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Ambiente

Prédios sustentáveis

Desempenho energético deve ser pensado desde o desenho

quinta-feira, 19 de setembro de 2013
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 Por que etiquetar um edifício?

Por Mônica Welker*

Atualmente, desenha-se aqueles que serão os grandes desafios para o planejamento dos novos empreendimentos nos grandes centros urbanos. A demanda por habitações se manterá nos próximos anos, o que exigirá mais serviços, infraestrutura e investimentos.

Gestão eficiente e uso racional dos recursos são requisitos para o setor da construção civil garantir competências e competitividade. Mas, é preciso ir além. Novos tempos exigem novos modelos e novos conceitos. A visão de ganhos no curto prazo deve dar lugar a um apreço maior pela qualidade e eficiência dos produtos em questão: os edifícios.

O consumo atual de energia elétrica dos edifícios é cerca de 47% do total consumido no país. Considerando-se que 80% do consumo energético ocorre ao longo da vida útil dos edifícios, a aplicação de soluções que aumentem a eficiência pode reverter em ganhos futuros e contribuir sensivelmente para a redução dos custos de operação e manutenção. Nesse sentido, a eficiência operacional futura dependerá do nível de eficiência energética e, portanto, esse indicador deve ser valorizado no momento da escolha do imóvel.
 
Para uma avaliação objetiva com reconhecimento direto e imediato dos consumidores ou usuários, dispomos da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE) que indica o nível de eficiência dos produtos. A etiqueta faz parte do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), coordenado pelo Inmetro, que há mais de 20 anos orienta os consumidores na compra de eletrodomésticos e equipamentos.
 
 Além de induzir a redução do consumo de energia, o programa contribui para um processo de melhoria contínua dos produtos como resultado de uma maior competitividade entre os fabricantes. Pesquisa recente do Inmetro revelou que cerca de 80% dos consumidores conhecem a etiqueta e a maioria inclui essa informação na decisão de compra. O mesmo pode acontecer com os edifícios.
 
Na medida em que as pessoas passem a demandar por imóveis que tenham a etiqueta de eficiência energética, isto fará com que construtoras e incorporadoras se mobilizem para adequar seus projetos e melhorar o desempenho energético das edificações.
 
Estimativas da Eletrobras indicam que o potencial de conservação de energia é bastante expressivo, na perspectiva de uma redução da demanda entre 30% e 50%.  Desde de 2009, com a publicação do Regulamento Técnico para edifícios comerciais, de serviços e público e para residenciais, em 2010, os edifícios participam do PBE, ainda em caráter voluntário. Em breve, espera-se que sua aplicação seja compulsória pelo impacto desse segmento nas projeções futuras para o setor energético.
 
Nos edifícios comerciais, de serviços e públicos são avaliados três sistemas: envoltória, iluminação e ar condicionado. A  envoltória é constituída pelas fachadas e cobertura e atua como uma “pele” nas trocas térmicas entre o exterior e o interior do edifício. Quanto maior o ganho e retenção do calor, mais energia é necessária para o resfriamento dos ambientes internos.
 
Dependendo das atividades, da ocupação, da iluminação e dos equipamentos instalados, mais calor é gerado internamente, aumentando a necessidade de resfriamento para atingir os níveis de conforto mínimos necessários. Condições de desconforto podem reduzir em cerca de 25% a produtividade dos ocupantes.
 
Portanto, o primeiro passo é ter uma envoltória eficiente, integrada às condições climáticas locais. Nesse sentido, deve-se considerar as soluções das fachadas de acordo com a orientação solar visando regular, através das aberturas, elementos de sombreamento e materiais especificados a radiação incidente.
 
O aproveitamento da luz natural, uso de lâmpadas eficientes e de dispositivos simples de desligamento automático dos circuitos, de acordo com o funcionamento do edifício, podem proporcionar um consumo menor do sistema de iluminação, mantendo-se os níveis de luminância necessários para cada tarefa ou atividade.
 
Como consequência, a carga térmica pode ser levada a níveis mínimos, exigindo sistemas de climatização menos potentes e que demandarão menos energia na fase de operação. Considerando que a vida útil de um edifício é de 50 anos, os ganhos com eficiência são evidentes e justificam que se valorize a etapa de projeto.
 
Como parte do processo de obtenção da etiqueta deve-se proceder a avaliação junto a um Organismo de Inspeção Acreditado (OIA) pelo Inmetro, após envio de toda a documentação exigida: projetos, memoriais, catálogos, amostras de materiais, dentre outros, de forma a comprovar a conformidade com os requisitos descritos nos regulamentos. A etiqueta pode ser solicitada na fase de projeto e/ou após a conclusão da construção.
 
De forma abrangente, a eficiência energética em edifícios pode criar oportunidades econômicas para a indústria e tornar acessíveis novas tecnologias energeticamente mais eficientes. A cadeia do setor da construção civil é muito extensa.
 
Quando pensamos em todos os insumos, produtos e equipamentos necessários na construção de edifícios temos a dimensão da sua abrangência. Ações positivas, sejam no aspecto econômico, social e ambiental, reverberam em toda a cadeia e podem gerar círculos virtuosos com ganhos para a sociedade como um todo.
 
Não há como negar a inevitabilidade dessa via em face das transformações as quais serão submetidas as cidades de forma a superar os impasses que há muito perduram. Questões como mobilidade, qualidade ambiental e de vida exigem que se repense a cidade e o conceito das edificações.  
 
Nesse processo todos têm um papel a cumprir. Sejam incorporadoras, ao criar empreendimentos mais eficientes, capazes de auto suprir ao menos parte da sua demanda energética, gerar menos resíduos e gerir recursos hídricos; consumidores que priorizem eficiência, funcionalidade e desenvolvam novos hábitos de consumo; gestores públicos que atuem responsavelmente, fazendo um melhor uso do dinheiro público, ao agregar mais competência, transparência e profissionalismo, tornando os processos mais céleres.
 
Através do uso racional dos recursos, sejam naturais, financeiros ou  humanos, todos ganham.
 
* Mônica Welker é arquiteta e Urbanista pela UFRJ. Especialista em Edifícios Sustentáveis: Performance e Projeto – NITS/UCP-RJ. Atua como consultora no desenvolvimento de projetos de edificações sustentáveis. Matéria publicada na Revista Ambiente Energia n. 01.

Fonte: http://www.ambienteenergia.com.br/

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