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Lígia Ramos

Modernidade: novos modelos familiares e a evolução da convivência

Colunista reflete sobre democracia, tolerância e diversidade como elemento impulsionador na adaptação às mudanças do ambiente de convivência

11/09/24 07:47 - Atualizado há 70 dias
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Duas mulheres e um rapaz jovens dançam juntos na sala de um apartamento com ampla janela e mobília moderna
"Por que não experienciamos uma sociedade baseada na inclusão e na consideração ao outro dentro de nossos condomínios?"
iStock

Psicanálise deveria ser matéria obrigatória, com prova escrita e tudo mais, para sermos aprovados para a etapa da vida adulta que envolve conviver com outras famílias em espaços compartilhados, ou seja, viver em condomínio.

Nem todo mundo é feliz do mesmo jeito, e na maioria das vezes, o som da felicidade alheia provoca muita frustração quando ultrapassa os limites de paredes e janelas.

É triste constatar que a maior parte dos atritos e reclamações entre vizinhos nascem não por conta de excessos, mas de situações comezinhas. Em verdade, o que se deflagra é que as reclamações nascem do preconceito e da intransigência

Que maravilha a diversidade. É ela que garante que nós, seres vivos, nos adaptemos às mudanças do ambiente em que vivemos.

Um dos maiores cientistas que já tivemos, Charles Darwin (1809-1882), em seu livro Sobre a Origem das Espécies, ousou dizer que quem era mais forte e conseguia se adaptar, permaneceria vivo e progrediria. Então, também ouso afirmar o mesmo e complemento: sobrevive BEM à vida coletiva o indivíduo que realmente consegue se adaptar.

Mas claro que há a outra face desse binômio indivíduo-coletividade, a qual nos mostra que o ambiente tem de ser mantido dentro de limites de empatia e respeito. Caso contrário, sem esses elementos, não haverá vida humana que perdure.

É como não se ter ar e água para que a química da vida aconteça. A aridez da intolerância não permite que nada prospere, por mais forte que o indivíduo seja.

Democracia aplicada à vida coletiva condominial

Vencidos preconceitos, entramos no arenoso terreno dos legítimos interesses e necessidades de grupos diferentes.

Como alternativa à tirania, onde quem está no poder decide tudo a seu bel-prazer, o modelo criado em Atenas no século VI, o da democracia, é o adotado para a vida coletiva condominial.

Dessa forma, para dirimir assuntos controversos, a dinâmica é deixar que as assembleias de moradores discutam e deliberem sobre os assuntos que afetam a vida da comunidade. Investimentos e regramentos.

Então isso significa que se a maioria decidir não se investe em algo que só beneficiaria a alguns?

Bem, aí temos aquele famoso dito popular que aquilo que é combinado não sai caro.

Se na convenção condominial, ou na matrícula do imóvel, temos algumas definições, estas para serem alteradas, dependem de votação com quórum qualificado, ou seja, muita gente tem de querer.

Além disso, temos de lembrar que não vivemos num feudo e leis maiores asseguram respeito e direitos para minorias e pessoas com necessidades especiais, as quais são inegociáveis.

Não tem essa de querer acabar com vaga PNE para se ter mais área de manobra na garagem ou simplesmente transformar uma sofisticada quadra de tênis em espaço multifuncional. Temos de respeitar os limites do direito que cada proprietário também exerce sobre a área comum, da qual cada um tem uma fração.

Vamos priorizar a reforma da brinquedoteca ou a criação de um espaço para os pets? Quais os horários de uso exclusivo para crianças na piscina? Vamos fixar uma temperatura para a raia de natação que é compartilhada por atletas e a turma da hidroginástica?

Os princípios democráticos estabelecem que o número de votos decidirá. Mas, invariavelmente surgem as campanhas políticas, o lobismo e as procurações daqueles que muitas vezes nem participam. Nesse momento, sem pieguismo, convido-os a se juntarem a mim na seguinte reflexão: é ético agir assim?

O mundo condominial é, em escala menor, apenas uma reprodução da mesma estrutura que vivenciamos na esfera estatal, a qual, frequentemente tanto criticamos.

Deixo aqui então a seguinte pergunta: se temos o poder de fazer diferente e verdadeiramente criarmos uma sociedade baseada na inclusão e na consideração ao outro, por que não experienciamos começar fazendo isso dentro de nossos condomínios?

Lígia Ramos é Arquiteta Urbanista e Bióloga pós-graduada, síndica profissional da D’Accord, com atuação há mais de 20 anos no mercado. Gosta de cuidar de aspectos práticos do condomínio, incluindo gestão de áreas verdes. Faz gestão de pessoas, traça planos estratégicos e cria canais de comunicação com seus condôminos.

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