Garagem
Imóvel sem vaga é a grande tendência
Imóvel sem vaga de garagem deixou de ser um 'mico' do mercado
O Plano Diretor foi uma das peças nessa virada, diz urbanista. Nos próximos anos, cenário deve se aprofundar, acrescenta
Nos últimos anos, foi finalmente desmontado o mito de que em São Paulo não é possível mexer com os automóveis. Medidas como faixas de ônibus, ciclofaixas e ciclovias e a abertura de ruas aos pedestres foram implementadas sem compensações para os motoristas.
O Plano Diretor foi uma das peças nessa virada. Por esse documento, o poder público deixou de lado a exigência absurda de um número mínimo de garagens, e passou a trabalhar com a ideia de limitar a quantidade delas em algumas situações.
O modelo que o Plano Diretor tentou implementar é o de adensamento populacional nos locais com mais acesso ao transporte coletivo de massa, em empreendimentos com menos (ou nenhuma) garagem, favorecendo o uso de transporte coletivo.
Essas medidas foram possíveis também por causa de movimentos mais amplos. Os aplicativos de táxi e Uber permitiram um acesso muito mais confortável ao transporte individual para aqueles que podem pagar. Muitas cidades do mundo vêm tomando de volta os espaços que os carros haviam roubado durante a segunda metade do século 20. Há uma tendência global de valorização de áreas mais centrais, com usos mistos que favorecem os deslocamentos a pé.
A aplicação da lei seca tornou menos atraente a ideia de sair de carro para se divertir com os amigos. Equipamentos de controle como os radares fotográficos aumentaram os riscos de multas. A pontuação na carteira em caso de contravenção trouxe o fantasma da perda da autorização de dirigir. Atualmente o automóvel não é mais o símbolo de status e de independência que era até alguns anos atrás.
Tudo isso foi mudando a posição do carro na sociedade, principalmente entre os jovens. Esses elementos trouxeram as condições para que a cidade mudasse a forma como trata as garagens nos edifícios. Um apartamento sem garagem já não é mais considerado um "mico" pelo mercado imobiliário. Nos próximos anos, isso deve se aprofundar: menos edifícios terão garagens.
*AUTOR: RENATO CYMBALISTA, URBANISTA E PROFESSOR DA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP).
Fonte: https://www.terra.com.br