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Ambiente

Condomínios ilhados

RS: Moradores e animais são resgatados em apartamentos

quinta-feira, 9 de maio de 2024
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A enfermeira Juliane Cunha estava no trabalho e o filho, Caio, 8 anos, na escola, quando a água começou a invadir o condomínio onde moram, no bairro Mato Grande, em Canoas, Rio Grande do Sul. "No momento em que a água começou a entrar no condomínio, já decidimos sair de casa. Tentamos fazer barricadas com sacos de areia em frente as torres para conter seu avanço, mas ela entrou pelos ralos do apartamento e passou da altura da barricada", explicou.

"Consegui tirar pouquíssimas coisas — peguei o vídeo game do meu filho, para distraí-lo até voltarmos; levei a geladeira e a máquina de lavar para o corredor do segundo andar; e o restante ergui em cima de tijolos e cadeira. Peguei uma muda de roupa pra mim e duas pro meu filho, nossa cadelinha e saímos. Em nenhum momento passou pela minha cabeça que a água subiria dessa forma. Pensei que não entraria no apartamento e, caso entrasse, seria no máximo até a canela. E que, no máximo, em dois dias, eu poderia retornar", continua.

Juliane mora no local há mais de dez anos e, segundo ela, nunca havia alagado. "Só percebemos a real gravidade depois que saímos de casa e recebemos as fotos dos vizinhos, que permaneceram no condomínio, em andares superiores. Vimos que a água não parava de subir. O pé direito tem 2,38 metros, e subiu até o teto. Nosso apartamento é térreo e, desde então, não conseguimos acesso, pois ele permanece submerso", contou.

Segundo Juliane, o filho está bem, entende a situação, mas como não viu as fotos e imagens, segundo a mãe, não tem dimensão da gravidade. "Por vezes, ele questiona se a água chegou até a prateleira dos super heróis dele, mas eu converso e explico que, mesmo que tenha molhado, a gente lava e está tudo bem. Estamos abrigados na casa do pai dele, junto com os tios e a prima, e toda vez que falamos sobre a enchente, ele pede pra mudarmos de assunto", revelou.

Juliane atua como enfermeira em uma unidade de saúde de Gravataí, mas, desde que saiu de casa, não conseguiu voltar ao trabalho. "Estou de atestado essa semana, pois não tenho condições psicológicas de trabalhar", disse. "O sentimento é de impotência, frustração e alívio… Impotência por não ter o que fazer, a não ser esperar. Frustração por não ter tirado as coisas de casa, pelo menos as roupas. E alívio por estarmos vivos e em segurança", afirmou.

Quando questionada sobre como ela imagina que serão os próximos dias, Juliane respondeu:

"Acredito que quando a água baixar, serão os dias mais difíceis. De fato, vamos ver o que realmente nós perdemos. Além das coisas materiais que iremos recuperar com o tempo, tem os pertences de valor afetivo — fotos, quadros, vídeos, lembranças de uma vida que foram destruídas pela água. Será um recomeço e sou grata por todo o apoio que estou recebendo dos meus familiares e amigos. Nunca imaginei passar por essa situação e as pessoas não tem ideia que um simples 'força, vai ficar tudo bem' faz com que nosso coração fique quentinho, e a gente tenha força pra continuar, recomeçar e se reerguer", finalizou.

Homem resgata cães de vizinha

A enchente que deixou parte da zona norte de Porto Alegre submersa engoliu casas, praças e automóveis nos últimos dias. Apesar dos esforços contínuos de voluntários e bombeiros para resgatar famílias que ficaram ilhadas, algumas vezes, a retirada dos animais de estimação se torna inviável.

Foi o que aconteceu com uma vizinha de condomínio do seu Tiba - o nome de batismo é Tibúrcio Barbosa, mas ele prefere o apelido -, 58 anos. Ela precisou sair de casa, no bairro Humaitá, e não conseguiu pegar seus pets. Por volta de 10h30min de terça-feira (8), seu Tiba desembarcou na elevada do Viaduto José Eduardo Utzig, pela Rua Pereira Franco, no bairro São João, com o cão Lukinha e a cachorra Belinha, ambos da amiga. 

Natural de Não-Me-Toque, ele mora em Porto Alegre há 38 anos e diz que nunca tinha visto nada assim. A esposa havia saído de casa no sábado (4), quando ficaram isolados, sem luz e sem água, e se refugiou na casa de amigos no Litoral. A grande decepção dele foi não ter conseguido resgatar sua gata.

"Ela é muito arisca e subiu no roupeiro, arranhou as pessoas. Não conseguimos pegar. Pelo menos tem comida para um mês", pontua.

No mesmo barco em que ele chegou, vieram vizinhos do mesmo condomínio, que teve o térreo inundado. Os resgates ocorrem em diferentes pontos da região.

Na saída do viaduto pela Rua Souza Reis, o voluntário João José de Carvalho auxiliava na organização dos botes salva-vidas. Ele conta que veio com o filho, que é bombeiro voluntário, em um grupo de 30 pessoas de diferentes cidades do litoral paranaense.

"Alugamos uma van para vir e vamos ficar até domingo pelo menos. Tivemos muitas dificuldades de acesso. Mas fizemos tudo para poder ajudar essas pessoas", diz.

Resistência de moradores preocupa voluntários

Um idoso e mais três pessoas se recusam a sair da própria casa numa área atingida pela enchente na capital gaúcha. Equipes de resgate tentam convencer o homem a deixar o local por motivo de segurança, o que foi acompanhado pela reportagem do Brasil Urgente, nessa terça-feira (7).

O medo dos voluntários é que o nível da água suba a ponto de impedir o salvamento da família. Neste momento, é possível retirar as pessoas do apartamento, visto que a equipe consegue entrar no prédio.

Perguntado sobre o motivo de não sair, o homem disse apenas que não sairia.

Inundação histórica

Porto Alegre, assim como as cidades do entorno, estão sob alerta de “inundação severa” devido à elevação do nível do Guaíba. Na manhã de segunda-feira (6), o rio atingiu o maior patamar da série histórica — 5,33 metros, informou a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) e a Agência Nacional de Águas (ANA). Antes disso, o máximo registrado foi 4,76 metros em 1941.

Furtos e violência 

Moradores que preferiram não se identificar comentaram que durante a noite é possível ouvir disparos de arma de fogo pelas ruas e que muitas famílias não querem deixar suas casas por medo de furtos. Voluntários que trabalharam na madrugada desta quarta-feira relatam que houve tumulto após um homem efetuar disparos para o alto. 

A Brigada Militar reforça a segurança dos resgatistas e mantém policiais 24 horas acompanhando as buscas. O Exército também mantém efetivo auxiliando nas buscas pelas vítimas.

Fontes: Revista Crescer, GZH, Rede Bandeirantes

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