora. Além da Coreso, as cooperativas de reciclagem que têm parceria com a Prefeitura são a Catares, a Ecoeso e a Reviver.
Lixo acumulado
Rita Martins Basso Nunes da Silva, síndica de um condomínio na Vila Santana, afirma que os moradores do prédio já separavam o material reciclável antes mesmo da lei. "A gente colocava em sacolinhas no latão. Depois uns catadores começaram a deixar um saco específico para colocarmos o material reciclável", conta. Quando o jornal Cruzeiro do Sul publicou reportagem sobre a fiscalização, Rita imediatamente cadastrou o condomínio e publicou no quadro de avisos uma explicação aos moradores, que agora estão separando os recicláveis em contêineres. "É possível constatar que a gente produz mais material reciclável que lixo comum", observa.
O problema é que a cooperativa ficou de passar na quarta-feira passada, mas isso acabou não acontecendo. "Liguei lá e eles alegaram que estão atendendo muitos condomínios, e agora estamos com dois contêineres cheios". Moradora do condomínio há cinco anos, Roseane Maria Silva de Souza critica a Prefeitura.
"Considero importante a reciclagem, mas se querem fazer valer a lei, deveriam fazer algo mais organizado. Separar o material muita gente já faz, mas a coleta não vem e isso vai desmotivando as pessoas. Nossa parte a gente faz, mas e a continuidade disso?", cobra.
De acordo com a Prefeitura, a lei cita a responsabilidade dos condomínios em separar os resíduos e dar destinação; porém, não os obriga a recolher o material. Logo, o condomínio não será multado se a cooperativa não fizer a coleta. O condomínio não precisa necessariamente entregar o material separado para as cooperativas, tendo a liberdade de comercializar o material ou destinar a um catador autônomo. A Prefeitura prioriza a entrega às cooperativas, pois os seus integrantes participam de um programa que prevê a atenção à humanização do trabalho e a garantia de direitos básicos de todo o trabalhador.
Ainda conforme a assessoria de imprensa da Prefeitura, as cooperativas de reciclagem estão sendo estruturadas para poder atender a demanda, sendo que o poder público está investindo em caminhões e espaços. "Vários condomínios já foram cadastrados e, em breve, será feito contato com eles para o início da organização da logística."
Projetos
O presidente da Coreso, José Augusto, conta que em breve estará funcionando uma máquina de triturar plástico, que garantirá mais agilidade ao trabalho, pois o material reciclado deixará de ocupar espaço para aguardar oportunidade de revenda, já que será imediatamente derretido e transformado em tubulação para cano de esgoto. Essa iniciativa garante melhor renda aos catadores, que passaram por um período muito difícil, quando na época de crise caiu muito o preço de compra do material e muitas indústrias recusaram-se inclusive a receber papel. "Não queriam nem de graça", lembra José Augusto.
Também o papel terá outra destinação, que não a revenda, desvantajosa para os trabalhadores. A partir da próxima semana uma equipe será treinada para produzir folha sulfite, agenda e convites. "Nosso objetivo é produzir o produto final, que agrega bem mais valor e todo mundo acaba ganhando, especialmente nós, que vivemos disso". José Augusto conta que alguns empresários se dispuseram a colocar os produtos no mercado. Agora, os catadores pretendem realizar mais um sonho, o de ter uma fábrica de biodiesel. "Esse talvez demore um pouco, mas vamos fazer", afirma.
Fonte: http://portal.cruzeirodosul.inf.br
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