Síndica ameaçada
Conflito com moradores se deve à empresa de segurança
Três foram presas por invadir casa de síndica durante tumulto em residencial
Entregue em outubro, condomínio para onde foram remanescentes de favela enfrenta impasse
Três moradoras do Residencial Rui Pimentel I, no Jardim Centro-Oeste, em Campo Grande, foram presas nesta tarde, depois de confusão que começou quando grupo foi até a casa da síndica do condomínio de 124 casas exigir que ela deixe a função. Houve tumulto, equipe da Polícia Militar foi chamada pela síndica, decidiu conduzir as pessoas à Polícia Civil, uma delas se recusou e a situação ficou ainda mais complicada. Filmagem feita pela síndica mostra o momento, antes de a PM chegar, em que duas mulheres e um jovem se aproximam e entram à força na casa.
A síndica, identificada como Angélica de Lima, afirma ter sido agredida pelas moradoras, assim como o filho, que é autista. No vídeo gravado por ela, de dentro do imóvel, é possível ver o menino, fazendo uma refeição, e outra menina olhando pela janela. Fora, um grupo fala bastante alto, com vários palavrões, reclamando da atuação da responsável pela administração do residencial.
Fotos mostram o rosto e o braço do garoto riscados. O Campo Grande News vai preservar a foto que identifica o garoto e também esse trecho das imagens gravadas.
Qual o problema? Entregue em outubro pela Prefeitura de Campo Grande, o condomínio enfrenta impasse por causa da contratação de empresa responsável por instalar equipamentos de segurança. As famílias são remanescentes da favela Cidade de Deus.
Hoje, depois de irem na casa da síndica, que chamou a polícia alegando invasão de domícilio, os moradores afirmam que houve truculência da equipe militar. Do outro lado, os PMs alegam que precisaram fazer a “contenção” da mulher pois ela se jogou no chão e se recusava a entrar na viatura.
As prisões foram por violação de domícilio, lesão corporal, desobediência e desacato. O Campo Grande News conseguiu a identificação apenas de mulher que aparece em vídeo de 13 segundos, no chão. É a salgadeira Ivanise Arruda dos Santos, 34 anos. Ela se recusa a entrar na viatura, grita com o policial e depois aparece no chão, sendo puxada pelos cabelos por ele.
“No momento em que nós chegamos, já estavam falando alto, não obedeceram as ordens, aí começou um tumulto”, contou o cabo Gilson Aureliano, na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento à Comunidade) Cepol, no Bairro Tiradentes, para onde foram todos os envolvidos no tumulto.
Ele nega que tenha havido agressões. Diz ainda que a mulher apenas foi “contida” pelo colega de guarnição, um sargento não identificado.
Na delegacia, a moradora disse também que uma pessoa que filmava a situação teve o celular quebrado e jogado no chão. “A gente não quebrou, a gente apreendeu”, disse o PM. Segundo ele, é praxe apreender porque será usado como prova em investigação e a pessoa responsável pela filmagem fica como testemunha.
O advogado João Wilson de Araújo acompanhava o grupo de condôminos. Ele disse que sua atuação era em relação à suspeita de superfaturamento na contratação da DL Soluções pela síndica, mas diante da situação de hoje, foi acionado. Segundo ele, se as mulheres ficarem presas, vai atuar para tentar a liberdade delas.
Araújo afirmou que os moradores pagam R$ 55 por mês de taxa de condomínio, o que dá R$ 6,8 mil. “Mas já tem uma dívida de R$ 19 mil”, afirmou. A síndica estava na delegacia, mas não foi possível falar com ela, pois estava sendo elaborado o registro de ocorrência.
O setor de relações públicas da Polícia Militar informou que os moradores, se quiserem, podem fazer denúncia sobre o fato à Corregedoria da Corporação. "Quando o cidadão está descontente com a ação policial, solicitamos que faça o registro da reclamação junto à corregedoria da PMMS, rua Jose Gomes Domingos n°537, bairro Santa Fé, para que seja instaurado o devido procedimento administrativo."
Fonte: https://www.campograndenews.com.br