Segurança em condomínios
Algo factível?
Por Gabriel Karpat*
O assunto segurança em condomínios ainda desperta muito o interesse da mídia. Infelizmente, porém, as noticias não nos trazem informações que possam refletir um incentivo a práticas comuns de experiências positivas, que tenham dado resultado. Ao contrário, a sensação é a de que mais uma vez perdemos a corrida para a criminalidade.
Embora sejam reservados altos investimentos nas programações financeiras desses condomínios, inúmeras vezes, os resultados são questionáveis e tais despesas passam a ser consideradas inapropriadas. Vale destacar que esse fato acontece muitas vezes não pela ocorrência de eventos de maior gravidade, mas devido aos sistemas e procedimentos contratados não terem funcionado ou terem apresentado uma falha que eventualmente pudesse ocasioná-los. E, como consequência, tem-se a suspensão de todo esse investimento. Síndicos e gestores desse segmento constantemente se vêem nessa encruzilhada: o que deu errado? como proceder daqui para frente?
Antes de partir para a análise dos fatos, é importante considerar que estamos falando de quase 50% da população que vive em condomínios. Logo, tratando-se de condôminos, falamos de famílias, em especial da nossa família, o que torna a pergunta a seguir de extrema urgência de resposta: porque tantos gastos e tantas empresas especializadas não obtêm os resultados esperados?
No aspecto técnico, a padronização dos procedimentos torna mais fácil a ação dos aproveitadores, que passam a mapear com facilidade o seu raio de ação, quer seja em pequena ou grande escala, como arrastões em um prédio todo.
Sem grandes esforços, os bandidos hoje fazem suas escolhas e suas identificações através da internet pelo “google earth”. Equipamentos de alta tecnologia aplicados em edificações, muitas vezes desconsiderando sua estrutura básica, é outro aspecto técnico que auxilia mais a criminalidade do que a proteção aos moradores. Controles e câmeras instalados em guaritas que não dispõem de banheiros, onde o responsável deve abandonar o posto para fazer suas necessidades fisiológicas, são exemplos de erros comuns nos condomínios.
A infraestrutura deve ser a primeira questão a ser observada e, se não contemplada na construção, seguramente deve ser complementada de acordo com a avaliação e recomendação de especialistas que levem em conta não apenas a arquitetura, como também a funcionalidade. É sabido que equipamentos não substituem deficiência nas instalações físicas. Assim como só as instalações e proteções físicas não são soluções definitivas em termos de segurança patrimonial. Elas são complementares.
Não existe uma solução mágica. Buscam-se nos condomínios ações e investimentos que são programados com o objetivo de reduzir os riscos, em especial que dificulte ou iniba a ação dos assaltantes. Os passos devem ser programados e avaliados por etapas. Trata-se de um grande erro a implantação radical e total de sistemas de segurança em qualquer edificação que não tenha suas características observadas. Isso inclui a avaliação dos procedimentos dos moradores e de seus frequentadores, assim como da forma de atuação dos funcionários responsáveis pelo controle de acesso no condomínio.
A palavra, aliás, que simboliza a espinha dorsal do item segurança é procedimentos. Dos funcionários e, especialmente, dos moradores. Difícil acreditar, mas a rotina implementada e cobrada dos funcionários é muitas vezes prejudicada por condôminos “mal educados”, que julgam que sua condição de proprietário sobrepõe o cumprimento das normas pelo funcionário que é pago e treinado para essa finalidade.
De tal forma, o tema segurança só obterá melhores resultados se as questões que o cercam forem abordadas e compreendidas por todos que habitam naquela coletividade. Existem procedimentos que, mesmo que contrariem nossos desejos ou nos tire da zona de conforto, representa um grande passo na segurança comum. Não permitir o ingresso de entregadores no condomínio é um exemplo de procedimento a ser seguido. Caberá ao morador receber a encomenda na guarita através de passa volume. É uma ação que tira conforto, mas garante maior proteção.
Por fim, mas não menos importante, é o investimento que se faz com treinamento periódico dos funcionários. Tal item é componente básico da programação e deve ter seus gastos previstos em todos os orçamentos.
Para garantir a proteção ao condomínio, o investimento em segurança é imprescindível e deve ser realizado de modo continuado, avaliando-se passo a passo cada etapa. Deve contemplar estrutura, tecnologia e constante treinamento. Se junta a isso as ações de divulgação e conscientização, que também devem ser periodicamente programadas. Cartazes, circulares, e-mails e outras formas de comunicação devem complementar as assembleias costumeiramente de baixa frequência e extensas atas igualmente pouco lidas. O resultado de todo esse empenho será de proveito geral: um lugar mais seguro para se trabalhar e se viver.
(*) Gabriel Karpat, economista (PUC-SP), mediação e arbitragem (FGV), especialista em condomínios, autor de livros e diretor da GK administração de Bens.