Proptechs: todo síndico deve conhecer o assunto
O que significa, qual a ligação com condomínios e como trilhar esse caminho
Por Rafael Lauand*
A cada dia que passa vejo mais empresas de tecnologia no mercado imobiliário, as chamadas PropTechs, que progressivamente representam uma revolução no setor de imóveis (e no de condomínios) brasileiro e mundial. Mas, o que exatamente é PropTech? Por que tem sido um item de notícias ultimamente? O que significa PropTech para síndicos e condôminos? Quem será afetado? O que está em jogo?
Separei algumas coisas que você precisa saber sobre o que vem por aí e a primeira é responder a pergunta: O que é PropTech? Eu tive a oportunidade de discutir extensivamente o tópico e entendo que há muitas maneiras de definir uma PropTech. Aqui está uma das definições que eu julgo mais ampla:
Proptech é uma pequena parte de uma transformação digital mais ampla na indústria de propriedade. Ela considera tanto a mudança tecnológica e mentalidade do mercado imobiliário e seus consumidores para nossas atitudes, movimentos e transações envolvendo edifícios, condomínios e cidades.
É um conceito um tanto vago, mas que afeta, claramente, grande parte do setor imobiliário. Na verdade, aqui estamos falando sobre o lado de condomínios, bem como o lado da construção, e até mesmo sobre as cidades do futuro. Não me admira que empreendedores, investidores e jornalistas estejam tão ansiosos para discutir o assunto. Na minha opinião, a melhor definição e mais direta ao ponto é:
Termo usado para definir startups que oferecem produtos tecnologicamente inovadores ou novos modelos de negócios para o mercado imobiliário em geral.
Assim, o termo representa todas as empresas que estão buscando tornar o setor melhor, mais rápido e eficiente. Ainda é uma nova tendência, e o escopo deve sofrer alterações ao longo do caminho. Claro que nada disso é novidade. Mas como muitos setores, o imobiliário vem sendo "uberisado", e os bens imobiliários tornaram-se um alvo relevante dos empreendedores de plantão.
O aumento do finaciamento de capital
O interesse de investidores de alto risco permite trazer um novo serviço ao mercado, derrubar barreiras e burocracias de longa data (e que nem lembramos mais por que existem). A captação de recursos por startups do setor imobiliário não é, de maneira nenhuma, uma novidade.
No começo desse ano (2019) um dos maiores investidores de capital de risco do mundo, o Softbank, anunciou um fundo de mais de R$ 20 bilhões para investimento em startups da América Latina, e desde então as notícias sobre startups não saem mais da mídia. Recentemente, esse fundo anunciou um investimento de mais de R$1 bilhão de reais em uma startup de aluguel de imóveis, o Quinto Andar.
A era dos unicórnios
Um unicórnio é uma empresa que vale mais de um bilhão de dólares (normalmente startups são chamadas assim). Na indústria imobiliária, a norte americana Compass foi a primeira a chegar a esse marco, já no Brasil a primeira foi o Grupo Zap, startup de anúncio de imóveis dona do Zap Imóveis, Viva Real, entre outras marcas.
O que é interessante aqui, é que essa tendência de startups com valor de mercado estratosféricos não é restrita aos Estados Unidos ou a China. As PropTechs são um fenômeno verdadeiramente global.
Proptech: o que está em jogo para síndicos e condomínios?
Primeiro de tudo, o fato de que alguém (e não fui eu) inventou um novo nome para empresas de uma indústria (sejam startups, fintechs, proptechs), não significa que isso é um tendência real e claramente definida. Entretanto, a mostra que algumas pessoas acham importante classificar essas empresas e por "pessoas" eu quero dizer investidores.
Não me admira que nunca vimos tanto recursos sendo investidos em tecnologia na América Latina. Lembra como a indústria de locação de filmes não se preocupou com as plataformas de streaming? Ou taxistas com a chegada dos apps de mobilidade? Excessivamente autoconfiantes, não foram páreo para as startups que trouxeram uma experiência melhor a um custo reduzido. Mesma história com Kodak (lembra dela?) e fotografia digital. A inovação é uma realidade e cada vez mais essas melhorias estarão em nossos condomínios facilitando nosso dia a dia e deixando mais tempo para nós mesmos.
Você pode pensar que os colaboradores dos bens imobiliários são mais imunes a esta tendência porque controlam a operação e consequentemente não podem facilmente ser vítimas. Hoje, na verdade, é difícil imaginar que uma empresa não prefira eficiência e baixo custo, e logo logo nosso condomínio ficará mais profissional e começará a pensar assim também.
A tecnologia é o que ajuda a manter a indústria imobiliária em seus dedos. Cada vez mais, novos atores estão inundando o mercado, oferecendo ferramentas e soluções para os profissionais imobiliários, ou abrigando a ambição de se tornar o "Uber de Imóveis".
Todos os setores da indústria imobiliária estão sendo reinventados pela ascensão de PropTechs.
As imobiliárias tradicionais estão perdendo espaço para as startups de anúncio e gestão de imóveis de aluguel (como o Viva Real, Imovelweb ou Quinto Andar) ou em vendas (como a EmCasa e a Loft). Já em condomínios, a Administradora LAR.app (fundada pelo autor deste artigo) busca acelerar os processos de um condomínio e redução de custos, enquanto a Condofy disponibiliza uma plataforma para autogestão do condomínio.
E não é difícil encontrar várias outras startups que atuam em condomínios, como a Kiper e a Folk (portaria remota), CollectSpot e iFood Box (entregas em condomínios) ou até mesmo de serviços em gerais para casas e condomínios como o GetNinjas (plataforma de serviços). Poderíamos estender os exemplos a várias páginas de artigos, mas a ideia aqui não é essa.
As inovações estão emergindo através de todos os setores da indústria imobiliária: o coworking (espaço compartilhado de escritórios) está interrompendo o setor de espaço de escritório, a convivência está oferecendo novas alternativas em imóveis residenciais, a troca de casa está crescendo cada vez mais e aluguéis sazonais são muito populares. Com todas essas mudanças, devemos ver várias novas profissões em condomínios e a possível extinção de outras.
Posso apostar com você que a cada cinco minutos surgem novas ideias que tornarão o mercado imobiliário muito mais eficiente, e por sua vez, nossos condomínios também.
Como devem os síndicos (profissionais ou não) se comportar com a ascensão de Proptech? Que soluções serão fornecidas?
É importante começar com a realização de que a mudança é real e inevitável. Por exemplo, é mais fácil buscar informações sobre condomínios aqui no Sindiconet do que em um jornal, não? Não há nenhuma razão para temer a mudança, porém, tudo que você precisa fazer é abraçá-la. Para não perder o costume dos meus outros artigos aqui do Sindiconet, separei 6 dicas úteis para guiá-lo ao longo do caminho:
- Mantenha-se com notícias da indústria: Leia sites especializados regularmente. Quanto mais informado você for, melhor será a sua capacidade de antecipar mudanças no mercado e atender às necessidades de seus clientes onde quer que eles estejam.
- Invista: Invista em equipamentos e ferramentas que tragam eficiência financeira e operacional.
- Experiência: você está com sorte. Você tem clientes e condôminos que estão por aí esperando para melhorar o dia a dia em suas casas.
- Inovação: a cada semana, gaste um tempo pensando em como você pode melhorar a maneira como você trabalha ou a satisfação dos condôminos. Isso garantirá que você permaneça competitivo no mercado, não importa o que aconteça por causa de uma PropTech.
- Agregue valor: esta é a chave. Certifique-se de entregar melhorias consistentes para o condomínio.
- Mantenha-se com as gerações mais jovens: permaneça de mente aberta e consciente de seus padrões de consumo estão em mudança. As gerações mais novas são os condôminos de amanhã.
Para finalizar, a minha dica é: não se esqueça que a chave é manter-se atualizado e evitar a negação. Hoje como um profissional (seja do setor imobiliário ou não), você está na melhor posição para conhecer e antecipar suas necessidades. A inovação e a tecnologia não serão bem-sucedidas se não cumprirem as necessidades dos clientes. Por isso, se os seus clientes estão satisfeitos, a tecnologia e a inovação não são necessárias. Cabe a você atender às necessidades de seus clientes. A tecnologia é apenas um meio.
(*) Rafael Lauand (@rafalauand) é Engenheiro de Produção formado pela UFPR; especialista em controladoria e finanças pela UFPR; especialista em 'Data Science' pela John Hopkins University; sócio-fundador da LAR.app Administradora de Condomínios; professor do INSPER no curso de Direito das Startups; e conselheiro de empresas de tecnologia. Rafael foi um dos pioneiros no mercado de startups da geração 'mobile', com atuação desde logística à saúde, e também teve experiência como sócio de algumas startups de tecnologia brasileiras.