Investigador tem crise nervosa e não comparece ao velório do filho
Fábio Monteiro morreu nesta segunda, 5, após ser baleado por PM. Pai da vítima chegou a ser liberado, mas depois foi impedido de ir ao velório.
O investigador José Carlos Chagas, internado após ser baleado na barriga por um PM durante uma briga de condomínio, teve uma crise nervosa no Hospital Metropolitano, em Ananindeua, onde está internado, ao saber que não poderia ir ao velório do filho Fábio Monteiro, de 21 anos, também baleado pelo PM na discussão. O velório ocorreu na noite desta segunda-feira (5), na Igreja dos Capuchinhos, bairro do Guamá, em Belém. O hospital havia aberto uma exceção para que Chagas saisse da unidade e comparesse ao velório. No entanto, a medida foi reavaliada e o investigador foi impedido de sair devido ao alto risco de contaminação dos ferimentos sofridos.
Fábio morreu após seis dias de internação no Metropolitano. Ele e o pai foram baleados na última quarta (30) quando chegavam ao condomínio onde moravam. De acordo com o hospital, Chagas gritou e xingou a equipe de saúde ao saber que não poderia ir ao velório. Ele teria exigido sair do local a qualquer custo. Segundo Paulo Arruda, sobrinho do investigador, o tio teria ficado revoltado por não ser liberado, e a família mandou reforço para ajudar a acalmá-lo. Ele não pode ser sedado devido aos medicamentos que está tomando.
A família tenta agora fazer com que Chagas participe do final do velório e acompanhe o enterro de Fábio, marcado para às 10h desta terça (6) em um cemitério particular de Marituba. De acordo com o hospital, até o momento, Chagas poderá sair para ir ao enterro, mas tudo depende de como o quadro clínico dele estará até terça, já que ele passou por uma cirurgia no estômago, perfurado pelo tiro.
Durante o velório, vizinhos e familiares ressaltaram que a vítima nunca teve qualquer problema de relacionamento no condomínio, e sequer conhecia o PM autor dos disparos. "Eles nem conheciam esse homem, nunca nem viram. Não dá pra entender essa violência", disse Angela Arruda, irmã de José Carlos e tia de Fábio.
Angela é assistente social, e foi a responsável por informar o investigador sobre a morte do filho. "Eu disse a ele (Chagas) que infelizmente aconteceu o pior, e desde então ele não aceitou mais nenhum tratamento, nenhuma medicação, não queria saber de nada, só queria saber do filho dele. Ele disse 'eu vou velar e enterrar o meu filho, e ninguém vai me segurar', mesmo com os médicos alertando que seria perigoso", relatou Angela.
Causa da morte de Fábio é mistério para os médicos
A equipe médica do Hospital Metropolitano suspeita que uma embolia pulmonar ou uma infecção podem ter causado a morte de Fábio Monteiro, que será identificada pelo Instituto Médico Legal (IML). "Não entendemos. Ele passou 60 horas evoluindo bem, e no sábado (3) ele teve falta de ar, por isso pensamos em embolia pulmonar. Mas fora isso, o exame de sangue não apontou infecção. A razão da morte é uma incógnita", disse Derval Leão, diretor técnico do Metropolitano.
Derval explicou ainda que a bala passou pelo abdômen de Fábio sem atingir o intestino. "O corpo não tinha lesão, apenas tinha hematoma, porque a perfuração foi extra abdominal. No investigador, a bala atingiu o estômago e fraturou o punho direito. Ele passou por cirurgia assim que foi hospitalizado e está com uma cirurgia no punho por fazer", contou o diretor. Segundo Leão, o paciente deve seguir para um hospital particular após ser constatada o fim da fase aguda dos ferimentos, um procedimento considerado normal para pacientes que possuem plano de saúde.
Segundo a equipe do Hospital Metropolitano, o investigador chegou a ser liberado pelo Hospital para comparecer ao velório do filho, mas deveria retornar à internação. Uma reavaliação feita no início da noite constatou o alto risco de infecção dos ferimentos, e Chagas foi convencido pela equipe médica a permanecer no hospital.
Entenda o caso
Segundo o Sindpol, o investigador e o filho dele foram baleados após uma discussão com o policial militar Ivair Dias de Oliveira, que mora no mesmo condomínio e assumiu a autoria dos disparos. Fábio levou dois tiros, e Chagas foi baleado quatro vezes. O policial estava detido desde a madrugada do dia 1º, mas foi liberado no dia seguinte por ordem da juíza Helen Bemerguy, que alegou falta de evidências.
Para o presidente do Sindicato dos Servidores Públicos da Polícia Civil do Estado do Pará (Sindpol), Rubens Teixeira, o houve um erro de avaliação por parte da juíza na liberação de Ivair de Oliveira. "O Sindpol não vai sossegar enquanto ele não estiver atrás das grades, que é o lugar dele", disse Rubens. O presidente do Sindpol relatou ainda que o acusado teria deixado o endereço onde residia na tarde desta segunda, e que este seria mais um motivo para sua prisão. "Ele cometeu uma dupla tentativa de homicídio, que hoje se tornou um homicídio e uma tentativa. A gente espera que o judiciário dê uma resposta", disse Teixeira.
O comportamento violento de Ivair de Oliveira é acusado por outros moradores do condomínio, como a técnica de enfermagem Sandra Souza. "Meu filho conversava com a namorada pelo celular e sorria. Ele (Ivair) agrediu meu filho dizendo que estava rindo dele. Meu filho perdeu o óculos de grau e o celular", contou Sandra. "Ele é o terror no condomínio, todo mundo tem medo dele", finalizou.
Fonte: http://g1.globo.com/
Matérias recomendadas