O que faremos com Walter?
MG: Peça teatral leva reunião de condomínio para o palco
Com elenco de peso, 'O que faremos com Walter?' debate etarismo no Teatro Municipal de Uberlândia
A peça, adaptação de um roteiro argentino, promete gargalhadas e reflexões para todas as idades. O g1 conversou com Grace Gianoukas e Leonardo Miggiorin a respeito da produção.
As situações amargas da vida, os encontros desajustados e o individualismo do ser humano são só uma parte do que "O que faremos com Walter?" trará para o palco do Teatro Municipal de Uberlândia nos dias 8, 9 e 10 de setembro.
O espetáculo, adaptação de um roteiro de mesmo título premiado na Argentina, anseia surpreender o público do Triângulo Mineiro ao abordar uma grande reunião de condomínio, que determinará o desenrolar da história do zelador Walter, que tem o futuro nas mãos dos condôminos.
Estrelada por um elenco de peso, a peça garante as grandes atuações de Grace Gianoukas, Flávio Galvão, Marcello Airoldi, Elias Andreato, Marianna Armellini, Fernando Vitor e Vívian Barabani.
O g1 conversou com Grace Gianoukas e Leonardo Miggiori, produtor do espetáculo. Confira!
Retratos e denúncias
"'Walter' é um espetáculo muito interessante. É um texto bem construído, uma comédia que retrata o que a gente vive hoje. A partir de uma reunião de condomínio o público observará o mundo, não só o Brasil, vemos como a nossa sociedade está dividida e muito individualista. As identificações com as personagens e com as situações no espetáculo são imediatas. Todo mundo conhece alguém daquele tipo que está sendo retratado ali", contou Grace Gianoukas.
Apesar de ser uma peça de roteiro original argentino, os conflitos representados no palco são universais: trata de pessoas individualistas, arrogantes e egoístas buscando tirar vantagem de uma situação que, de maneira alguma, deveria ser trabalhada em meio aos interesses pessoais, no caso, o destino de Walter.
Para Grace, o zelador do condomínio, Walter, é levado como uma forma de resolver, ou complicar, os dilemas individuais dos condôminos, o que acaba por gerar um sentimento de comicidade no público.
"A montagem de Jorge Farjalla, o diretor da peça, é muito interessante. Ele trabalha com a quarta parede e é como se a plateia estivesse assistindo com um certo distanciamento uma história que não lhe pertence. Mas o povo se identifica com todas aquelas situações e reviravoltas e ri muito", explica.
Nos mais de 40 anos de carreira como atriz, diretora e escritora, Grace é reconhecida por uma atuação ímpar na comédia cotidiana. Ela explica, contudo, que este papel se difere de inúmeros outros sucessos por diversos aspectos, entre eles, a direção de Farjalla e a discussão social presente na peça.
"A discussão do etarismo é importantíssima para a sociedade como um todo. Essa questão está na pauta das vanguardas há bastante tempo, porque vivemos no mundo de hoje um imediatismo, um culto ao consumidor jovem, ao sucesso de ocasião, ao ego, às bobagens... O etarismo vem dessa trilha, de onde tudo vem ficando muito vazio de conteúdo. O combate ao etarismo é um ato de inteligência e de sabedoria para as nossas próximas gerações. A gente fala muito, hoje em dia, sobre inclusão, mas poucos se aprofundam. Não podemos continuar desprezando o que é tradicional."
Apesar do tema do etarismo, o espetáculo é para a toda a família, especialmente por trazer debates que devem ser pensados por todas as idades.
"Vimos nos últimos anos a ascensão da ignorância, daquele que é o pior da classe, do que cola, o que desvaloriza a ciência, o pensamento lógico, a sabedoria. Tudo está nesse espetáculo posto para o público ver de fora e pensar em que lugar quer ocupar na sociedade", contou.
As diferenças entre Grace e a personagem, Beth, que ela alega ser egoísta, individualista, classicista e, especialmente, cruel.
"Gosto muito do espetáculo, apesar da minha personagem ser muito cruel. Mas interpretá-la é ótima, uma forma de me vingar das pessoas com quem eu cruzei que tem esses comportamentos absurdos. Toda minha atuação foi criada como uma forma de denunciar essas pessoas asquerosas. Como a 'rebelde velha' que eu sou".
Comédia de uma sociedade adoecida
Leonardo Miggiorin, que o grande público conhece pela presença no sucesso "Presença de Anita" (2001), é um dos responsáveis por trazer "O que faremos com Walter?" para o Brasil. Ele nos contou que em 2019 estava em Buenos Aires quando a sócia, Daniele Oliveira, ligou e pediu que fosse assistir a uma comédia que estava sendo muito bem recomendada pela crítica.
Foi amor à primeira vista. Leonardo se encantou pela história e ele, junto à Daniele, compraram os direitos do roteiro para poderem produzir o espetáculo no Brasil.
"A peça trata de uma questão social, que é a maneira como tratamos nossos velhos, nossos idosos. 'O que faremos com Walter?' traz os personagens revelando a verdadeira face, com os condôminos tecendo vários comentários, que geram um impacto, que gera outros impacto e a coisa vida uma bola de neve", contou.
Cheia de reviravoltas, para Leonardo, a peça se aproxima do público buscando um sentimento de injustiça por Walter. A plateia não aceita a forma com que o zelador é tratado e busca por vingança, mesmo rindo da situação, que beira à catástrofe.
"Existe um cunho político muito forte. A peça tem um viés artístico diante de uma sociedade adoecida, mas faremos comédia em cima disso, para que possamos de fato se aproximar do público."
A paixão pelo tema foi tamanho, que Leonardo, que também é formado em Psicologia e pós-graduando em Psicodrama, decidiu criar uma devolutiva para a sociedade acerca dos temas debatidos na peça. Ele tornou-se embaixador-guardião do Instituto Velho Amigo, entidade que combate a vulnerabilidade de idosos.
No caso da vinda para Uberlândia, por outro lado, não foi Leonardo, mas outro membro da equipe criativa que influenciou a vinda ao Teatro Municipal: Jorge Farjolla, o diretor da peça, se formou em Uberlândia no ano de 2004 em Licenciatura de Artes Cênicas, habilitação então oferecida no extinto curso de Educação Artística.
Além da proximidade de Jorge com a cidade, Grace, por exemplo, já esteve em Uberlândia outras cinco vezes, apresentando projetos distintos; Marcelo Airoldi acabou de passar pela cidade, em agosto, com 'Misery - Loucas Obsessão' e, na época, lembrou-se que também esteve aqui durante uma viagem na graduação na Escola de Arte Dramática na USP.
Ainda assim, Leonardo não é alheio aos palcos de Uberlândia.
"Eu atuei em Uberlândia em 'A Hora da Estrela', é uma cidade apaixonante. Organizada, tranquila e com pessoas muito gentis. Pude conhecer um pouco da natureza ao redor da cidade e foi sensacional! Foi o elenco todo para o mato, comemos em lugares incríveis! A cidade vem construindo cada vez mais essa plateia, essa cultura do teatro, porque a cultura nos traz uma identidade, um senso de memória, de construção de pensamentos", relatou.
Os ingressos para "O que faremos com Walter?" estão disponíveis para venda na internet.
Fonte: https://g1.globo.com/mg/triangulo-mineiro/noticia/2023/09/03/com-elenco-de-peso-o-que-faremos-com-walter-debate-etarismo-no-teatro-municipal-de-uberlandia.ghtml