'Os condomínios são células da sociedade', diz especialista
Quando Rosely Schwartz, 57, começou a estudar a dinâmica de condomínios residenciais, na década de 1990, pouco se falava na formação de profissionais para gerir a rotina dos prédios. Cerca de 20 anos depois, o cenário é diferente, com cursos e literatura especializada na área.
Professora de administração de condomínios e síndico profissional da EPD (Escola Paulista de Direito), Schwartz enxerga parcelas da sociedade reproduzidas nesses espaços compartilhados. Para ela, assim como está saindo às ruas para protestar, o paulistano agora começa a se envolver, aos poucos, na construção coletiva de soluções para os problemas que existem debaixo do próprio teto.
Quanto evoluiu a gestão de condomínios nesses 20 anos?
O que percebo na própria sala de aula é que antes meus alunos eram aposentados e hoje há um grande número de mulheres e jovens assumindo essa responsabilidade. Os condomínios são uma pequena célula da nossa sociedade. O que está acontecendo lá fora -os movimentos sociais, as pessoas tomando as ruas para questionar uma série de coisas- também está ocorrendo do lado de dentro.
Como isso se traduz para a realidade dos condomínios?
Os moradores estão questionando e se envolvendo mais, querendo saber onde o dinheiro é aplicado. Mas, para esse questionamento ter qualidade, também é necessário que a pessoa tenha conhecimento. Há condomínios que são verdadeiras minicidades e é preciso haver maior profissionalismo e participação para que eles sejam bem administrados.
O paulistano tem esse perfil participativo?
Estamos começando. As pessoas estão buscando conhecer um pouco mais. Alguns dos meus alunos são apenas moradores que querem entender o que é morar em condomínio para, no futuro, se candidatar a uma gestão, o que é bom. Mas ainda há o que melhorar, como a participação em assembleias, que chega apenas a 20% de presença. Por isso é importante que o síndico seja essa pessoa aglutinadora, que incentive o envolvimento de todos os moradores.
Houve uma mudança nas preferências do paulistano? Se antes ele buscava quarto e sala espaçosos, hoje ele prefere a "varanda gourmet"?
É uma febre, as varandas gourmet têm muito apelo. Ali você pode receber amigos, fazer o seu churrasco particular em vez de usar a churrasqueira do prédio, é um local maior e só seu. Agora há até os chamados "cachorródromos", onde os moradores podem levar os animais sair passear. Outros condomínios têm salão de beleza, brinquedoteca e espaços com proteção acústica onde os jovens podem ensaiar com suas bandas e ouvir música alta. São novos luxos com os quais as construtoras estão muito antenadas.
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