Sem incentivo público, condomínio restaura prédio de Artacho Jurado na Bela Vista
O que o edifício Viadutos tem que o Copan não tem? Uma fachada toda restaurada que brilha alva contra o céu da Bela Vista.
Enquanto as pastilhas do Copan despencam na calçada há anos, as do Viadutos estão agora todas lá, tinindo, dando cara nova à obra do não-arquiteto Artacho Jurado (aquele que povoou Higienópolis com edifícios que abusam do azul, do rosa e do amarelo e de elementos vazados ultra-ornamentais).
José Marques, o síndico do prédio, diz que “a vida inteira” o condomínio tentou essa reforma. “Fizemos projeto para a Lei Rouanet, tentamos isenção fiscal com a prefeitura, mas nunca foi pra frente”.
O edifício é tombado pelo patrimônio histórico, o que, em tese, lhe dá a possibilidade de acessar recursos públicos. Mas o fato é que essas políticas não emplacaram na cidade. A burocracia é difícil de navegar e desestimula o acesso de “seres urbanos” comuns, como síndicos. Como reunir o conhecimento e o traquejo, por exemplo, de especialistas em captar verbas para a produção de filmes?
E assim, os quase R$ 600 mil da obra (que incluiu também o restauro da marquise e do icônico salão de festas que coroa o prédio), hoje em fase de retoques finais, foram totalmente pagos pelos moradores do prédio.
Pastilhas amarelas
Com a verba em mãos, a maior dificuldade, conta o síndico, foi encontrar as pastilhas amarelas da marquise. “Procuramos em Brasília, São José do Rio Preto. Só conseguimos comprar cinco metros [quadrados], em uma fábrica em Santos”.
Não é nem de longe o mesmo prédio de anos atrás, escurecido, com os pilotis do térreo encobertos por chapas de aço. Agora, com o salão da cobertura todo renovado, Marques pretende aumentar a arrecadação de verbas para o condomínio.
Sua ideia é alugar o espaço, que tem vistas para a cidade toda, também para festas (o salão já era bastante usado em locações de filmes e comerciais). Mas já avisa: “Não cobro barato. É um transtorno, só temos dois elevadores que vão até lá. E depois fica tudo sujo, bagunçado”. Os interessados deverão negociar diretamente com Marques.
Com a valorização do centro da cidade, o Viadutos se valorizou também. Eu cheguei a visitar um apartamento em 2008, de um dormitório, pelo qual se pedia R$ 85 mil. Hoje, não saem por menos de R$ 300 mil, numa alta de preços semelhante a que ocorreu no Copan, a uns 500 metros dali.
Onde fica?
Quer ver o prédio de perto? Ele fica na praça General Craveiro Lopes, 19, próximo do metrô Anhangabaú.
Aproveite para comer um doce na padaria Palma D’Ouro, logo ao lado, ou para encarar o supersanduíche de pernil do Lanches Estadão, a dois minutos de caminhada. Mais dez passos e chegará na biblioteca Mário de Andrade (de Jacques Pilon), ao lado da verde e recôndita praça Dom José Gaspar, que também tem o Paribar e suas mesas sob a sombra das árvores.
Ou pode dar um pulo na Câmara Municipal, bem em frente (mesmo), e reclamar para os vereadores da fraquíssima legislação de preservação de patrimônio que temos na cidade.
Fonte: http://www.jornalfloripa.com.br/