"Em terra de novo coronavírus, quem tem vizinho é rei"
Uma reflexão sobre como anda a convivência no condomínio durante a pandemia
Por William Luca Cabariti*
Estar isolado do mundo, em apartamentos nos quais não se pode usufruir das áreas comuns, tendo que usar a imaginação para não enjoar do quarto, da sala e da cozinha, convivendo a todo momento com as mesmas pessoas, é a maior prova de amor daqueles que moram juntos. Nem todos se saem bem. Brigas de casais e separações estão em alta e o isolamento ainda não tem data para terminar.
Por outro lado, tenho observado que as pessoas estão aprendendo que home office pode ser muito produtivo, que passar mais tempo com seus filhos pode ser prazeroso, que é gostoso passar mais tempo com as pessoas que sempre estiveram ao seu lado, que existem vizinhos e estes podem ser legais.
Alguns condomínios se organizaram, nos quais os mais jovens se ofereceram para irem ao mercado ou farmácia para as pessoas que estão em grupo de risco; ou criaram grupo de WhatsApp para trocarem informações e se ajudarem. Em um condomínio, uma vida foi salva graças esse canal de comunicação criado.
Outros trocaram receitas, fornecedores, utensílios, dicas de beleza, cantaram nas sacadas, descobriram o que o outro faz da vida e até fecharam negócios entre si, descobriram que a micro sociedade existe e é funcional.
Antes desse isolamento, pessoas que moram no mesmo prédio, há sei lá quantos anos, não sabiam nem o nome um do outro, se encontravam no elevador para falar do tempo e reclamavam do barulho do vizinho para o síndico, essas eram as participações das pessoas no condomínio.
Zygmunt Bauman (sociólogo e filósofo polonês falecido em 2017) estava certo: vivemos em uma modernidade líquida, em que as pessoas se adaptam rapidamente aos meios aos quais são submetidas, criam laços rapidamente como uma maneira de sobreviver e, da mesma forma, esses laços humanos e relações sociais frágeis se dissolverão quando a vida nos convocar novamente para a insanidade do dia a dia e as pessoas, então, voltarão a reclamar dos veículos em cima das faixas e do xixi do cachorro na garagem.
E assim, em breve, voltaremos à "paz e liberdade" tão desejadas de tempos de outrora. Será?!
(*) Síndico Profissional há oito anos; graduado em Engenharia Civil e Matemática, além de bacharel em Direito. Especializado em Direito Condominial e Segurança Patrimonial. Mais informações: william@cabariti.com.br.