Ninho em apartamento
Moradores acompanharam nascimento de carcará
Diário de um ninho: filhote de carcará nasce em janela de apartamento e moradores registram cotidiano da espécie
Família de São Luís (MA) acompanha rotina do casal de ave rapina desde junho; observações diárias devem contribuir com informações da espécie para a ciência
O momento mais aguardado do ano para a família de Mariana Carvalho, administradora de empresas que mora em São Luís (MA), chegou! Nasceu na última semana o tão esperado filhote de carcará que a família acompanha desde meados de junho. O casal de falcões surpreendeu os moradores do apartamento na época ao construírem um ninho robusto no lado externo da janela da residência.
“Foi emocionante, após mais de 16 semanas construindo o ninho, foram quase 35 dias chocando o ovo, o filhote é muito frágil e é impressionante ver que os pais fazem de tudo para ele viver e ficar aquecido. Eles não deitam no filhote, primeiro eles se posicionam meio agachados, o filhote fica na barriga dos pais e só depois eles deitam. Outro detalhe curioso e é que eles sempre ficam limpando o filhotinho” comenta Mariana.
Com menos de uma semana de vida, o filhote aparenta ser delicado, mas ao mesmo tempo se mostra voraz. Em breves observações, os moradores já notaram a evolução do pequeno carcará. “A cada dia me impressiono com os pedaços dos pássaros partidos que os pais trazem para alimentar o filhote e ele já tem características de predador”, acrescenta.
De acordo com o ornitólogo Willian Menq, a fragilidade do filhote é normal nos primeiros dias de vida, quando ainda não consegue ficar em pé e tem dificuldades para manter a própria cabeça erguida. "É como se fosse um bebê humano em suas primeiras semanas. Com o decorrer dos dias, ele melhora a estrutura muscular e passa a conseguir ficar em pé e resistente", define o especialista.
Segundo ele, apesar da pouca maturidade, já é possível notar sinais da esperteza do pequeno diante do contato com os pais como mostra em um momento do vídeo em que os adultos emitem um som em voo.
"O filhote imediatamente reconhece a vocalização do adulto e fica prontamente aguardando a comida! Essas vocalizações são importantes para o filhote saber que a silhueta em questão é de seus pais (e não de uma ameaça) e para fortalecimento dos vínculos sociais", ressalta.
Macho e fêmea dedicam-se arduamente para garantir a sobrevivência da cria. O cuidado é tão grande que, desde o nascimento do filhote, o comportamento deles mudou perante a presença dos moradores.
“Agora é mais fácil filmar do que quando eles estavam apenas chocando. A atenção deles está totalmente voltada ao filhote agora, o movimento da casa parece não importar mais. Um deles, eu acredito que seja o macho, fica um pouco mais receoso principalmente no final do dia que dá para ver o reflexo pela janela. Mas mesmo assim, eles parecem nem se importar mais com a gente”, aponta.
A janela se tornou uma vitrine de contemplação da vida selvagem e agora que o casal de carcarás está totalmente dedicado às tarefas com o filhote, os moradores conseguem observar detalhes da rotina da ave que é conhecida por todo o Brasil, mas ainda guarda segredos para os cientistas.
"Informações sobre número de ovos, tempo de incubação, tipo e frequência de presas levadas para o ninho são ótimas contribuições que podem auxiliar nas estratégias de estudo, manejo, reintrodução", define Menq.
Neste novo capítulo do "Diário de um ninho" as informações são ricas em detalhes observados e também repletas de afeto.
“Eles trazem comida umas três vezes por dia. De manhã bem cedinho, de tarde e no final do dia. O filhote come de uma vez os pedaços de carne trazidos pelos pais. Os dois adultos levam alimentos e é possível perceber que eles se revezam. Ambos se debruçam sobre o filhote, também em revezamento. Já notamos que eles estimulam o filhote a se mexer, são realmente muito focados no bebê”, complementa Mariana.
A saga de documentar a vida do filhote de carcará está apenas começando. De acordo com pesquisadores, ele deve permanecer no ninho até o terceiro mês de vida, para depois alçar voo. Até lá, deve receber ainda o cuidado parental.
Fonte: https://g1.globo.com