Mês da água
Março é o mês para pensar melhor no uso da água
por Hubert Gebara *
O Dia Mundial da Água, em 22 de março, está novamente chegando. Há novidades? Qual é a diferença desde o ano passado? A diferença é que a chuva chegou quando já estávamos perdendo a esperança de uma virada no jogo. Foi um grande alento. De quem é o mérito da virada, além de São Pedro? O consumidor final, embora de forma relutante e apenas em parte, aposentou a mangueira e ressuscitou a vassoura há muito ociosa para limpar as calçadas.
Uma mudança tão simples e apenas parcial mostrou que a população foi finalmente sensibilizada para o perigo da falta d'água, em plena temporada de racionamento. Alguns estabelecimentos comerciais, como bares e restaurantes, passaram a usar copos de plástico.
A Sabesp intensificou a propaganda com as sugestões de sempre e sem muita criatividade. Ao que parece, entretanto, funcionou e ajudou a melhorar a situação trazida pela seca histórica.
Inegavelmente houve progressos diante da ameaça de perdermos um dos maiores confortos da civilização: água corrente em nossas torneiras e chuveiros, 24 horas por dia. Mas falta muito ainda. As empresas que cuidam do fornecimento de água são pródigas em orientar os consumidores, mas elas próprias não dão bons exemplos. Quando visíveis nas ruas, os vazamentos não são prontamente estancados. E aqueles que não vemos, escondidos na tubulação?
Além de tudo isso ainda falta, é claro, chover muito. Estamos longe dos níveis de reserva hídrica existentes no passado. Significa que, a médio prazo, a crise continua. Nos condomínios, a questão da água ainda é guerra. E por conta do aedes aegypti com suas múltiplas ameaças de epidemia, qualquer armazenamento do líquido tornou-se motivo de novos cuidados.
O mosquito pode colocar seus ovos nas mais ínfimas aberturas e estes podem sobreviver a longos de períodos de seca, eclodindo tão logo chegue a água. Um combate indiscriminado para erradicar qualquer criadouro do mosquito pode ferir o meio ambiente. Qual é o limite? Uma coisa é certa: não podemos, por exemplo, exterminar as plantas que armazenam água e que são, por essa característica, potenciais criadouros do inseto. Pela complexidade da situação, o próximo Dia Mundial da Água ainda mantém bem acesa a luz vermelha.
O culto à água precisa ser mantido com grande reverência. Para muitos de nós, ela é a própria fonte da juventude. Passamos a respeitá-la como dieta básica para recuperação da saúde. O Estado de São Paulo – onde está o maior contingente da população consumidora do país – possui apenas 1,3% do total da água doce existente no território brasileiro.
Para a Unesco, o consumo de água no planeta aumenta com uma velocidade muito além de perigosa. Dos atuais 7 bilhões de habitantes da terra, mais de 1 bilhão ainda vive sem acesso à água potável. Na agricultura, nada pode ser produzido sem a ajuda de quantidades consideráveis de água. Um quilo de arroz demanda mil litros para ser produzido. Um quilo de carne, 13 mil litros. Os exemplos são inúmeros. Esse grande consumo devasta as florestas que são essenciais para manter saudável o ecossistema hídrico.
Nos condomínios, a conta de água e esgoto responde pela segunda maior despesa ordinária, superada apenas por mão de obra e encargos. Representa quase 15% da cota mensal. Mesmo assim, há perdas em praticamente todos os conjuntos residenciais e comerciais. Quando não ocorrem nas áreas comuns do prédio, podem ser verificadas no interior das unidades autônomas.
Muitos condomínios relutam em fazer a conexão do esgoto com a rede de saneamento básico local. Junto com a água, o esgoto segue então para o mar e abala a saúde dos oceanos.
Hidrômetros de medição individual do consumo vieram para ajudar a combater o problema dos desperdício. Esses equipamentos entretanto estão apenas chegando aos condomínios. Em alguns prédios estão encontrando resistência. Alguns moradores estão temerosos, pensando no próprio bolso. Se podem entrar no rateio da despesa, por que vão pagar pelo que consomem individualmente? Individualista na hora de consumir, esse condômino perdulário pretende pagar de forma comunitária. O Dia Mundial da Água está chegando. Muita coisa ainda precisa ser feita.
(*) Hubert Gebara é vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP e diretor do Grupo Hubert.