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Administração de conflitos e brigas

Fofoca em condomínio

Prática pode acabar com a harmonia do condomínio. Veja como o síndico pode controlar isso

04/07/19 03:39 - Atualizado há 5 anos
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Prática pode acabar com a harmonia do condomínio. Veja como o síndico pode controlar isso

A portaria e os espaços comuns do condomínio  já foram um terreno fértil para falar da vida alheia. Os locais onde moradores e funcionários observavam o entra-e-sai, quem entra, quem sai (e com quem), foram substituídos pelo ambiente virtual. Hoje, as redes sociais, especialmente o WhatsApp, oferecem terreno ainda mais fértil para essa prática tão negativa. 

O comentário mais “inocente” sobre a atuação do síndico, ou sobre o vizinho que fez uma festa até altas horas, pode render histórias corrosivas. Mesmo que nunca tenha participado diretamente, com certeza você já ouviu algum desses comentários. Ou deve ter sido alvo de palavras maldosas

“E agora, tudo ficou mais fácil por conta das redes sociais. As próprias pessoas que são alvo da fofoca contribuem para que isso aconteça se expondo em demasia. Isso é um prato cheio para a fofoca”, comenta o advogado e síndico profissional Marcio Rachkorsky. 

O fato é que a arte de fazer fofoca é tão antiga quanto a existência do próprio homem. Muita gente até acha o falatório engraçado. No condomínio, especialmente, está longe de ser algo divertido

O leva-e-traz é uma prática tóxica

Ao contrário, um lugar que, por princípio, está organizado para a vida em comunidade, pode ter a paz minada pela fofoca. O componente emocional dos “comentários” entre vizinhos torna a situação ainda mais complicada.

“Esse ruído na comunicação instaura um clima de insegurança e pode causar diversos atritos entre os próprios condôminos. Fofoca nunca ajuda e só denigre o patrimônio daqueles que, justamente, propagam esses ruídos”, afirma Natachy Petrini, síndica profissional. 

Geralmente, os ruídos surgem de coisas corriqueiras, do dia a dia. Mas essa mensagem vai se espalhando e crescendo. É o velho ditado: “quem conta um conto aumenta um ponto”. 

“Infelizmente, alguns funcionários contribuem para isso. Muitas vezes, o porteiro é fofoqueiro, o zelador é fofoqueiro; e aí, nossa senhora! A coisa se alastra com muito mais rapidez”, consta Rachkorsky. 

De onde vem o falatório no condomínio

falatorio

Em décadas passadas, a portaria era o grande foco do falatório. Continua sendo e dá para entender. Afinal de contas, é local de passagem de moradores e funcionários; onde se deixam recados e, eventualmente, se trocam comentários. 

Hoje, porém, a portaria divide a posição com o ambiente das redes sociais. A maior fonte de fofoca, concordam os especialistas, é o WhatsApp

“As pessoas têm a percepção de que, por estarem atrás da tela de um celular ou computador, podem afirmar inverdades, disseminar dúvidas com relação à gestão ou falar mal dos vizinhos, caluniar o síndico. E sem que haja qualquer consequência. O que não é verdade”, analisa Natachy.

Já pessoalmente, ela acrescenta, o comportamento costuma ser atenuado, mais educado e cuidadoso.

As causas mais comuns da fofoca entre vizinhos

Para Carina Abud Alvarenga, especialista em Comunicação Não-Violenta, se pensarmos no porquê das fofocas em Condomínio e em seu conteúdo, veremos que muitas delas se originam de necessidades decorrentes dos próprios disseminadores. 

Alguém que gostaria de ser tratado com mais respeito pelo vizinho do apartamento de cima e, por isso não acontecer, procura defeitos e fantasia sobre a vida daquela pessoa: 

“Fulana é amarga e abandonada, e ainda chega todo dia tarde da noite. Aposto que nem os filhos aguentam seu mau-humor e, por isso, ela precisa aparecer, fazendo aquele barulho infernal com o salto do sapato na minha cabeça”. 

Em algumas ocasiões, acrescenta Carina, a fofoca pode vir também da dificuldade de conseguir se colocar no lugar do outro, e partir para o ataque como forma de “defesa”

No final das contas, os especialistas concordam que o alvo mais comum das fofocas ainda é o próprio síndico. Muito difícil agradar a todos, ainda mais num ambiente em que cada morador se sente meio dono da verdade.

“Infelizmente, tem sido comum moradores afirmarem inverdades contra síndicos. Por outro lado, a jurisprudência tem se mostrado efetiva e coerente, responsabilizando aqueles que faltam com a verdade, ao espalharem fofocas de cunho calunioso”, informa Natachy.

O que fazer para combater as fofocas em condomínios

  • Com os funcionários: Orientar a equipe a não participar de falatórios é o primeiro passo. É impossível impedir, mas dá para minimizar bem com um bate-papo claro e, eventualmente, com uma punição para quem comprovadamente participar de algum boato ou fofoca envolvendo moradores.
  • Com os moradores: é trabalho de formiguinha mesmo – de conscientização, debates sobre o tema a todo instante. E sempre reforçar que existe um espaço oficial para comentários sobre o condomínio. “Passar essas mensagens nas assembleias é uma boa estratégia”, diz Rachkorsky.  

(Veja Cartazes para Funcionários e Moradores ao final da matéria).

Para evitar que a fofoca se dissemine, oriente o condomínio a sempre procurar os canais oficiais de comunicação: síndico, administradora ou a parte envolvida na fofoca – principalmente em caso de dúvida. 

Aferir a veracidade do que é dito – ou seja, checar o fato antes passar adiante um boato –, evita desconforto, desgaste entre os envolvidos e até ações judiciais. 

“O que podemos fazer é manter uma comunicação efetiva, atender a todas as dúvidas, dirimir inseguranças”, orienta Natachy. 

Os canais oficiais devem ser sempre utilizados e, a depender da gravidade da fofoca e das consequências do que foi dito, procurar os meios legais para esclarecimento dos fatos.

Como agir quando a fofoca vira um problema no condomínio

Assim, antes de agir, é importante identificar o tema ou a situação que gerou a fofoca para tomar a decisão correta. Veja quatro exemplos mais comuns: 

  1. Se a fofoca é um tema privado entre moradores, orientamos que os mesmos busquem solução amigável, a partir da conciliação;
  2. Caso envolva assunto de ordem coletiva, o mais indicado é conciliar e esclarecer os fatos por meio dos canais oficiais de comunicação; 
  3. Se a fofoca extrapolar o limite da razoabilidade, a assembleia pode ser convocada; 
  4. A vítima do “ataque” pode procurar a justiça para exigir reparação, em caso de calúnia ou difamação. 

“No caso do síndico, que pode inclusive ser alvo de muitas dessas fofocas, a comunicação precisa ser transparente e motivada, para que não haja margem de dúvidas e interpretações desrespeitosas”, diz Carina.  

Fofocas no WhatsApp do condomínio. Como agir? 

grupo whatsapp

Sem dúvida, os grupos no WhatsApp facilitam muito a comunicação entre pessoas ligadas pelo trabalho, pelos laços familiares ou de amizade. Também facilitam a comunicação no condomínio. Mas, se usado com malícia, um grupo pode ser um disseminador de boatos e fofoca. Veja algumas medidas preventivas: 

  • Crie regras de uso e convivência no grupo, por exemplo, proibindo ofensas e palavras agressivas; além de postagens que fujam aos assuntos diretamente ligados ao condomínio;
  • Como síndico e administrador do grupo, interfira em qualquer desentendimento entre moradores. Seja um moderador e, principalmente, um pacificador;
  • Se notar comentários maldosos sobre sua gestão, esclareça imediatamente a dúvida levantada;
  • Evite esticar assuntos delicados no grupo. Chame os envolvidos na conversa privada e, se necessário, convide-os para uma conversa presencial.

Leia também as matérias: Como usar o WhatsApp na gestão do condomínio e Danos morais em grupos de WhatsApp.

O que fazer com o morador que fofoca de tudo, e o tempo todo

Em todo condomínio – ou, em quase todo – tem aquele morador que adora falar mal dos vizinhos, do síndico e se envolver em falatórios com funcionários. Quase como uma laranja podre no meio de uma fruteira sadia, se esse comportamento não for minimamente neutralizado, há grandes riscos de contaminar todo o grupo.  

Como é impossível controlar esse impulso, que infelizmente é comum em algumas pessoas, o melhor jeito é procurar se antecipar ao menor sinal de que um ruído pode virar fofoca.

“Ter uma noção mais aprofundada do contexto de cada um e do porquê a pessoa está agindo daquela forma, pode ajudar muito a contornar fofocas já presentes no dia a dia condominial”, aconselha Carina.

Além desse olhar atento, como já foi dito, é fundamental reforçar periodicamente os avisos quanto a usar os meios oficiais do condomínio para tirar dúvidas e fazer críticas. 

Quando é necessário convocar uma Assembleia

assembleia

Se o falatório sair do controle, o síndico precisa agir rapidamente e convocar uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE). 

“O limite é esse: quando acirra os ânimos e põe em risco a idoneidade ou a honra de alguém, e entra no campo do crime, da difamação, da calúnia, essa é a hora de convocar uma AGE”, aponta Rachkorsky.

Difamação, calúnia, injúria ou falsa imputação de crime

Quando, de fato, ocorrer um desses casos, além da assembleia, o advogado indica fazer um boletim de ocorrência, uma queixa-crime e levar o caso para a esfera criminal. E, eventualmente, seguir para a esfera civil pedindo uma indenização por dano moral

“Embora seja caso a caso, é altamente recomendável que se adote medidas criminais, quando a coisa deixa de ser uma fofoca e vira um crime”, recomenda Rachkorsky. 

Transparência é o melhor antídoto anti-fofoca

Em qualquer ambiente, seja no condominial, no corporativo ou mesmo familiar, sabemos que pessoas adoram um leva-e-traz. Não à toa, as crianças brincavam de telefone sem fio. 

Em todos os casos, o mais poderoso antídoto anti-fofoca ainda é a transparência. Impedir que ocorra, é uma missão inglória. Mas reduzir os motivos para que ela comece, é possível. 

Na gestão do síndico, algumas posturas devem ser permanentes, entre elas, estar sempre aberto ao diálogo; reforçar comunicados pelas áreas comuns; estar presente na vida do condomínio; permitir o acesso dos moradores às finanças do condomínio. 

E, antes de se desanimar frente às situações de fofocas, pense no quanto é importante limpar os ruídos da comunicação para manter as relações sempre saudáveis. Assim, você fará a sua parte.

Cartazes de conscientização para funcionários e moradores

 

Fontes consultadas: Marcio Rachkorsky (advogado e síndico profissional); Natachy Petrini (síndica profissional) e Carina Abud Alvarenga (especialista em Comunicação Não-Violenta).

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