Edifício Holiday
Evacuado em março, prédio em Recife segue com problemas
Retirada de tapumes de proteção expõe problemas do Edifício Holiday, em Boa Viagem
Prédio, que fica na Zona Sul do Recife, foi construído em 1956 e, em março de 2019, teve os mais de três mil moradores retirados após decisão judicial
Desocupado por determinação judicial desde março de 2019, o Edifício Holiday, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, acumula mais problemas.
Além dos riscos estruturais e de incêndio que provocaram a retirada dos cerca de três mil moradores, o prédio está desprotegido. Os tapumes colocados no entorno do imóvel foram retirados, expondo um cenário de degradação e sujeira.
Construído em 1956, o edifício tem 476 apartamentos. As tábuas de madeira foram instaladas após a desocupação total do prédio. A ideia era evitar invasões e tentar proteger o pouco que restou do patrimônio do condomínio.
Moradores da área informaram que os tapumes "estão sendo levados aos poucos". A falta das madeiras de proteção revelou outros problemas que vêm se acumulando ao longo dos meses.
É possível observar estruturas comprometidas pela ferrugem, lixo, sujeira e água empoçada. Tudo isso, além de tornar ainda mais distante o sonho de retorno dos moradores do local, representa grande risco à saúde a quem vive ou passa pela área.
Victor Santos, que mora na vizinhança, afirma que a sensação é de total abandono e insegurança. "Nesse período de pandemia, o Holiday virou a casa de moradores de rua. Muita gente usa o prédio para usar drogas e até como lixão. Tem muito barulho à noite", declarou.
O vendedor ambulante Edmar José de Oliveira morava no apartamento número 104 do Holiday e lamentou que, atualmente, a situação do edifício fique pior a cada dia.
"Aqui era muito bom, tinha quadra de futebol, de basquete. Não tinha piscina, mas tinha brinquedo para as crianças e tinha a praia perto. Foi muito chato que a prefeitura disse que ia distribuir cestas básicas, cadastrar as pessoas, mas o negócio era outro. Expulsaram a gente. O pessoal está entrando, dormindo, usando drogas", declarou.
Segundo ele, pessoas que invadiram um terreno na região foram até o prédio e arrancaram os tapumes. "A gente não pode fazer nada", declarou.
Para quem conhece o prédio há muitos anos, o cenário é desolador. As coisas boas ficaram só na lembrança.
O aposentado Edgar Izidoro frequenta a Praia de Boa Viagem desde a década de 1970 e, sempre que passava pelo local, se impressionava com a grandiosidade do Edifício Holiday, construído em 1956.
"Admiro muito esse prédio. Eu era criança e vinha para a praia com a minha mãe e já admirava esse prédio. Aqui só morava quem tinha dinheiro. Isso é um ponto turístico, ponto de referência de Boa Viagem. Era pintado, organizado, limpo, tinha comércio, uma praça arborizada", afirmou.
Poder público
Por meio de nota, a prefeitura do Recife informou, nesta segunda (21), que o Edifício Holiday é um "imóvel privado e que foi interditado por determinação judicial".
A administração municipal disse que fez a colocação dos tapumes para "proteger o imóvel e evitar seu uso, sem que tenha havido os reparos devidos".
A autarquia afirmou que realizou 11 reposições de tapumes no local, "sendo em quatro ocasiões praticamente em sua totalidade". Por causa disso, justificou a prefeitura, "o estoque interno se esgotou".
A gestão municipal afirmou que, agora, "aguarda determinação judicial para que o condomínio execute as suas obrigações".
Ainda de acordo com a administração pública, após os reparos, que devem ser realizados pelo condomínio para devolver a segurança aos moradores, eles poderão voltar às residências.
"Os serviços de manutenção e limpeza do imóvel são de responsabilidade do condomínio e seus condôminos", informou a prefeitura.
Na nota, a gestão municipal disse também que, após a desocupação, as ações de limpeza ficaram sob a responsabilidade da Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb). Os trabalhos ocorreram entre os dias 23 de março e 11 de abril de 2019.
"Num primeiro momento, a Emlurb coletou os resíduos descartados de forma irregular pelos condôminos na área interna do prédio. Após a desocupação do imóvel, a autarquia recebeu a solicitação da Justiça para o recolhimento do lixo encontrado dentro do edifício, intervenção finalizada também no dia 11 de abril de 2019", informou a nota.
Entre os dias 14 de março e 12 de abril de 2019, a prefeitura do Recife disse que prestou apoio social ao cumprimento da decisão judicial, com o fornecimento de caminhões para a realização das mudanças dos moradores, atendimento de saúde e encaminhamento social para abrigos.
"Foram realizadas 267 mudanças e 125 pessoas foram atendidas pela Secretaria de Saúde. Cinco foram acolhidas no Abrigo Municipal da Travessa do Gusmão, de onde foram encaminhadas para Unidades de Longa Permanência, em seguida", disse a nota.
Também por meio de nota, a Polícia Militar informou que "faz rondas com carros e motos". A corporação informou também que "não há registros de roubos ou arrombamentos perto do prédio, em agosto e setembro".
Roubos no Holiday
Em março, um homem foi detido por tentar roubar uma caixa d'água do Edifício Holiday. Ele, que não teve o nome e a idade divulgados, estava com uma faca e responderá em liberdade, de acordo com a Polícia Civil.
Outro caso de tentativa de roubo ocorreu no Edifício Holiday. No dia 9 de maio do ano passado, após a interdição, moradores denunciaram que criminosos teriam invadido o prédio, para roubar equipamentos e materiais de construção. Um morador de um prédio próximo ao Holiday flagrou o momento em que homens pulam os tapumes de proteção para praticar o crime (veja vídeo acima).
Interdição
No dia 12 de março de 2019, a Justiça determinou a interdição do Holiday. Além de riscos estruturais, inadimplência do condomínio e ligações elétricas clandestinas foram motivos apontados para a interdição do prédio. Os problemas no edifício, um marco arquitetônico do Recife, se arrastam desde os anos 1990.
Fonte: https://g1.globo.com