Exigência de unanimidade dificulta reforma de fachadas
A colocação de sacadas em fachadas é uma tentação para moradores de prédios antigos em busca da atualização estética dos imóveis. A exigência legal de aprovação unânime dos condôminos para a realização de reformas, no entanto, frustra a maioria das iniciativas de transformação.
'Já cansei de fazer projetos que não tiveram sequência. Seguramente, passam de 50', diz o arquiteto Roberto Candusso, cujo escritório foi responsável em 2006 pela reforma da fachada do Edifício Marambaia, nos Jardins, com a instalação de terraços.
De acordo com a gerente de projetos legais da Candusso Arquitetos, Rachel Vasconcellos, a Prefeitura solicita atas de reuniões condominiais com a anuência de 100% dos proprietários antes de conceder alvarás de aprovação e execução de reformas. 'Ela (a administração pública) precisa ter segurança absoluta de que todos os proprietários estão cientes e de acordo.'
Condômino de um edifício com 28 unidades na Vila Nova Conceição, Luiz Fernando Sambugaro, de 70 anos, tenta há quase dois anos aprovar sem sucesso uma reforma para modernizar a fachada e ampliar para 30 m² as sacadas do prédio. 'Chamo isso de ditadura das minorias. A última reunião foi a mais decepcionante, com argumentos do tipo: 'Não importa a valorização, porque não pretendo vender'', conta. 'Com a possibilidade de aumentar de 30% a 50% o valor do imóvel em dois anos, é difícil não querer', lamenta.
Apesar da expectativa de retorno, esse tipo de obra não é barata e se caracteriza pela complexidade, como mostra a reforma no Edifício Ronchamp, no bairro do Gonzaga, em Santos.
'Já tentei fazer também outros prédios. Mas existem tantas peculiaridades que eu acredito que será muito difícil um segundo caso', diz Daniel Proença, um dos responsáveis pelo projeto arquitetônico da intervenção.
Segundo ele, a colocação de terraços exige, entre outras coisas, a reforma de todas as faces da fachada, supressão de vagas para a implantação de vigas de sustentação e da elaboração de novas escrituras, necessárias pelas alterações das áreas comuns e privativas do condomínio. 'Acho que vai ser filho único.' A obra na parte externa do edifício segue por mais seis meses.
A construção de sacadas também não é simples, de acordo com a arquiteta Gabriela Sayd Mogames: 'Tomamos muito cuidado com o tamanho das varandas, porque elas estão em balanço. Temos que nos preocupar com patologias como infiltrações', diz a especialista.
Por outro lado, a intervenção nessas estruturas exigem cuidados, Segundo Gabriela, a instalação de piscinas em terraços podem ocasionar trincas nos prédios por interferirem na dilatação das paredes dos edifícios.
A falta de perícia, como a construção de sacadas no nível das lajes dos apartamentos, podem causar ainda transtornos, como alagamentos nos imóveis.
Fonte: http://estadao.br.msn.com
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