Condomínio é exemplo de autossustentabilidade
Implantar ações sustentáveis em um empreendimento não é nada fácil e requer investimento considerável. Imagine então desenvolver um condomínio autossustentável que, dentre outras ações, reutiliza água servida e garrafas plásticas para a construção civil! É isso que ocorre em um empreendimento que está sendo construído próximo ao Lago Azul, no município de Nísia Floresta, na Grande Natal. Toda a água que será utilizada no condomínio - ainda está em construção e deve ficar pronto apenas em julho de 2012 - é proveniente de um poço subterrâneo.
Além do tratamento de água, empreendimentoem Nísia Floresta terá lâmpadas de led e garrafas plásticas no lugar do tijoloComo na região não há ligação de esgoto, após ser utilizada, ela vai para uma estação de tratamento, que está sendo construída dentro do próprio empreendimento. Lá, ela é tratada e volta para as torneiras dos moradores, onde poderá ser usada para lavar carros, calçadas e na descarga de sanitários. Devido à grande quantidade de áreas permeáveis dentro do condomínio, depois de usada pela segunda vez, a água é absorvida pelo solo e alimenta os mananciais.
Além da água, o condomínio pretende economizar também energia, diminuindo os desperdícios com iluminação externa. Isso, porque todos os postes terão placas fotovoltaicas, alimentadas pela luz do sol. E não é só: terão também lâmpadas de led (que economizam energia) e sensor de presença, só sendo ligadas quando há alguém passando pelo local no momento. Outro ponto importante do condomínio autossustentável é a utilização de garrafas plásticas no lugar de tijolos. A opção é mais barata (as garrafas são conseguidas gratuitamente em restaurantes) e resistente, tendo maior durabilidade que a construída de maneira "convencional".
"Usamos essa opção na infraestrutura do condomínio, mas os moradores também vão poder usá-las para construir suas casas. São necessárias cerca de 5 mil garrafas para uma casa inteira", afirmou Clésio Breseghello, sócio diretor do empreendimento.
Além disso, como não haverá a utilização de asfalto nas ruas dentro do condomínio, alagamentos estão descartados. Uma regra interna do empreendimento também proíbe o corte de árvores nativas - muitas delas, frutíferas - e obriga uma distância maior de construção das casas e da pista, facilitando a circulação do ar e, consequentemente, economizando em energia elétrica, usada em ventiladores e condicionadores de ar.
O condomínio autossustentável, porém, ainda representa um investimento consideravelmente maior do que os demais da região - onde outros sete estão sendo construídos. Um lote nele custa em torno de 25% a mais que os outros. O preço é consequência do valor das tecnologias utilizadas e no tempo da construção: cerca de R$ 3,3 milhões em dois anos de obra - em média, se investe R$ 1,5 milhão na construção de um condomínio, que demora cerca de um ano para ficar pronto.
"Apesar disso, essas ações sustentáveis são revertidas na economia com taxas de condomínio. Nesse empreendimento, se gasta menos energia e menos água, por exemplo", explica Breseghello. Além disso, segundo ele, o condomínio vai ter diversas ações que ajudarão no abatimento e na manutenção da sustentabilidade do empreendimento. "As podas das árvores, por exemplo, serão todas responsabilidade do condomínio e os galhos cortados vão ser transformados em mudas, posteriormente vendidas. O dinheiro resultante é reinvestido na manutenção dos jardins, cortando gastos".
Por isso, segundo Breseghello, apesar de ainda não existir uma "procura" por empreendimentos como os dele, há sim uma aceitação muito grande. "Para se ter uma ideia, ainda não começamos uma campanha forte de divulgação e já vendemos mais de 50% dos lotes. Ao verem a proposta do condomínio, as pessoas consideram sim, como muito importante esse contato com a natureza e a preservação ambiental que o empreendimento se propõe a fazer", afirmou o empreendedor.
Bate-papo: Carla Grace - engenheira ambiental e professora da UnP
Tem se mostrado uma tendência os empreendimentos novos já com estações de tratamento de esgoto?
Sim. Empreendimentos que já têm ETE estão mesmo aumentando. Quando os órgãos públicos não correspondem, promovendo o saneamento básico dos locais, o jeito é o setor privado agir e assim está acontecendo. Já existe tecnologia para esse tratamento de forma mais acessível e se mostra mesmo uma tendência na construção civil.
Os empreendimentos estão usando bem esse perfil de preocupação ambiental na hora da venda?
Infelizmente, ainda não. O que percebemos é que muitos empreendimentos não estão usando o fato de ter essa preocupação ambiental de maneira positiva. A preocupação ainda é maior em mostrar o tipo de cerâmica utilizada e não que é um empreendimento que não polui o ambiente.
Então, é viável a instalação de uma ETE em novos empreendimentos?
Em relação ao custo/benefício, sim. O problema é que tem muita gente que olha só em relação ao custo, acha muito caro e pronto. No entanto, é preciso entender que aquele investimento é eterno, que o benefício que ele está dando ao meio ambiente é muito grande, visto que está diminuindo o nível de contaminação da água, principal questão ambiental de hoje.
A legislação brasileira é moderna em relação à obrigatoriedade de empreendimentos com ETE?
Vejo que ela é moderna sim, mas não muito atuante. O trabalho de fiscalização deveria ser melhor gerenciada, observando não só se há ETE, como também se ela tem funcionado corretamente. É preciso informar ao condômino da necessidade de manutenção da estação de tratamento para que ela não funcione apenas como um depósito de esgoto. É preciso mais esclarecimento e fiscalização nesse ponto.
E sobre o reuso de água?
A reutilização de água ainda não tem sido feita em um número alto no Brasil. Em Natal, não é diferente. Além disso, no país ainda não há padrões para a reutilização da água e é preciso importar os padrões europeus, que já tem isso de maneira mais definida. Por isso, a reutilização ainda deve ser feita com cautela e a fiscalização também.
CICLO DA VIDA
Principais características de um empreendimento autossustentável
- Priorizar terrenos já degradados;
- Respeitar a legislação local quanto a áreas de proteção ambiental;
- Uso de vegetação para regular a temperatura do entorno;
- Aproveitamento da topografia;
- Materiais locais com propriedades térmicas adequadas ao clima;
- Materiais de construção de baixo consumo energético, reutilizados, reciclados ou recicláveis;
- Escolha de materiais considerando o conforto térmico, acústico e lumínico;
- Uso de materiais certificados;
- Sistemas de ventilação e iluminação natural;
- Energias renováveis, co-geração e outras tecnologias;
- Lâmpadas e luminárias eficientes;
- Controle de presença;
- Redução de consumo e reuso da água;
- Filtragem e reuso de águas servidas.
Fonte: http://tribunadonorte.com.br
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