Protesto infantil
Crianças conseguem autorização para brincar em prédio em Brasília
Síndica cede pipoca e animadores para Brincalhaço da 312 Sul, mas não escapa da polêmica
O desabafo de uma mãe no Facebook desencadeou uma corrente de solidariedade e reacendeu a discussão sobre o uso de espaço comum na cidade. Larissa Villela, de 31 anos, reclamou, na última quinta-feira (26), que suas duas filhas foram impedidas de brincar no pilotis do bloco H, na 312 Sul, por ordens da síndica Maria Salete Borges de Almeida Leonardo.
A desavença originou um Brincalhaço embaixo do prédio, que reuniu centenas de pessoas na manhã deste domingo (29).
A síndica se defendeu das críticas sofridas e garantiu ter providenciado barraquinhas de comida e até animadores de festa para receber as crianças no evento. A boa ação não foi o suficiente para ela escapar das críticas.
“O problema foi ela achar que tinha de aplicar um regimento de 1971. Eu reclamei em assembleia que ela estava impedindo minhas filhas de brincar e ela respondeu que eram as normas”, reclamou a autora do desabafo inicial, Larissa Villela, presente no Brincalhaço.
Maria Salete, por sua vez, disparou contra a mãe. Depois de salientar que está há 13 anos na administração do bloco, a síndica afirmou ter sofrido uma injustiça, pois nunc ateria proibido brincadeiras.
“Fiquei muito magoada porque quando você é acusada injustamente de uma coisa que você não fez, a sua primeira reação é a raiva”, comentou. Segundo ela, o regimento interno apenas não permite o passeio de bicicletas embaixo do bloco, mas por motivos de segurança.
Chamado para acompanhar a situação, o conselheiro tutelar Kleiton Guimarães frisou que a Constituição Federal garante às crianças e a qualquer cidadão o livre acesso e uso de áreas públicas.
“Ela falou que não proibiu, que apenas mostrou o estatuto, e eu sugeri ela convocar uma assembleia para discutir esse problema. A responsabilidade sobre as crianças é dos pais e não do bloco”, explicou.
Morador do bloco H há pelo menos 20 anos, o geógrafo Igor Soares, de 27 anos, reconheceu que a síndica foi a única a querer assumir a administração na última década, devido à complexidade das reformas pelas quais o prédio passa há cerca de cinco anos. A longevidade no cargo, porém, teria subido à cabeça da mulher.
“Ela quer sempre impor só o que ela pensa. Ela trata isso aqui como se fosse o feudo dela”, alfinetou.
“Se a segurança for desculpa para não deixar as crianças brincarem, então nenhuma vai poder se divertir em 90% dos prédios de Brasília”, complementou.
Representando o Governo de Brasília, que já havia se manifestado nas redes sociais favoravelmente ao desabafo de Larissa Villela, o secretário da Criança, Aurélio Araújo, reforço a defesa às brincadeiras embaixo do bloco.
“As pessoas não entendem o alcance histórico da proposta de Lúcio Costa. Esse pilotis é espaço de convivência, não é apenas de uso público”, salientou.
Uma moradora que preferiu não se identificar e um síndico do bloco vizinho se manifestaram favoravelmente à restrição de uso do pilotis. A senhora afirmou que Maria Salete era “uma boa pessoa, mas não sabia se expressar muito bem”, enquanto o homem reclamou que “se embaixo do bloco é área pública, então vamos chamar os mendigos para morarem aqui”.
O Jornal de Brasília acompanhou o Brincalhaço até por volta do meio-dia, quando ainda havia uma grande aglomeração embaixo do bloco. Em um evento marcado pelo Facebook, o horário definido para encerrar as atividades era às 18h.
Fonte: http://www.jornaldebrasilia.com.br/