Trabalho no condomínio
Home office pode ser problema ou solução conjunta em São Paulo
Home office é o novo desafio dos condomínios
Uma nova questão passou a fazer parte do cotidiano - e das brigas - dos condomínios paulistanos. Cada vez mais profissionais liberais e pequenos empreendedores transformam o apartamento onde moram em escritório. O chamado home office, em muitos casos, altera a rotina interna dos condomínios e começa a levantar questionamentos sobre os limites e a pertinência de atividades comerciais em prédios residenciais.
'Os problemas mais comuns dos condomínios sempre foram cachorro, garagem e barulho. Agora, a essa lista incorporamos o home office', diz o advogado Márcio Rachkorsky, consultor jurídico de mais de 400 condomínios em São Paulo. 'Os hábitos dos paulistanos mudaram. E os prédios terão de aprender a lidar com a nova realidade.'
Geralmente quem trabalha em casa não anuncia isso pelos corredores do prédio. Mas os vizinhos percebem, principalmente se o movimento no apartamento é maior do que em outras unidades. Alguns recebem clientes, outros mercadorias num volume maior. 'As reclamações surgem porque são moradores que usam mais determinados serviços, como o porteiro e os mensageiros, e pagam a taxa administrativa padrão', diz Rachkorsky.
Formado em Arquitetura, Henrique Carvalho, de 31 anos, é um dos adeptos ao home office. Há três meses, ele deixou o emprego em um museu e começou a trabalhar no apartamento onde mora no Jabaquara, na zona sul da capital. Trata-se de um prédio pequeno de seis andares, com média de quatro unidades por pavimento.
Segurança
'Eu trabalho sozinho. Às vezes, no entanto, faço reuniões no meu apartamento', explica. Ele garante que o entra e sai de colaboradores e clientes não é grande. Mesmo assim, já há quem reclame do movimento. 'Não recebo mais visitas do que um apartamento onde moram adolescentes, que vivem recebendo a galera', justifica.
Angélica Arbex, gerente da Lello Condomínios- empresa que administra 1.200 prédios -, concorda com o argumento de Carvalho, mas lembra que o problema não é exatamente o volume de pessoas. 'Quando o profissional começa a receber clientes em casa, o que entra em jogo é a segurança do prédio. Nem o morador em questão tem como garantir quem está entrando.'
Novos tempos
Segundo pesquisa feita pelo sociólogo Roberto Gonzalez, da Universidade de Brasília (UnB), quatro em cada dez trabalhadores com carteira assinada perdem o emprego todos os anos. E metade dos empregos dura menos de dois anos.
O setor imobiliário já assimilou a tendência. Além da churrasqueira, do espaço gourmet, da academia e do espaço para animais, os novos empreendimentos costumam ser projetados com escritórios na área comum dos edifícios. São locais equipados com mesas, wireless e sofás - que podem ser alugados pelos moradores para eventuais reuniões de trabalho. 'Prédios antigos também estão discutindo a transformação de parte da área comum em escritório', diz Angélica. 'É uma maneira de assimilar as novas necessidades dos moradores. Além disso, o escritório comunitário, nos dias de hoje, valorizam o empreendimento.'
Esse é o projeto de um edifício residencial no Paraíso, zona sul de São Paulo, construído há 28 anos. Dos 13 apartamentos, três pertencem a moradores que trabalham em casa. Entre eles está o do síndico, Oscar Spessoto, de 70 anos, executivo de multinacional aposentado que hoje atua como consultor.
'Não atendo cliente em casa. Minhas reuniões são marcadas em cafés ou nas empresas que contratam meus serviços', diz o síndico, que tenta dar o exemplo. 'Mas um escritório comunitário, em uma cidade com trânsito caótico como São Paulo, faz todo o sentido.'
No térreo do prédio, há uma parte do hall reservada a assembleias do condomínio. Síndico e conselho estudam a possibilidade de transformá-la em home office. 'Prédios antigos têm apartamentos mais espaçosos que os novos, mas são pobres em infraestrutura', diz Spessoto. 'Assim como os moradores, as construções antigas também têm de se adaptar aos novos tempos.'
Fonte: www.msn.com.br