RJ: Morte de trabalhador
Vigilantes de condomínio matam pedreiro acusado de furto
[Atualização - 17/10] Seguranças são indiciados por morte de pedreiro em condomínio de luxo
Seguranças ainda esconderam provas do crime e dificultaram investigação
A investigação do caso pela Polícia Civil do RJ indiciou três funcionários e o representante legal da empresa de segurança Grupo Hawk Segurança e Vigilância Ltda por homicídio do pedreiro Claiton Jorge Pereira da Costa, que foi morto em 28 de janeiro de 2022 em um condomínio de luxo da Barra da Tijuca.
Além disso, também são acusados de porte ilegal de arma de fogo, fraude processual e usurpação de função pública. Segundo as apurações do homicídio, os funcionários atiraram cinco vezes contra o pedreiro e modificaram as gravações das câmeras de segurança do local.
Segundo o relatório final do inquérito, ao qual o EXTRA teve acesso com exclusividade, por volta das 6h de 28 de janeiro, Clailton foi baleado na cabeça. Os cinco disparos também atingiram a parte traseira de seu carro, um Fiat Palio.
Os disparos foram feitos por Felipe Oliveira Vieira e Eduardo do Nascimento Gonçalves, ambos do Grupo Hawk Segurança e Vigilância Ltda. A empresa é contratada pelo pelo Condomínio Del Lago para prestação de serviços de segurança armada, monitoramento de câmeras do circuito interno, limpeza e jardinagem
“Coincidentemente, as imagens fornecidas pela Hawk são somente aquelas que, em tese, demonstram o possível crime de furto praticado por Clailton. Absolutamente nenhuma câmera que tenha relação com a abordagem dos vigilantes foi apresentada. Pelo princípio da boa-fé objetiva e o manifesto interesse pelo ônus probatório, a empresa seria a maior interessada em fornecer as imagens que comprovariam a versão narrada pelos seus prepostos”, destaca um trecho do documento, assinado pelo delegado Leandro Gontijo, titular da 16ª DP.
O relatório do Instituto de Medicina Legal (IML), ao investigar a causa da morte de Claiton, também revelou irregularidades nas trajetórias dos disparos, comprovando a edição das imagens de segurança.
Além disso, o relatório ainda declara que “os vigilantes, em franca usurpação da função pública de policiamento ostensivo, portando arma de forma ilícita, o constrangeram mediante grave ameaça para que ele saísse do carro, encostasse na parede e aguardasse a presença da PM”.
Portanto, Felipe e Eduardo foram acusados de assassinato, porte ilegal de arma de fogo e usurpação de função pública. Michel Borges da Silva, representante legal da Hawk, irá responder por homicídio por omissão, porte ilegal de arma, fraude processual e favorecimento real. Já o técnico de TI Alex Dias Braga da empresa, vai responder por favorecimento real, fraude processual e falso testemunho, uma vez que, em depoimento à polícia, mentiu que as imagens de segurança eram apagadas a cada cinco dias e que as gravações só eram ativadas por sensibilidade ao movimento.
Histórico do caso
Essa decisão das autoridades aconteceu nove meses após a morte de Claiton e com inúmeras dificuldades durante as investigações. Inicialmente, o episódio foi interpretado como resposta em legítima defesa após uma tentativa de roubo.
A primeira versão dos fatos foi dada pelos seguranças do condomínio, na qual alegaram que Claiton tentou roubar seis baldes de massa acrílica, um ancinho de jardim e um rolo de 20 metros de cano de cobre, que estavam sendo utilizados em obras de uma casa. Assim, os funcionários teriam abordado o pedreiro que concordou em parar, porém tentou fugir com um carro quando descobriu que a Polícia Militar seria acionada.
Dessa forma, alegaram que ele avançou com o carro para cima dos seguranças e, então, foram feitos os disparos supostamente em legítima defesa. Os cinco tiros acertaram o carro e a cabeça de Claiton.
Ainda com vida, a vítima foi levada ao hospital e foi preso em flagrante por roubo impróprio (com emprego de violência ou grave ameaça), e a ação dos seguranças, classificada como legítima defesa. Claiton permaneceu por 11 dias em coma induzido até não resistir e morrer em 8 de fevereiro.
Apesar do esclarecimento acerca do assassinato, a justiça ainda não foi concluída, visto que os culpados ainda estão em liberdade e a família da vítima sofre com dificuldades financeiras. Claiton era pai de oito filhos e sustentava sua família.
Polícia espera ouvir síndica de condomínio na Barra onde pedreiro foi morto por seguranças
Ela é esperada para prestar depoimento na 16ª DP (Barra da Tijuca) sobre a morte, que aconteceu no fim de janeiro e não tinha sido investigada. Inquérito foi reaberto após reportagem do g1 e do RJ2
A Polícia Civil espera ouvir nesta terça-feira (24) a síndica do condomínio de luxo da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, onde o pedreiro Clailton Jorge Pereira da Costa foi morto por seguranças. Claiton foi baleado no fim de janeiro.
A síndica deve prestar depoimento na 16ª DP (Barra da Tijuca). A empresa de segurança privada afastou os vigilantes por cinco dias, mas eles já voltaram ao trabalho.
A morte foi há quatro meses, e o crime não foi investigado. No sábado (21), a polícia decidiu reabriu o inquérito, um dia depois do caso ser revelado pelo g1 e pelo RJ2.
Até sexta-feira (20), a morte do pedreiro, pai de oito filhos, não era investigada. Clailton foi alvo de cinco disparos feitos por seguranças do Condomínio Del Lago que o acusavam de roubar materiais de obras das mansões do condomínio. Um dos disparos atingiu o pedreiro na cabeça.
Ele chegou a ser socorrido para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra, ficou em coma induzido, mas morreu dias depois.
Mansões do condomínio não são vendidas por menos de R$ 6 milhões.
'Mataram meu marido!'
"Quando eu cheguei no hospital, ele [irmão de Claiton] segurou no meu ombro e falou: 'cunhada, ele não sofreu acidente, não. Ele tomou um tiro na cabeça'. Eu caí no chão na hora. Eu falei: 'mataram meu marido! Tiraram a vida do meu marido! Por que fizeram isso com ele?' Meu cunhado falou: 'não sei'.", contou ao g1 e ao RJ2 a viúva de Clailton, Kelly Cristina Silva.
"Foi feito tudo de qualquer maneira. (...) Tem alguma coisa errada nisso aí. Fizeram uma covardia", acrescentou a viúva, em entrevista na semana passada.
O advogado da família, José Dimas Marcondes, disse que a defesa precisou "provocar" o Estado para que diligências fossem feitas.
"Nós tivemos que provocar o estado para que fizessem as diligências necessárias. O laudo pericial do carro, se existe, não tivemos acesso. As câmeras de segurança, foi o mesmo requerimento que fiz na delegacia...O momento do disparo, da abordagem, não tivemos acesso até agora."
Vídeo mostra pedreiro baleado em condomínio na Barra caído ao lado de carro; família cobra investigação
Claiton Jorge Pereira da Costa, de 40 anos, foi baleado na cabeça por vigilantes de condomínio de luxo
Imagens obtidas com exclusividade pelo g1 mostram os momentos seguintes à ação que terminou com o pedreiro Claiton Jorge Pereira da Costa, de 40 anos, sendo baleado na cabeça por seguranças de um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.
A gravação não mostra os vigilantes da empresa Hawk atirando no carro de Clailton. Essa, inclusive, é uma das cobranças feitas pela família do pedreiro, que exige uma investigação sobre o caso. Segundo a polícia, a Justiça não determinou que o caso fosse apurado.
O trecho disponibilizado pelo condomínio à polícia, e depois aos parentes de Clailton mostra o pedreiro, atingido por um tiro na cabeça, caído ao lado do próprio carro, em cima de um quebra-molas. Enquanto isso, quatro vigilantes do condomínio Del Lago estão ao redor do veículo.
Em nota ao g1 e à TV Globo, o Grupo Hawk confirmou ser a empresa de vigilância no Condomínio Del Lago. A empresa acrescentou que o processo envolvendo os empregados "está findo, com a extinção de punibilidade pelo falecimento do réu [Clailton]".
Segundo o Grupo Hawk, "os vigilantes adotaram a conduta proporcional ao ato, agindo conforme seu arbítrio, no momento, e respaldando-se na formação recebida em curso atualizado da Polícia Federal que os habilitou, estando ambos em dia com a ata que os autoriza a exercer o seu ofício. Objetivaram evitar a fuga do meliante e resguardar a própria vida".
Diz a empresa que "os vigilantes envolvidos no fato foram imediatamente afastados pelo prazo de 5 dias, tendo sido imediatamente notificada a Polícia Federal. A companhia acrescentou que "após os procedimentos de praxe e análise psicossocial dos vigilantes, [eles] foram considerados aptos para retornar ao trabalho".
Quatro meses sem resposta
A família de Claiton Jorge Pereira da Costa está há quase quatro meses depois. O pedreiro foi alvo de cinco disparos feitos por seguranças do Condomínio Del Lago que o acusavam de roubar materiais de obras das mansões do conjunto residencial.
Socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra, Clailton passou 11 dias em coma induzido. O pedreiro não resistiu ao ferimento e morreu às 12h55 do dia 8 de fevereiro.
"Quando eu cheguei no hospital, ele [irmão de Claiton] segurou no meu ombro e falou: 'cunhada, ele não sofreu acidente, não. Ele tomou um tiro na cabeça'. Eu caí no chão na hora. Eu falei: 'mataram meu marido! Tiraram a vida do meu marido! Por que fizeram isso com ele?' Meu cunhado falou: 'não sei'.", contou ao g1 a viúva, Kelly Cristina Silva.
Segundo o advogado de defesa que representa a família de Clailton, as circunstâncias da morte não foram investigadas pela polícia ou pelo Ministério Público. Além disso, como informou a polícia, a Justiça também não determinou que haja apuração do caso.
"Foi feito tudo de qualquer maneira. (...) Tem alguma coisa errada nisso aí. Fizeram uma covardia", acrescentou a viúva.
O advogado da família, José Dimas Marcondes, contou que a defesa precisou "provocar" o Estado para que diligências fossem feitas.
"Nós tivemos que provocar o estado para que fizessem as diligências necessárias. O laudo pericial do carro, se existe, não tivemos acesso. As câmeras de segurança, foi o mesmo requerimento que fiz na delegacia...O momento do disparo, da abordagem, não tivemos acesso até agora."
Tiro na cabeça
Clailton Jorge Pereira da Costa, 40 anos. Cor: preta. Causa da morte: ferimento penetrante do crânio com laceração do encéfalo; projétil de arma de fogo. As informações constam na Certidão de Óbito do pedreiro, morador de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, e pai de oito filhos.
Eram por volta de 5h da manhã do dia 28 de janeiro quando Clailton foi baleado na cabeça dentro do Condomínio Del Lago. Segundo a viúva, Clailton trabalhava havia 19 anos no conjunto residencial onde mansões não são vendidas por menos de R$ 6 milhões.
Os autores de cinco disparos contra o carro de Clailton são dois vigilantes do condomínio, funcionários da empresa de segurança Grupo Hawk. O g1 não conseguiu entrar em contato com a companhia.
Na 16ª DP (Barra da Tijuca), o caso foi registrado pelos seguranças como tentativa de roubo. Um PM do 31º BPM (Barra da Tijuca), que atendeu a ocorrência, também narrou na delegacia como tudo teria acontecido, endossando a versão dos vigilantes.
Nos depoimentos, os seguranças do condomínio Eduardo do Nascimento Gonçalves e Felipe Oliveira Vieira alegaram ter atirado porque Clailton tentou fugir com materiais furtados de obras nas mansões.
Apresentados na delegacia, os objetos que os vigilantes disseram ter encontrado no carro de Clailton foram:
- sete baldes de massa acrílica
- um pen drive
- um ancinho de jardim
- um rolo de 20 metros de fio de cobre para ar condicionado.
As versões dadas pelos seguranças na 16ª DP, quase idênticas, narram que Clailton não teria acatado a ordem deles para permanecer com o carro no condomínio até que a polícia chegasse no local.
Felipe e Eduardo acrescentaram que o ajudante de pedreiro agiu com “extrema violência” ao arrancar com o carro durante a abordagem e tentar fugir.
Eles concluem os depoimentos da mesma forma: “em razão dos fatos, em legítima defesa, efetuou os disparos”.
Mira no pneu, tiro na cabeça
Outro detalhe é que ambos alegaram ter mirado nos pneus do carro de Clailton, mas fotos mostram que ao menos um disparo atingiu o vidro traseiro do veículo.
A delegada Marise Martinez Furtado encaminhou o auto de prisão em flagrante do pedreiro à Justiça, e o caso também foi comunicado ao Ministério Público.
Claiton foi indiciado por roubo e permaneceu preso até morrer no hospital. Os seguranças foram liberados e o homicídio, segundo a família e o advogado que a representa, não foi investigado.
"Eu quero justiça. Os caras que fizeram têm que ser presos porque eles tiraram a vida de um pai de família. Eles destruíram a nossa família. Eles acabaram com a minha vida. Eles destruíram a vida dos meus filhos", diz a viúva.
MP foi contrário a pedido da defesa
No processo em que Clailton era réu pelo suposto roubo, o promotor de Justiça José Antônio Fernandez Souto foi contrário ao pedido da defesa para que os dois vigilantes que atiraram no pedreiro passassem a responder pelo homicídio.
O promotor alega que o artigo 31 do Código Penal "se refere ao falecimento do ofendido e não do réu". Sendo assim, o representante do MP acrescenta que "o processo criminal, naturalmente, não pode prosseguir, tendo este último [Clailton] falecido".
"A apresentação dos dois vigilantes que prenderam o acusado e efetuaram os disparos citados na denúncia, para responderem por homicídio, é também um pedido juridicamente impossível, podendo somente ser instaurado inquérito para apurar as circunstâncias e a autoria da morte do acusado, o que, diante da notícia de sua morte por PAF [perfuração por arma de fogo], já deve inclusive ter ocorrido."
Entretanto, conforme a polícia informou abaixo a equipe de reportagem, não houve determinação da Justiça para que a morte fosse apurada.
Na manifestação, o MP opinou pela extinção da punibilidade de Clailton, o que foi acatado pela juíza em exercício Luciana Fiala de Siqueira Carvalho, da 31ª Vara Criminal da Capital.
O que diz a polícia
Em nota, a Polícia Civil informou que, "de acordo com as investigações da 16ª DP (Barra da Tijuca), Clailton Jorge Pereira da Costa teria cometido furto de materiais de obras das residências localizadas no condomínio".
"Ele teria jogado o carro para cima dos seguranças, que revidaram, em legítima defesa. O homem foi preso em flagrante e levado para uma unidade de saúde, mas acabou não resistindo. A Justiça não determinou a apuração da morte e extinguiu a punibilidade pelo falecimento do réu", diz o texto.
https://jornalistaslivres.org/segurancas-sao-indiciados-por-morte-de-pedreiro-em-condominio-de-luxo/ https://g1.globo.com