Tendência no mercado
Hotéis tradicionais do Rio de Janeiro são convertidos em moradias
Dez hotéis convertem quartos em mais de 1.500 residências no Rio
Hotel Intercontinental, em São Conrado, é o mais recente a anunciar reforma para abrigar condomínio. Lista com estabelecimentos hoteleiros inclui desde o icônico Hotel Glória, até o charmoso Hotel Aymoré, no Centro
A tradicional rede hoteleira do Rio sofrerá mais uma baixa de peso. O cinquentenário endereço onde funcionou o Hotel Intercontinental, em São Conrado, passará por reformas e será transformado em condomínio residencial, com 418 apartamentos.
A empreitada está longe de ser um caso isolado. Pelo menos nove hotéis conhecidos da cidade seguem o mesmo caminho — do icônico e imponente Hotel Glória ao pequeno Hotel Aymoré, no Centro. Juntos, os dez hotéis cariocas que passam ou passaram por processo de retrofit darão lugar a 1.575 novas residências.
"Estamos, sem dúvida, diante de uma tendência no mercado imobiliário que vem sendo observada nos últimos anos, fruto do excesso de quartos de hotel abertos na cidade para grandes eventos como os Jogos Olímpicos (2016) e a Copa do Mundo (2014)", avalia Marcos Saceanu, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ).
Nicho promissor
Saceanu é sócio da empresa encarregada de fazer o retrofit do Paysandu Hotel, no Flamengo, que dará lugar a um condomínio com 50 apartamentos. A fachada art déco do prédio ganhará iluminação assinada por Maneco Quinderé, e o paisagismo do terraço será feito pelo escritório de Roberto Burle Marx.
"Várias empresas estão investindo nesse nicho de mercado que consideramos muito promissor. Além de dar nova finalidade aos quartos ociosos, esse movimento é muito importante para o Rio, pois renova, incentiva a moradia, valoriza as regiões e gera empregos", opina Jomar Monnerat, gestor do Opportunity Imobiliário, parte do grupo que atua na recuperação do Hotel Glória, cujo estande de vendas dos futuros 266 apartamentos será aberto ainda este mês, e do Atlântico Tower, no Centro, que, com previsão de ficar pronto no primeiro semestre do ano que vem, virá a ter 216 unidades residenciais.
De acordo com o Sindicato dos Meios de Hospedagem do Rio (HotéisRIO), a cidade tinha 29 mil leitos de hotel antes de 2016 e passou a contar com 62 mil naquele ano em que foram realizados os Jogos. De lá para cá, já houve uma perda de 15 mil vagas.
"O problema é que, enquanto o ativo turismo não for de fato um projeto de governo, o setor terá dificuldades. Os hoteleiros são a favor de se dar uma finalidade a prédios sem uso. Pode ser bom para a cidade, até do ponto de vista do ordenamento urbano. Mas é preciso definir bem as regras que essas unidades têm que seguir", pondera Alfredo Lopes, presidente do HotéisRIO.
O prédio do Hotel Intercontinental — que funcionou de 2011 a 2017 sob bandeira Royal Tullip e depois foi assumido pela Pullman até 2018, quando fechou as portas definitivamente — terá seus 17 andares reformados e ganhará instalações novas, como lavanderias.
A Brazilian Hospitality Group (BHG) e a Sig Engenharia, responsáveis pelo empreendimento, deram entrada na prefeitura do Rio em um pedido de autorização para o retrofit do edifício principal e a construção de mais quatro prédios no terreno, cada um com, no máximo, cinco andares — que resultarão na oferta de mais 238 unidades. A previsão é que a obra dure cerca de três anos.
"O setor de hotelaria continua sendo bom negócio, mas está desequilibrado. Há oferta em excesso no momento, muito por conta do aumento do número de quartos que vimos nos anos de grandes eventos na cidade. O que está havendo agora é que o mercado sozinho está se reequilibrando", avalia Otávio Grinberg, sócio da Sig Engenharia, que também atua nas obras do Hotel Glória e do Hotel Everest, em Ipanema, outro que está em obras para ser transformado em prédio residencial.
Os dois empreendimentos têm previsão de conclusão em 2026. O Glória terá 266 apartamentos, e o Everest, 190 unidades.
Centro, Zona Sul e Barra
A onda de retrofit em hotéis passou por Centro, Glória, Flamengo, Ipanema, São Conrado e chega à Barra da Tijuca. O Hotel Praia Linda está em obras e abrigará 34 apartamentos residenciais a partir de julho de 2024. No projeto da Itten Incorporadora, passará a se chamar Praia Residencial Mar e terá unidades com preço a partir de R$ 2,7 milhões.
"Esse movimento de transformação de hotéis em residenciais é uma excelente alternativa para revitalizar o entorno e evitar invasões" diz Eduardo Cruz, diretor da Itten.
Outro hotel bem conhecido, o Flamengo Palace, construído na década de 1970, está recebendo investimento de R$ 20 milhões da D2J Construtora e terá 42 unidades, com entrega em janeiro de 2023. O preço inicial será de R$ 640 mil. De acordo com Daniel Afonso, diretor da D2J, metade dos apartamentos já foi vendida.
"Há uma demanda grande de moradores e investidores. Geralmente os hotéis estão em locais com infraestrutura consolidada, com acesso a transporte, comércio e serviços. Isso ajuda muito", analisa Afonso.
Próximo ao Flamengo Palace, o antigo Hotel Novo Mundo já passou pelo processo de mudança de categoria e há dois anos é um residencial especializado em aluguel de pequenos estúdios para estudantes. São 318 unidades administradas pela Uliving Rio. Bem perto do Novo Mundo, o Hotel Inglês é o menor dos “retrofitados”. São apenas 16 apartamentos, que terão área de até 70 metros quadrados.
"O fechamento dos hotéis tem impacto negativo no entorno, degrada a vizinhança. O que gera valor e segurança é o movimento, gente andando na rua entrando e saindo dos prédios. Esse movimento já começa com a obra e continua depois da conclusão. Do ponto de vista de emprego, o impacto é muito positivo também", diz Claudio Hermolin, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio (Sinduscon-Rio).
https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2022/10/dez-hoteis-convertem-quartos-em-mais-de-1500-residencias-no-rio.ghtml