Mais dinheiro no condomínio
Residencial popular no RJ tem iniciativas próprias para driblar a crise
Condomínio cria iniciativas para se tornar autossustentável e dar trabalho a moradores
Moradores do condomínio em Cosmos mostram o artesanato produzido
Todo condomínio tem o vizinho fofoqueiro. Também há aquele que anda de salto alto incomodando o sossego no apartamento debaixo. E o que adora ligar o som no último volume aos fins de semana. Em Cosmos, o Vivenda dos Colibris não é diferente.
Entre uma picuinha e outra, os moradores resolveram se unir para driblar os tempos de crise. A partir da separação do lixo produzido no local, eles geram renda para a administração do imóvel — a fim de evitar a cobrança de cotas extras — e para os condôminos que vivem de artesanato.
— Uma parte do material é vendida para a reciclagem. A outra fica para quem faz trabalhos manuais — explica o síndico, Franco Ribeiro, de 50 anos.
As 220 famílias que moram nos 11 prédios também entregam o óleo utilizado na cozinha para uma empresa que troca o produto por artigos de limpeza, destinados à faxina das áreas comuns.
O movimento já conseguiu arrecadar cerca de R$ 200, depositados em uma conta do Vivenda dos Colibris e, depois, usados para pagar uma dedetização. Franco pretende juntar mais dinheiro para instalar câmeras de segurança, tudo sem cota extra. Atualmente, a taxa de condomínio cobrada é de R$ 150, referente aos gastos com água, salário do síndico e prestações de serviços.
A ideia de criar uma economia local surgiu há pouco mais de um ano, quando os moradores foram sorteados para receber um imóvel do “Minha Casa, Minha Vida”, por meio da Secretaria municipal de Habitação e Cidadania.
Franco e mais oito moradores começaram a se organizar para ter um espaço coletivo autossustentável. Assim que ocuparam as unidades, há três meses, o projeto foi posto em prática.
Em um dos salões de festas, artesãs voluntárias repassam seu conhecimento a 15 homens e mulheres que perderam o emprego. Andreia de Barros, de 38 anos, trabalhava como auxiliar de serviços gerais quando foi demitida, em junho. Ela logo aprendeu a pintar panos de prato e pretende vendê-los:
— Quando você tem força de vontade, consegue fazer qualquer coisa.
Também foi criada uma comunicação por meio de redes sociais e um aplicativo de celular, para que a renda circule no Vivenda dos Colibris.
Os moradores comercializam entre si cachorro-quente, hambúrguer, sacolé, empadão, quentinha, bolo para festa, bolo no pote... Basta dar alguns cliques para, em poucos minutos, ouvir a campainha tocando com a encomenda. Para funcionar sem bagunça, a regra é clara: as negociações só podem ser feitas por interfone ou mensagem; nada de gritaria na janela.
Artesã ensina crianças no condomínio
Artesã ensina crianças no condomínio Foto: Márcio Alves
Depois de atuar como promotora de vendas por mais de dois anos, Iamurik Oliveira, de 35 anos, se viu desempregada e tendo que cuidar sozinha da filha de 8. Preparar sanduíches em casa para vender foi a saída encontrada para garantir o sustento. Em dias bons, ela chega a atender 20 pedidos só do condomínio.
— É uma quantia que está ajudando. Tenho vontade de botar um trailer na rua, pois me identifiquei muito com o trabalho — diz a jovem, que é formada em Letras e tem o auxílio da filha para as entregas.
A proposta de Franco é expandir esse comércio para além dos portões do Vivenda dos Colibris. O síndico já está organizando uma festa com barraquinhas de comida e artesanato para o próximo dia 26.
— Vamos convidar outros condomínios da região para participar, com o intuito de gerar renda para os moradores. Quem colocar uma barraca no dia vai pagar uma taxa, que será destinada ao fundo dos 11 prédios — explica.
Fonte: extra.globo.com