Discordando do síndico
Anonimato não é o melhor caminho para quem busca melhorias na gestão do condomínio
Reclamar e discordar do trabalho do síndico é um direito de todo morador em busca de uma gestão eficiente e transparente que atenda aos anseios da maioria. Qualquer síndico, seja voluntário ou profissional, deve estar aberto a críticas, sem melindres.
Infelizmente, nota-se uma explosão de desavenças e litígios entre síndicos e grupos de moradores —do tipo situação versus oposição. Uma verdadeira baixaria, que acirra os ânimos e contribui para um ambiente de guerra, incompatível com o sossego esperado para o lar.
Alguns síndicos pouco democráticos, que se perpetuam no cargo, contribuem para tal cenário. Porém, na maioria dos casos, as desavenças nascem de fofocas, ilações e interesses individuais.
Muitas vezes, uma simples conversa com o síndico seria suficiente para esclarecer as coisas.
Em vez de formalizar uma reclamação e aguardar o retorno, muitos moradores escolhem a covardia do anonimato. Assim, sem qualquer identificação, colocam cartinhas embaixo das portas, incitando os vizinhos com acusações sérias e levianas.
Curioso que os anônimos, em pequenos grupos e no afã de conquistar mais apoio, usam alcunhas de salvadores da pátria, tais como “comissão pela transparência” ou “moradores pela moralização”.
Os comunicados anônimos são reforçados por páginas e grupos em redes sociais, ambiente perfeito para “haters”, que amam odiar, por vezes ferindo a honra de um vizinho por causa de mera discordância acerca do modelo de gestão aplicado no condomínio.
Felizmente, há belas e recentes decisões judiciais repudiando tal prática, condenando seus autores ao pagamento de indenizações. Nos casos mais sérios, há até condenações na esfera penal, por calúnia e difamação.
Aos síndicos, recomendo que disponibilizem todas as ferramentas para que os moradores possam opinar, criticar e sugerir, sempre em ambiente oficial e discreto.
É importante manter o velho livro de ocorrências e um canal direto de “fale com o síndico”, dar plantões periódicos para esclarecimento de dúvidas, fazer comunicados constantes aos moradores e, principalmente, realizar várias assembleias ao longo do ano.
Aos moradores insatisfeitos, recomendo que jamais utilizem o anonimato e, com educação e coerência, formalizem todas as críticas e sugestões, dando oportunidade de resposta.
Busquem diálogo com o síndico, administradora e conselheiros, ofereçam ajuda e participem das assembleias, ambiente oficial para deliberações importantes, até mesmo para destituição de um síndico que não trabalha bem. Cooperação é a palavra de ordem.
Márcio Rachkorsky é advogado e membro da Comissão de Direito Urbanístico da OAB-SP.