Lilian Grasiela
Jaú – A quadrilha suspeita de participar de furtos a condomínios de luxo em Jaú, Bauru e algumas cidades do Paraná utilizava uma ferramenta na Internet que permite visualizar endereços em tempo real, por satélite, para localizar e escolher seus alvos. A informação foi repassada pela Polícia Civil de Jaú com base nos depoimentos dos envolvidos.
Ontem, Abraão Custódio Cardoso, preso no final de abril, em Itajaí (SC), junto com a ex-companheira Verônica Nascimento, mostrou aos policiais como entrou no condomínio Chácara Itaúna, onde duas casas foram furtadas em janeiro. Ela confessou ter levado o grupo de carro até as proximidades do condomínio em Jaú e Residencial Tívoli 1, em Bauru.
De acordo com o delegado titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Jaú, Edmilson Bataier, no caso do furto ao condomínio de Jaú, ocorrido em 22 de janeiro, além do casal, também foi confirmada a participação de Jéferson Cardoso dos Santos, preso no dia 11 de março, em Londrina, e considerado o cabeça da quadrilha.
As investigações apontaram que ele teria larga experiência na prática de rapel, atividade esportiva que usa algumas técnicas do alpinismo e através da qual o participante utiliza cordas e equipamentos para escalar paredões. Segundo o titular da DIG, esse conhecimento teria facilitado sua entrada nos condomínios.
Abraão, que em princípio negou ter participado do furto, acabou levando os policiais civis da DIG ontem até o local onde ele e Jéferson teriam sido deixados pela sua ex-mulher, na avenida Doutor Luciano Pacheco de Almeida Prado Neto, que dá acesso à vicinal José Maria Verdini.
Ele também indicou a estrada de terra por onde tiveram acesso ao muro dos fundos do condomínio e o ponto exato onde eles pularam para entrar no local. Bem vestidos, eles não despertaram a atenção de ninguém e puderam verificar com calma qual das casas estava vazia. Os dois invadiram duas residências. Em uma delas, não havia sinais de arrombamento.
Da primeira, pertencente a um comerciante de 68 anos, foram levadas duas armas de fogo, colares de pérolas, cordões, anéis, pulseiras, correntes e brincos de ouro, alianças de brilhante e rubi, R$ 15 mil e 5 mil dólares. De outra, onde mora uma aposentada, os ladrões levaram anéis, correntes, brincos e pingentes de ouro, relógios de pulso e câmera fotográfica digital.
O delegado conta que, enquanto a ação era executada, Verônica ficou aguardando os comparsas na Praça do Jarbas, próximo à entrada da cidade, no interior de um Ford Ka. Assim que eles terminaram o “serviço”, telefonaram para ela, que foi buscá-los no local onde eles haviam sido deixados.
Depois, os três seguiram para a residência de Jéferson, em Londrina, onde o valor “arrecadado” na noite foi dividido entre ele e o Abraão. Segundo o delegado, além dos três, fazem parte da quadrilha Éder Wilhis Nunes Pereira e a mulher de Jéferson, Dana Stéfani da Costa. Os dois foram os primeiros a serem presos em operação realizada no dia 10 de março, em Londrina.
Todos os cinco envolvidos, de acordo com Bataier, tiveram a prisão preventiva solicitada pela Polícia Civil e decretada pela Justiça. Eles vão responder por formação de quadrilha e furto qualificado. Ele ressalta que Verônica, que não tem antecedentes criminais, demonstrou arrependimento e está colaborando com as investigações desde o início. Ainda segundo o delegado, o receptador dos produtos furtados já foi identificado e deverá ser detido nos próximos dias.
Arrependimento
Em entrevista ao Jornal da Cidade, Verônica Nascimento mostrou-se arrependida, contou que tem uma filha de 7 anos para cuidar e alegou que foi “forçada” pelo ex-namorado, Abraão Custódio Cardoso, a levar ele e os outros integrantes da quadrilha para praticar os furtos ao condomínio Chácara Itaúna, em Jaú, e Residencial Tívoli 1, no dia 5 de março, sábado de Carnaval, em Bauru.
No dia do furto em Bauru, a mulher revelou que deixou o seu ex-namorado, Abraão, e os comparsas dele, Éder Wilhis Nunes Pereira e Jéferson Cardoso dos Santos, num posto de combustível próximo à linha férrea e ao Residencial Tívoli 1. “Eu fiquei um pouco no posto e depois eu fui em frente a um restaurante e fiquei ali aguardando, porque lá tinha mais movimento”, diz.
A ação dos assaltantes, segundo ela, durou cerca de três horas. Ela não soube informar quantas casas foram invadidas e o valor furtado. “Eles não diziam”, afirma. “Eles nem abriam a bolsa na minha presença, mas era dinheiro e joias”. Verônica também não soube precisar como eles entraram no local. “O que eles falavam é que entravam geralmente por ponto que não dava para a câmera pegar, mas não falavam se era pela frente ou pelos fundos”, revela.
De acordo com a mulher, depois do crime, eles retornaram para Londrina, onde se reuniram na casa do líder do grupo. “Eles ficavam na casa do Jéferson e viam com o que cada um ia ficar”, declara. “Eles não ficavam com nada, vendiam tudo”. Ela diz que, até onde ela sabe, nenhum morador de Bauru forneceu qualquer tipo de informação ao grupo que pudesse facilitar o furto. “O Jéferson pesquisava tudo na Internet”, afirma.
Quadrilha invadiu nove residências
No dia 5 de março, sábado de Carnaval, entre às 20h30 e meia-noite, nove residências foram invadidas no Residencial Tivoli 1, condomínio de alto luxo localizado na avenida José Vicente Aiello, na zona sul de Bauru. Dos imóveis, que estavam vazios no momento da invasão, foram levados grande quantia em dinheiro, aparelhos eletrônicos como notebooks e celulares, talões de cheques, joias e armas.
O que mais chamou a atenção da polícia e da população nessa ocorrência foi a ousadia dos bandidos, que conseguiram driblar um forte esquema de segurança composto por alarmes, cercas elétricas e de arame farpado, câmeras de monitoramento, muros altos e rondas periódicas sem serem vistos por ninguém. O caso também está sendo investigado pela DIG de Bauru, que não apresentou nenhuma novidade até o momento.
No dia 10 de março, em operação conjunta entre as Polícias Civis de Londrina (PR), São José do Rio Preto e Jaú, foram presos em Londrina Dana Stéfani da Costa, Éder Wilhis Nunes Pereira e Guerino Custódio Cardoso, solto após prestar depoimento. Em diversos endereços, foram apreendidos cerca de R$ 15 mil, duas caminhonetes (uma F-250 e uma XLT), carros (um Golf e um Marea), duas motocicletas, joias, cartões de crédito, eletrodomésticos, notebooks e aparelhos celulares.
Durante diligências entre as cidades de Londrina e Alvorada do Sul, Jéferson Cardoso dos Santos, marido de Dana, conseguiu fugir. Ele perdeu o controle do Golf que conduzia e se envolveu em um acidente, mas conseguiu se embrenhar em uma mata fechada, de onde acionou Abraão Custódio Cardoso e Verônica Nascimento. Houve nova perseguição, mas eles conseguiram furtar outra caminhonete e continuar a fuga.
No dia seguinte, 11 de março, Jéferson, que tem passagens anteriores por roubo a banco e foi descrito pela polícia como uma pessoa de alta periculosidade, foi preso em uma casa de veraneio no condomínio Riviera do Poente, em Alvorada do Sul (PR). Segundo a polícia, ele teria caminhado cerca de 25 quilômetros até chegar ao local. Com ele, foram apreendidos R$ 5 mil.
Em abril, após mais de um mês foragidos, Abraão Custódio Cardoso e Verônica Nascimento foram localizados e detidos em uma pousada na cidade de Itajaí (SC), onde tentavam conseguir documentos falsos para fugir. Na semana passada, eles foram trazidos para Jaú para prestar depoimento. Ontem, eles participaram da reconstituição do furto a um condomínio na cidade.