Boulos promete zeladoria da cidade com tecnologia e eficiência
Em entrevista, candidato do PSOL propõe chips nas árvores para monitorar condições e realizar poda, manejo e remoção, além de apoiar condomínios para garantir a qualidade de calçadas
O deputado federal Guilherme Boulos é o terceiro candidato a prefeito de São Paulo a participar da série de entrevistas do projeto O prefeito é o síndico da cidade, promovido pelo SíndicoNet.
Ele nasceu no bairro de Pinheiros, em 1984, e é formado em filosofia pela Universidade São Paulo (USP). Aos 19 anos, deixou a casa dos pais para morar em uma ocupação do MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto).
Ganhou projeção na condição de líder do movimento por moradia e justiça social na cidade de São Paulo. Foi coordenador nacional do MTST até assumir seu primeiro mandato como deputado federal pelo PSOL, em 2023, eleito com mais de 1 milhão de votos.
Em sua trajetória política também foi candidato à presidência, em 2018, chegou ao segundo turno na disputa pela da prefeitura de São Paulo, em 2020, quando perdeu para Bruno Covas (PSDB).
Na Câmara Federal, aprovou 3 projetos de lei, entre eles o das cozinhas solidárias, para que elas recebam recursos públicos para produzir e oferecer refeições gratuitas para pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, incluindo os moradores de rua. É candidato a prefeito de São Paulo pelo PSOL. Confira abaixo a entrevista concedida ao SíndicoNet.
1. Em seu plano de governo há algum projeto que estimule a integração da administração pública municipal, por meio das subprefeituras e demais órgãos, com os condomínios verticais e horizontais (residenciais e comerciais) que já passam de 28 mil na cidade de São Paulo?
GUILHERME BOULOS - Sim! O plano prevê a descentralização do governo, o fortalecimento das subprefeituras e a ampliação do diálogo com a população em cada bairro da cidade.
Será retomado o papel das subprefeituras como porta de entrada da Prefeitura nos diferentes territórios, organizando a implementação de equipamentos no distrito e estruturando um hub de serviços públicos, em sintonia com o projeto de desenvolvimento urbano de garantir tudo o que as pessoas precisam perto de sua casa.
O papel dos condomínios será importantíssimo, por exemplo, na elaboração e implementação dos Planos Regionais das Subprefeituras, que vão definir as prioridades para atuação do governo municipal e orientando investimentos com base na escuta da população, nas potencialidades de cada território e principais demandas.
Também vamos retomar o orçamento participativo na cidade, para que os moradores da região, assim como condomínios que os representam, possam influenciar nas prioridades da Prefeitura.
2 - Seu plano de governo prevê algum tipo de canal direto de comunicação com os síndicos dos condomínios para interagir de forma mais rápida sobre os problemas da cidade e os projetos da administração? Uma crítica dos síndicos que chega recorrentemente ao SíndicoNet é que o Portal SP156, onde são feitas solicitações de poda de árvores, tapa-buracos, combate às enchentes e varrição de vias, demora a responder. Pretende melhorar essa situação?
GUILHERME BOULOS - Além de as subprefeituras passarem a estar efetivamente mais abertas à escuta das demandas em cada região - a ideia é manter e valorizar as formas tradicionais de participação presencial -, vamos avançar também na participação digital e desburocratização para demandas, reestruturando o portal 156 com um novo aplicativo que integre todo tipo de serviço, de modo mais fácil e acessível.
A descentralização de serviços como tapa-buraco nas subprefeituras, com autonomia para providenciar as adequações, também vai agilizar e dar mais eficiência a esse processo, associado a um programa permanente de recapeamento das vias, não apenas perto das eleições, como tem ocorrido.
Vamos ainda inovar na zeladoria, agregando tecnologia aos serviços de corte e poda de árvores, capinação e limpeza de bueiros, com mais eficiência e menor custo.
3 - A arrecadação do IPTU é uma importante contribuição da indústria imobiliária para o município, porque multiplica o tributo arrecadado por um terreno vazio ou de um conjunto de casas térreas pelo imposto de centenas de unidades reunidas em condomínio. Por que, em grande parte, esse contribuinte paulistano que mora, possui sala comercial ou uma loja em condomínio tem dificuldade de perceber o que a Prefeitura realiza pelo seu bairro e que o beneficie direta ou indiretamente?
GUILHERME BOULOS - Isso ocorre hoje pela profunda ineficiência da atual gestão que, apesar do orçamento recorde (R$ 111,8 bilhões em 2024 e R$ 119 bi para 2025), é incapaz de garantir a oferta adequada de serviços públicos, bem como fiscalizar aqueles prestados por concessionárias.
Falta qualidade, fiscalização e transparência. Para citar apenas um exemplo, a Prefeitura nunca gastou tanto com obras emergenciais, sem licitação, e o Ministério Público investiga o caso.
Em minha gestão, não haverá espaço para a corrupção, teremos forte atuação da Controladoria-Geral do Município e dos chamados fiscais de postura.
O subprefeito ou subprefeita será necessariamente alguém que more ou tenha vínculos profundos com a região. Além de aproximar a gestão das demandas com a reestruturação das subprefeituras e os planos regionais, nosso governo vai fortalecer a SP Regula, agência encarregada de fiscalizar as concessões.
Um dos eixos centrais do plano de governo é combater a desigualdade em São Paulo. Tenho destacado que superar essa desigualdade é bom para todos e todas, não somente para os mais carentes.
Uma cidade mais justa é mais civilizada e segura para o conjunto da população. Nesse sentido, vamos buscar eliminar vazios assistenciais, levando os serviços públicos aonde eles não chegam.
E importante: faremos isso sem criar nenhum novo imposto. Pelo contrário, a ideia é conceder incentivos para direcionar o desenvolvimento de áreas mais carentes.
4 - Seu plano de governo prevê políticas de incentivo para que os condomínios cuidem da conservação e pintura de fachadas dos edifícios no centro e nos bairros, e possui algum programa que agilize a manutenção e conservação de áreas verdes próximas a condomínios, e tenha um programa mais efetivo de plantio e poda de árvores nas calçadas?
GUILHERME BOULOS - Sim! Iniciando pelas áreas verdes, nossa meta é fazer um grande programa de arborização em parceria com a sociedade civil e, mais uma vez, os condomínios serão cruciais.
Vamos arborizar vias e áreas públicas, combatendo as ilhas de calor urbanas e utilizando tecnologia para monitorar a saúde das árvores e tornar mais eficientes os serviços de poda e manejo.
Uma das iniciativas, por exemplo, é progressivamente implantar chips nas árvores, permitindo esse monitoramento permanente da saúde arbórea e facilitando a atuação preventiva da Prefeitura na poda de árvores, manejo e eventual remoção.
A gestão municipal pode e deve ser mais proativa nesse cuidado, evitando acidentes e transtornos que tendem a ser mais frequentes diante de fenômenos climáticos extremos. Inclusive por meio de parcerias com academia e empresas, como a PodaLab da FAU-USP e o Google.
No que diz respeito a calçadas, vamos trabalhar pela acessibilidade universal, pensando não apenas nas pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, mas na segurança e caminhabilidade para todos os pedestres.
A Prefeitura vai agir proativamente em áreas de maior circulação e apoiar os condomínios para garantir a qualidade de suas calçadas com assistência e orientação muito mais do que na lógica simplesmente punitiva. Isso fica mais fácil com a maior autonomia das subprefeituras.
Nosso plano de governo traz ainda uma série de propostas para a reabilitação do Centro da cidade, que deveria ser o cartão postal paulistano. Teremos um amplo programa de requalificação de imóveis abandonados, com incentivos para o retrofit em geral e um direcionado para prédios públicos.
5 - Seu plano de governo prevê ações em parceria com os condomínios e os síndicos para ações ligadas à segurança pública, defesa civil, enchentes, e campanhas à recuperação de áreas degradadas por questões ambientais, violência e tráfico de drogas?
GUILHERME BOULOS - A segurança será prioridade em nosso governo, com o dobro de efetivo da GCM e câmeras corporais nos agentes. Vamos manter e melhorar o Smart Sampa, ampliando a integração com o monitoramento dos próprios condomínios e com as polícias civil e militar.
Um episódio recente na Zona Leste, na entrada de um condomínio no Tatuapé, é um exemplo da relevância desse monitoramento e integração com as forças de segurança. A GCM vai atuar com base nos programas Bairro Seguro e Centro Seguro, na lógica do policiamento preventivo de proximidade, observando o “mapa de calor” de ocorrências, nos locais de maior circulação, como centros comerciais e pontos de ônibus.
A GCM terá ainda atenção especial ao entorno das escolas. Na prevenção da violência, combate ao tráfico de drogas e ao roubo de celulares, por exemplo, o trabalho conjunto com o governador e o presidente, assim como a proximidade com a população, incluindo a escuta dos condomínios, farão a diferença.
Para além das ações ambientais que já mencionei, de olho nos efeitos da crise climática, vamos atualizar o Plano Diretor de Drenagem (PDD), usando tanto estruturas de retenção convencionais, como piscinões, quanto a chamada infraestrutura verde, na tendência mundial de “cidades esponja”, com mais áreas permeáveis.
A integração entre os condomínios e a Prefeitura será especialmente importante na preparação para enfrentar fenômenos climáticos extremos cada vez mais frequentes, para estimular a preservação e a recuperação de áreas verdes. Vamos criar os Centros de Referência de Proteção e Defesa Civil e elaborar um novo Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR).
6 - De que forma os síndicos dos condomínios residenciais, comerciais e mistos de São Paulo podem contribuir com a administração municipal, na medida em que são porta-vozes de milhões de paulistanos, e que têm pleno conhecimento dos problemas de zeladoria da cidade no entorno dos condomínios?
GUILHERME BOULOS - Os síndicos podem contribuir fiscalizando, cobrando e sugerindo caminhos. Em resumo, participando dos rumos da região em interação direta com a subprefeitura.
Vamos, por exemplo, fortalecer a Agência Reguladora de Serviços Públicos – SP Regula na fiscalização das concessões. A voz dos condomínios nesse processo pode fazer toda a diferença: são milhares de usuários de serviços públicos vigilantes para ajudar a mostrar à Prefeitura o que precisa mudar.
Lembrando ainda que teremos os planos regionais das subprefeituras e o orçamento participativo.
A participação popular e desburocratização das demandas, eixo importante da nova gestão, também será facilitada por meio do já destacado aplicativo, mais amplo e eficiente que o portal 156. Todos os serviços estarão integrados ali para facilitar o acesso da população e agilizar as respostas.
Ou seja, são várias formas de participar e espero sinceramente poder contar com a expertise dos síndicos e condôminos, pois nosso objetivo é o mesmo: uma cidade melhor para todos e todas.
7 - O crescimento de conjuntos habitacionais de grande porte, verdadeiros novos bairros, que atendem a população mais carente exigem da prefeitura investimentos em equipamentos públicos e serviços. De que forma esse assunto será tratado em sua administração?
GUILHERME BOULOS - Nosso programa propõe um caminho muito consistente alinhado com o desenvolvimento sustentável e que aponta uma transformação da São Paulo hoje radiocêntrica para uma metrópole com múltiplos centros, distribuindo os serviços públicos e a oferta de oportunidades aos 96 distritos.
As propostas foram construídas com especialistas, ex-secretários de várias gestões e a própria sociedade civil. Foram 30 Grupos de Trabalho temáticos que receberam mais de 5 mil contribuições, de estudos a ideias, e sintetizamos em 119 diretrizes.
Em resumo, vamos trabalhar para que todos os distritos sejam transformados em centros completos de vida, proporcionando à população local acesso a trabalho, transporte, saúde, educação, moradia, segurança, cultura e lazer.
8 - Qual a visão que a candidata tem sobre o papel do mercado imobiliário na cidade de São Paulo, onde as incorporadoras lançaram só em 2022/23 mais de 150 mil unidades habitacionais e só em 2024 estima-se a entrega de 818 novos condomínios.
GUILHERME BOULOS - O mercado imobiliário é importantíssimo para a economia e o desenvolvimento da cidade, assim como as construtoras geram milhares de empregos e renda.
Tive reuniões com o Secovi e diversas empresas do setor. Mas, hoje, falta pulso à Prefeitura para orientar e gerir o desenvolvimento da cidade. Atualmente, algumas poucas construtoras basicamente mandam na prefeitura e na câmara municipal, que aprovou uma revisão equivocada do Plano Diretor, cheia de exceções que atendem a interesses específicos.
A lógica do PDE aprovado em 2014 era correta, orientando o desenvolvimento urbano em torno dos eixos estruturantes, próximos de corredores de ônibus por exemplo. Mas esse princípio se perdeu.
Manterei diálogo franco e aberto em relação ao mercado imobiliário e as construtoras, mas a Prefeitura precisa fiscalizar e cumprir seu papel.
São recorrentes, por exemplo, as denúncias de obras sem alvará. Isso é inadmissível e coloca em risco a própria segurança dos paulistanos. A Prefeitura precisa garantir que cada novo licenciamento envolva também um conjunto de contrapartidas de infraestrutura urbana. Inclusive privilegiando soluções sustentáveis.
Ao mesmo tempo, vamos atuar na desburocratização de novos empreendimentos. Ou seja, tornar os processos mais eficientes e eficazes sem que isso implique em leniência ou falta de fiscalização efetiva, como tem acontecido.
É intolerável, por exemplo, o que ocorreu no Itaim Bibi com um prédio de 23 andares, erguido sem licença, e que levou à demissão de um fiscal da Prefeitura agora em julho.
9 - Qual sua posição sobre as mudanças recém-aprovadas no Plano Diretor em relação à indústria imobiliária? Que sugestões faria para melhorar a ocupação inteligente da cidade a partir dos equipamentos públicos e infraestrutura já existentes?
GUILHERME BOULOS - Sou contrário ao PDE (Plano Diretor Estratégico) como está. Hoje a cidade é pendular, trabalhadores moram nas franjas da cidade, e se deslocam horas todos os dias para a jornada de trabalho no centro, onde está a maior parte dos empregos.
A última revisão do Plano Diretor conduzida pela Câmara não ajuda a solucionar essa questão, pelo contrário.
Nós vamos descentralizar as oportunidades de empregos na periferia e, como eu já mencionei também, tornar cada distrito um centro completo de vida, com serviços públicos como saúde e educação, mas também opções de esporte, lazer e cultura, potencializando as capacidades dos bairros em parceria também com a sociedade, por exemplo, apoiando centros culturais comunitários.
Isso significa fazer funcionar melhor o que já existe, mas também levar novos serviços, como o Poupatempo da Saúde – serão 16 unidades priorizando a periferia - e os Centros de Oportunidades, focados na capacitação dos jovens para a nova economia, economia criativa e empreendedorismo.
Um dos elementos que já estudamos para fortalecer a economia local e a circulação dentro dos bairros é a Tarifa Zero do subsistema local, que são as linhas que circulam nos distritos e costumam levar até o terminal de ônibus, de onde a pessoa pega outra condução para ir para o Centro.
Esse é um modelo que já funcionou em outras cidades e que vai servir bem a São Paulo depois que passarmos a limpo os contratos com as empresas de ônibus. Só vamos avançar nesse modelo de maneira sustentável e com responsabilidade, ao ter certeza de que o sistema está livre da infiltração do PCC – como já denunciou em abril o Ministério Público, que segue investigando o caso.
10 - Em seu plano de governo há alguma diretriz sobre as obras e outras ações compensatórias a serem executadas pelos incorporadores e que possam contribuir para a melhoria da infraestrutura viária, novos espaços públicos de educação, saúde, esportes, lazer e cultura, entre outros? Há algum projeto prioritário?
GUILHERME BOULOS - Sobre ações compensatórias, a Prefeitura precisa fiscalizar e fazer valer a lei, mas também estimular o desenvolvimento sustentável.
Como deputado, por exemplo, na lei do Minha Casa Minha Vida aprovei o subsídio verde, incentivando o uso de cimento verde ou tecnologias construtivas verdes, com adoção de energia solar nos prédios por exemplo.
Esse é apenas um exemplo de como a Prefeitura pode direcionar o desenvolvimento urbano. Repito: vamos criar as condições para que cada distrito seja um centro completo de vida, para que as pessoas possam resolver tudo perto de casa.
- Leia todas as matérias do projeto: O prefeito é o síndico da cidade
Fonte: Guilherme Boulos (candidato do PSOL a prefeito de São Paulo em 2024)