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Porteiro também pode ser visto como o primeiro anfitrião

quarta-feira, 12 de agosto de 2015
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OS ANFITRIÕES DA PORTARIA

Porteiro e zelador: seus melhores amigos
 
“VOCÊ VIU o que fizeram com o seu Francisco? Foi demitido!”, disse a vizinha, dentro do elevador. “Azar de quem ficou”, respondi, o que soou como uma frase proferida em mandarim. Para ser mais clara, completei: “Azar dos moradores, que vão ficar sem o seu Francisco”.
 
O seu Francisco é um homem gentil, muito chique nas atitudes, quase um lorde. Zelava por tudo e todos no edifício, inclusive pelos chatos com seus cães que ocupam o jardim do condomínio como se estivessem na pracinha do bairro.
 
Aliás, essa é uma das piores atribuições de porteiro e zelador: lembrar o caro condômino de que as áreas comuns do prédio não são nem públicas nem exclusivas dele, o que significa estar impedido de fazer o que bem entender.
 
Outra tarefa nobre e manjada da categoria é ser pau-para-toda-obra – de trocar pneu a consertar cano e mudar sofá de lugar. Essa incrível habilidade leva algumas mulheres a serem categóricas em afirmar: “Pra que marido se tem zelador?”. 
 
Uma amiga recém-separada se desesperou quando foi morar sozinha e se lembrou das chatices domésticas que teria pela frente, como instalação do fogão, do chuveiro e das nets da vida. Bastou um mês de vida nova para ela sair proclamando que o melhor amigo da mulher separada é o zelador.
 
É também o melhor amigo de quem procura um novo lar e resolve acelerar os trabalhos do corretor. “Bom dia! Tem algum apartamento para alugar?”, foi o meu mantra disparado nos interfones dos porteiros em uma peregrinação de três horas, batendo de portaria em portaria. Seu Dedé, seu Severino, Edmilson, Adenilson, Claudenor, todos, sem exceção, esbanjaram gentileza e orgulho de zelar por edifícios cobiçados.
 
Por fim, a função nada lembrada da turma da portaria, apesar de primordial, é a de anfitrião. Porteiros e zeladores são os primeiros a receber as visitas. São eles que dão as boas-vindas aos seus amigos. Ou não!
 
Se o prédio for um ostentoso neoclássico, provavelmente o esquema da recepção será do tipo “mais seguro”, o que também significa impessoal e burocrático. Isso acontece cada vez com mais frequência nos edifícios “finos” de São Paulo, em geral reconhecidos pela arquitetura marcada por colunas e pórticos. Neles, a imagem amigável do porteiro pendurado no portão dando bom-dia ao pedestre, carregando a sacola do morador idoso ou assoprando a canela do molequinho que se espatifou no playground é substituída pelo que eu chamo de padrão Haganá, em referência à famosa empresa do setor de segurança, portaria e afins.
 
Nada contra a eficiência do serviço. A crítica é a aplicação de um sistema empresarial a prédios residenciais.
 
De uma guarita de vidro negro e à prova de bala, o porteiro pede RG, crachá, nome completo. Às vezes, até tira foto, fazendo qualquer um se sentir chegando na firma.
 
Por isso, para quem foge do que costuma ser um dos eventos mais chatos do ano – a reunião de condomínio –, fique atento à pauta da discussão. Mudanças de zelador e outros funcionários são decididas nesses encontros. Eu perdi a assembleia do prédio de onde estou de saída, mas ganhei um outro gentil e competente seu Francisco no novo endereço. Apartamento que, aliás, foi dica do expedito porteiro.

Fonte: http://revistacasaejardim.globo.com/

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