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"Roupas mais adequadas"

PR: Vizinho deixou carta reclamando de jovem

quarta-feira, 2 de junho de 2021
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[13/05/2021] Vizinho que reclamou de roupas de jovem é investigado por crime contra a honra; vítima pede respeito: ‘Sou mulher e livre’

Psicóloga e pesquisadora da Universidade Estadual de Maringá afirma que carta é reflexo do machismo, de uma visão da sociedade de julgar apenas o corpo da mulher.

O vizinho que mandou uma carta para a jovem Ana Paula Benatti, de 22 anos, reclamando das roupas usadas por ela em condomínio localizado em um distrito de Maringá, no norte do Paraná, é investigado pela Polícia Civil pelo crime contra a honra, que tem pena máxima de dois anos.

A polícia pediu as imagens de câmeras de segurança da área externa do prédio, não há câmeras nos corredores dos andares, para tentar identificar o responsável pelo texto. Além disso, o síndico e moradores do condomínio devem ser ouvidos nos próximos dias.

“Temos equipe na rua investigando o caso, tentando ver se tem alguma testemunha que possa ter presenciado o ocorrido. Por enquanto, investigamos um crime contra a honra, mas não descartamos que possa ter mais coisas por trás dessa história”, explicou o delegado Mateus Ganzer.

Ana Paula foi surpreendida por uma carta de um vizinho embaixo da porta do apartamento no dia 7 de maio. No texto o vizinho afirmou que ela deveria se dar o respeito porque ele, "como homem e pai de família", ficou com vergonha.

Na carta, o morador disse ainda que no local moram várias pessoas casadas e de várias religiões, por isso ela deveria "usar roupas adequadas", e encerrou dizendo “aqui não é zona”.

Mesmo se sentindo ameaçada, a jovem, que é escriturária hospitalar, registrou um Boletim de Ocorrência. Ela disse que não ficará calada.

“Sou mulher e sou livre, então tenho o direito de escolher o que usar, o que vestir, o que fazer. Tenho que ser respeitada, independente do que visto e do que eu faço. Todas as mulheres merecem respeito”, desabafou.

Ameaças nas redes sociais

E se não bastasse a ameaça de um vizinho, após a repercussão do caso, Ana Paula Benetti precisou fechar os comentários das fotos nas redes sociais, pois várias pessoas foram até o perfil dela deixar comentários de baixo calão, a ofendendo e culpando pela situação.

Também nas redes, ela abriu uma “caixa de perguntas” para conversar com outras mulheres que também já sofreram algum tipo de assédio. Algumas respostas que ela recebeu - sendo a maioria de homens - foram pedindo para que ela mandasse fotos com a roupa que ela usava em casa.

Para a psicóloga e professora da Universidade Estadual de Maringá, Eliane Maia, casos como o de Ana Paula refletem a cultura machista, presente entre homens e mulheres também.

“Alguns homens andam sem camisa, cuecas aparecendo e a população não vê com esses olhos porque nossos olhos culturais são sobre o corpo da mulher, principalmente sobre a preocupação de que ela não está ‘decente’ . Não sei o que é esse ‘decente’”, afirmou.

Para Eliane Maia, a única forma para mudar esse comportamento é a educação.

“É pela educação familiar e escolar, principalmente no processo escolar. Que a escola trabalhe com as questões de igualdade, igualdade de gênero. Que lá possa não ter diferenciações, que leve apontamentos para discussões sobre isso”, apontou a pesquisadora da UEM.

[31/05/2021] Jovem que recebeu carta anônima pedindo para que ela usasse 'roupas decentes' decide se mudar de prédio

Ana Paula Benatti diz que se mudou para não ter que passar por situações como a da carta anônima

A jovem Ana Paula Benatti, de 22 anos, que denunciou uma situação de constrangimento após ter recebido uma carta anônima pedindo para usar roupas “decentes” no condomínio residencial em Iguatemi, distrito de Maringá, resolveu mudar de endereço no último sábado (29).

Em suas redes sociais, Ana Paula comentou que precisaria se mudar para um casa para cuidar melhor dos cachorros dela, mas também disse que a decisão envolve buscar mais segurança e garantir que situações como a da carta anônima não se repitam.
 
Na noite de domingo (30), em alguns stories do Instagram, a jovem relatou outra situação desagradável envolvendo o condomínio residencial onde morava: segundo relato dela, alguém a excluiu do grupo de WhatsApp do prédio e depois vários moradores tiraram sarro dela, talvez imaginando que ela não veria mais as mensagens.
 
Como ela ainda não entregou o apartamento, Ana Paula se sentiu no direito de continuar no grupo no aplicativo de mensagens. Os administradores pediram desculpas e colocaram o contato dela novamente no grupo, de acordo com o relato dela na rede social.
 
Após boletim de ocorrência, o caso de Ana Paula Benatti segue na delegacia, que investiga o suposto autor ou autora da carta anônima.

Repercutiu

Após publicação no RIC Mais relatando o caso da jovem que se sentiu ameaçada em uma carta anônima com tons machistas, pedindo para que ela se vestisse decentemente no condomínio residencial, o caso repercutiu em todo o País, sendo também noticiado nos mais diferentes sites de notícias, rádios e emissoras de TV.

Com toda essa repercussão, atualmente Ana Paula Benatti recebe diversas mensagens de apoio de outras mulheres, que se identificaram com a história dela, afirmando que também já passaram pela mesma situação, sendo vítimas de atitudes machistas e até de violência doméstica.
 
O caso acontenceu no dia 7 de maio, quando ela encontrou uma carta debaixo de sua porta, em que um remetente anônimo pede para ela deixar de usar roupas curtas no espaço social do prédio.
 
Anexa ao Boletim de Ocorrências lavrado na 9ª Subdivisão Policial (SDP), em Maringá, no dia 11 de maio, a carta pede “pudor e decência de usar roupas adequadas das dependências do condomínio… a senhora não está tendo o respeito usando roupa vulgar”, consta.
 
Ainda conforme a carta, o vizinho disse ter se sentido incomodado por ser “homem e pai de família”, afirmando ainda ter sentido vergonha de sair com a filha dele no espaço social do prédio.
 
“Mude o jeito de se portar neste lugar ou vamos conversar com a dona do apartamento. Aqui não é zona, não”,
 
ameaça, ainda, o autor da carta anônima.
“Eu não sei o dia exato que o tal vizinho me viu, mas os dias que eu saí, estava de short de tecido e blusinha de alça. Isso é algum crime?”, questionou, à época, Ana Paula, que trabalha como escriturária em um hospital de Maringá e se mudou recentemente para o condomínio residencial localizado no distrito de Iguatemi.

 

https://g1.globo.com/ https://ricmais.com.br/

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