Gatil em condomínio no Rio: Convivência pacífica é possível
Iniciativa de síndico foi aprovada em assembleia. Mesmo não sendo unanimidade entre condôminos, os sete gatos agora têm um lar e vários padrinhos
É evidente que Antônio Carlos, síndico morador do condomínio Araruna, no Rio de Janeiro, é um grande entusiasta de animais, mais especificamente de gatos. Quando o primeiro apareceu no prédio, logo foi se formando um gatil em condomínio, até chegar à marca de sete gatos saudáveis, convivendo em plena harmonia com moradores e seus pets.
Tudo isso começou em 1998, quando Antônio Carlos chegou para morar no edifício Araruna. A gata de rua veterana do gatil é Chiquinha, que já vivia zanzando pelo subsolo do condomínio, enquanto o mais novo morador começava a ter os primeiros contatos com ONG's de proteção animal.
Não era por menos. Próximo ao prédio fica o parque do Aterro do Flamengo, um local sempre rodeado de gatos de rua – muitos dos quais eram encontrados machucados ou doentes –, mas que contava com um grupo que resgatava, cuidava e preparava esses bichinhos para adoção.
Síndico e defensor dos animais: ofícios essenciais
Genuinamente, Antônio entrou para o Projeto Resgate de Animais, grupo de proteção aos animais do parque do Aterro do Flamengo, e somente mais tarde, tornou-se também síndico do Araruna, cargo o qual ocupa há doze anos. Foi a partir daí que seus dois ofícios passaram a se complementar e serem determinantes para o projeto do gatil do condomínio.
Nessa época, os gatos do parque que não tinham se adaptado à adoção eram levados por Antônio, provisoriamente, para o condomínio, enquanto Chiquinha dava à luz quatro filhotes.
Ainda que dois deles tenham sido encaminhados para adoção através da instituição do parque, o que se via era a população felina do condomínio crescer a ponto do tema ser debatido em assembleia:
"O assunto foi levantado por uma moradora e dali surgiu a ideia de construir um gatil no condomínio para os gatos permanecerem", descreve Antônio.
Como é o gatil em condomínio no Edifício Araruna
O prédio é de grande porte, composto por 336 apartamentos e duas portarias que funcionam alternadamente durante o dia e à noite. Um extenso corredor leva ao jardim a céu aberto e numa edícula ao lado se encontra o gatil, que hoje abriga sete gatos.
"Em 2017, aproveitamos o andamento de uma reforma na parte dos fundos do condomínio para adaptar a construção desse lugar para os gatos", afirma Antônio.
O espaço comporta brinquedos, casinhas, caixas de areia, etc. Todos os pertences e materiais necessários para o cuidado dos felinos se concentram nesse ambiente, mas também é possível notar potes de comida e água espalhados organizadamente pelo andar térreo.
Tudo ali é feito com muito carinho. "Às vezes um morador se desfaz de algum móvel quebrado ou antigo, até mesmo materiais reciclados, e transformo em abrigo para eles", explica Antônio.
Além disso, grades com telas nos portões do condomínio impedem o acesso dos bichinhos à rua, deixando-os seguros ali dentro.
Dessa forma, os sete gatos circulam livremente pelo térreo e, segundo Antônio, eles não incomodam nem atrapalham a movimentação dos demais moradores:
"Alguns deles chegaram a questionar a construção do gatil, mas não se opuseram no dia a dia. Aqui é grande, a maioria gosta deles e os que não gostam também não se incomodam. Até os cachorros dos próprios moradores ficam juntos. É bem tranquilo, porque todos já estão acostumados", reforça.
Com feição dócil e sempre limpos, os gatos se esparramam pelos pufes, bancos e tapetes da portaria, distribuindo carisma e chamando a atenção de quem passa pela rua. A impressão que o condomínio transmite é de um local extremamente acolhedor.
"As pessoas passam em frente ao prédio e param para tirar fotos, acham um barato!", se empolga Antônio.
Quem cuida do gatil em condomínio?
Para não causar qualquer indisposição com os moradores, o síndico Antônio Carlos optou por arcar sozinho com as despesas de manutenção do gatil e dos gatos. De acordo com ele, o gasto mensal varia de R$ 300 a R$ 400.
"Alguns vizinhos contribuem de boa vontade com ração, sachês e outros agrados para os gatos, além de brincar com eles. Mas eu quem crio e sou responsável", reforça.
Além de custear a alimentação dos felinos com o próprio bolso, o síndico cuidou da castração e vacinação de todos os bichinhos. No Projeto Resgate de Animais, uma veterinária auxilia o gestor com esses afazeres.
Por meio dos contatos obtidos como membro do grupo do parque é que Antônio consegue adquirir os sacos de ração por valores mais em conta.
O aprendizado que fica com o gatil em condomínio no Rio
É verdade que o assunto "pets em condomínio" causa inúmeros problemas de convivência entre os donos, agora dá para imaginar quantas situações podem ser criadas ali dentro com animais abandonados?
Tal fenômeno, aliás, tem sido um enorme desafio para síndicos nos últimos anos, que precisam se atentar a possíveis problemáticas como:
- Ataque a moradores;
- Sujeira pelas áreas comuns;
- Perturbação devido a latidos ou miados;
- Proliferação de animais;
- Arranhões em veículos;
- Entre outros
Segundo o advogado André Junqueira, o condomínio pode, sim, adotar um animal comunitário desde que essa ideia seja aprovada pela maioria dos presentes em assembleia e o bichinho não ofereça nenhum dos riscos elencados acima.
Assista ao vídeo completo do André Junqueira sobre adoção de animal de rua pelo condomínio:
Vale lembrar que a reunião em que o assunto do gatil de Antônio foi deliberado, o cenário que se via ali era bastante comum da vida e gestão em condomínios: de centenas de apartamentos, pouco mais de vinte condôminos estavam presentes na assembleia.
Com tamanha ausência, seria normal que muitos moradores do Edifício Araruna se incomodassem com a presença dos gatos e contestassem o síndico. Mas na realidade, além do amor de Antônio Carlos em acolher os felinos, a tolerância e o respeito aos animais falaram mais alto entre a vizinhança.
Posicionamento do judiciário sobre animais abandonados que surgem em condomínio
A legislação brasileira traz uma proteção ampla aos animais, contra maus-tratos e atos de crueldade, e o judiciário já tem se manifestado nesse sentido. Veja abaixo alguns casos:
- Gato Frajola é animal comunitário (MS)
- Justiça do DF decide que condomínio não pode proibir moradora de alimentar animais
- Justiça do DF permite que moradora coloque ração na garagem
- Gatos mantidos em condomínio em Manaus
- Condomínio em Mogi das Cruzes ganha cão comunitário
Em todo caso, existem outras opções alternativas para os cuidados ou encaminhamento de animal que apareça no condomínio. Que tal essas?
- Construir um espaço, próximo ao condomínio, destinado aos animais;
- Acionar o Centro de Controle de Zoonoses da sua região para a devida orientação;
- Chamar ONGs que possam cuidar da doação.
Agora que você já sabe tudo sobre como criar um gatil em condomínio e como lidar com animais abandonados que aparecem no condomínio, consulte nosso guia completo sobre pets em condomínio e nos conte: o que você acha do seu condomínio adotar um mascote? Deixe seu comentário no campo ao final da matéria!