Os desafios e a luta contra homofobia de uma síndica LGBT
Solange Piconez, de 66 anos, precisa lidar com preconceitos no meio do caminho da sua gestão condominial, cujo carro-chefe é a manutenção predial
O Dia Nacional do Orgulho LGBT, celebrado em 25 de março, é ocasião importante para conscientizar as pessoas sobre os desafios enfrentados pela comunidade no Brasil, país que mais mata pessoas LGBTs no mundo, de acordo com pesquisa de 2021 da Aliança Nacional LGBTI em conjunto com Grupo Gay da Bahia.
Pensando nisso, o SíndicoNet conversou com a síndica Solange Piconez, de 66 anos, que é mais um exemplo de uma pessoa da comunidade LGBT que quebrou barreiras. Há 15 anos está à frente da gestão do condomínio Edifício Wolmar, em São Vicente, litoral de São Paulo, que possui 30 unidades.
Manutenções em dia e redução de custos: marca da gestão
A administração de Solange é marcada por manutenção predial e economia de contas. Ao assumir o condomínio, reduziu pela metade os custos ordinários (como luz e água) ao perceber que falhas mecânicas, como vazamentos, encareciam as contas.
"Comecei como subsíndica focada na parte operacional. Então, por exemplo, gastávamos cerca de R$ 2,6 mil na conta de água, mas o custo caiu para R$ 1,2 mil depois que diagnostiquei vazamentos", conta.
Com relação à cota de luz, ela fez um estudo e planejamento para diminuir os gastos. A conta de R$ 1,6 mil caiu para R$ 900 na época. "Hoje, com cerca de 45 moradores, gasto aproximadamente R$ 700 de luz", relata a síndica.
Uma característica forte do prédio, localizado no litoral onde há mais dias de calor, é a tendência à proliferação de mosquitos que causam dengue e chikungunya. A limpeza constante das calhas, o uso de pastilhas de cloro e o sal nos ralos externos, por exemplo, devem fazer parte da rotina de condomínios que enfrentam esse problema.
"A fiscalização sanitária sempre dá nota 10 ao nosso condomínio. Nunca pegaram foco de criadouro de mosquitos, nunca recebemos advertência", diz a síndica sobre o reconhecimento ao bom trabalho.
Além de fazer outras benfeitorias, como a troca do portão social e a manutenção do jardim, Solange tem projeto para implementação de Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB).
- Download: Tabela de obrigações do condomínio
- Download: Checklist contra incêndios
- Leia mais: Cartilha de prevenção à dengue
Combate aos preconceitos por ser mulher e LGBT
Quebrar padrões do que se é esperado de uma mulher na sociedade a ajudou a detectar problemas e propor soluções na gestão condominial. Muito nova, começou a trabalhar no ramo industrial, marítimo e automotivo, onde ficou por 38 anos e viveu diversos tipos de preconceitos: por ser mulher e LGBT.
A situação não é diferente no condomínio que gerencia. Mesmo sendo síndica há 15 anos, os problemas que enfrentou no passado relacionados a sua orientação sexual ainda a perseguem.
"Como tenho que me colocar de uma forma profissional com os prestadores de serviço, nunca tive problema com eles. Até me incentivaram a fazer curso de síndica profissional. Encontro problema é com o pessoal do prédio, que tem preconceito", comentou.
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- Download para conscientizar moradores: Preconceito em condomínio
Homofobia entre moradores: é minoria, mas existe
Solange garante que grande parte dos moradores e funcionários são muito educados, com exceção de uma pessoa. Mesmo sendo a minoria, a homofobia a incomoda o suficiente para lembrar detalhes dos acontecimentos.
"Tem uma pessoa moradora que é homofóbica de carteirinha. Procura 'pelo em ovo'! Então, por exemplo, ao chegar do serviço, entra em contato com a administradora para dizer que tem uma lâmpada queimada no jardim, em vez de falar diretamente comigo", diz.
Além disso, a pessoa não obedece as regras do prédio mesmo quando Solange as comunica diretamente. Já chegou a estacionar o carro em local proibido e pedir para a faxineira "avisar aquela sapa" que estava parando em determinada vaga.
"Sapa" é um termo pejorativo e encurtado para "sapatão", que se refere a mulheres que se relacionam com outras mulheres.
Importante lembrar que homofobia é crime previsto na Constituição Federal de 1988 no Artigo 3º, que fala sobre o bem-estar de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) criminalizou a homofobia e transfobia no país.
Por isso, Solange pensou em abrir um boletim de ocorrência contra a pessoa por homofobia. No entanto, para ela, não valia a pena seguir adiante com a denúncia.
LGBTfobia em São Paulo e no Brasil
No estudo de 2021 da Aliança Nacional LGBTI, o estado de São Paulo, onde Solange nasceu e mora, foi o que registrou maior número de mortes desta parcela da população. O Sudeste só perdeu para o Nordeste em número de mortes violentas, sendo que a primeira região somou 33% dos casos.
No Brasil, houve um aumento de 8% de mortes violentas em comparação com 2020. De 300 casos, 276 foram homicídios; e 24, suicídios. Há uma morte de alguém da comunidade a cada 29 horas. Homossexuais masculinos são os que mais sofreram neste cenário em 2021.
Denúncia
Em caso de homofobia ou transfobia em seu condomínio, denuncie! Disque 100, o número do serviço dos Direitos Humanos, que funciona 24 horas por dia nos 7 dias da semana.
Fonte: Solange Piconez (síndica).